Bloomberg Línea (Buenos Aires) — A economia argentina desempenhou um papel central nos debates eleitorais deste ano. Diante de uma inflação galopante, fortes tensões cambiais com um controle de câmbio reforçado e a escassez de reservas internacionais, não surpreende que a atenção se volte para as propostas econômicas de cada candidato.
A Bloomberg Línea revisou as principais medidas propostas pelos candidatos com mais chances de chegar à Presidência do país a partir de 10 de dezembro. Veja a seguir:
Quais são as propostas de Sergio Massa
O caso de Sergio Massa tem a particularidade de que ele ainda exerce o cargo de ministro da Economia. Isso implica que, embora não tenha divulgado detalhes de um esquema específico do que faria em um eventual governo, nem tenha dado muitas pistas sobre quem seria seu ministro da Economia, ele sinaliza desde que assumiu o Palácio de Hacienda: “Equilíbrio fiscal, superávit comercial, competitividade cambial e instrumentos do Estado para o desenvolvimento com inclusão. Essas são minhas quatro premissas”, disse quando assumiu em agosto de 2022.
Massa até afirmou que, ao assumir, implementou “um programa de estabilização argentino” e destacou que a meta fiscal de acumulação de reservas foi superada, em um contexto em que se ordenou “o que parecia um navio à deriva”.
No entanto, em 2023, o governo argentino falhou em praticamente todas as metas acordadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso inclui o objetivo de acumulação de reservas e a meta fiscal nos primeiros dois trimestres do ano, bem como o financiamento monetário no segundo trimestre.
No auge da campanha, a porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Julie Kozack, criticou as medidas adotadas por Sergio Massa e alertou que “exacerba as dificuldades da Argentina”.
Após as eleições primárias, Massa confirmou uma desvalorização de 22% no dólar oficial, que, segundo promessas da equipe econômica, permanecerá estável em 350 pesos até 15 de novembro.
Paralelamente, ele implementou operações nos últimos dias para conter as operações do “dólar blue”, que é negociado no mercado ilegal do país.
Após as modificações no imposto sobre ganhos, Massa antecipou que, em um eventual mandato, buscará que o programa “PreViaje” seja transformado em lei. Isso porque, segundo o chefe do Palácio de Hacienda, nestas eleições “estamos discutindo qual é o papel do Estado”.
“Muitos têm o direito de ficar zangados e até frustrados. Mas temos que ter a grandeza de pedir desculpas por aquelas coisas que não foram alcançadas”, afirmou em um de seus atos.
Além disso, ele propôs um governo de “unidade nacional”. “Se em 10 de dezembro me tocar começar a presidir a Argentina, ninguém deve se surpreender que haja pessoas de outras forças políticas integrando nosso governo. Vou convocar um governo de unidade nacional. Não tenho medo de compartilhar com aqueles que pensam de forma diferente, porque a Argentina é de todos”, argumentou.
Quais são as propostas de Javier Milei
O pré-candidato presidencial pela La Libertad Avanza, Javier Milei, apresenta uma plataforma eleitoral com não menos de 60 propostas contendo medidas econômicas que geraram um intenso debate político na Argentina.
Entre elas, está a ideia de dolarização total da economia, o que constitui uma medida radical que, de acordo com o libertário, visa estabilizar o país e pôr fim a uma inflação de três dígitos.
A ideia de dolarizar a economia recebeu críticas repetidas nas últimas semanas dentro e fora do país. O banco americano Goldman Sachs advertiu que “a dolarização tem custos e desvantagens, e as condições prévias para uma adoção bem-sucedida são exigentes”.
Por sua vez, o banco britânico Barclays afirmou: “As propostas de dolarizar a economia sem o nível de ativos no Banco Central para respaldar tal plano aumentam os riscos de uma aceleração da inflação”.
Os questionamentos não vieram apenas do exterior: a consultoria 1816 afirmou que, se a dolarização fosse adotada, os preços em moeda forte subiriam mais rapidamente do que aconteceu no Equador duas décadas atrás, quando o país sul-americano abandonou sua moeda, o sucre.
Em um eventual mandato, Milei buscaria aplicar reformas trabalhistas e privatizações, além de reduzir as contribuições patronais e substituir as indenizações por demissões sem justa causa por um “sistema de seguro desemprego”.
A plataforma de Milei também inclui a eliminação progressiva dos programas sociais e do sistema de repartição federal, bem como a redução dos gastos públicos e uma reforma tributária para reduzir impostos. A redução do Estado e a diminuição do número de ministérios ocorreriam principalmente por meio de um programa de aposentadoria voluntária.
De acordo com o documento de 13 páginas intitulado “Bases de ação política e plataforma eleitoral nacional”, também se prevê a eliminação do Banco Central e a remoção do controle cambial. O pré-candidato propõe ainda a “competição de moedas que permita aos cidadãos escolher livremente o sistema monetário ou a dolarização da economia”.
Quais são as propostas de Patricia Bullrich
No início de setembro, a candidata da Juntos por el Cambio, Patricia Bullrich, apresentou seu plano de governo por meio de um documento que detalha alguns dos principais pontos, caso chegue à Casa Rosada em 10 de dezembro.
O trabalho se intitula “Um país ordenado” e contém 22 pontos centrais que abrangem política econômica, produção, agroindústria, energia, mineração, turismo, infraestrutura e habitação, anticorrupção, reforma do Estado, segurança, defesa, justiça, política externa, políticas trabalhistas, mulheres, educação, políticas sociais, saúde, meio ambiente, cultura, esportes e jovens.
Bullrich acredita que é necessário “reordenar a economia para acabar com a inflação” e implementar reformas que “mudem os incentivos econômicos, restaurem a solvência fiscal e gradualmente reconstruam a credibilidade”, como ela disse aos empresários mais influentes da Argentina em uma cúpula realizada no sul do país.
Nesse sentido, ela afirmou que, em um eventual governo sob sua liderança, o controle cambial será eliminado e haverá uma “descontaminação tributária”. Referindo-se à complexa situação cambial do país, ela rejeita a dolarização, como propõe seu rival, Javier Milei: “O bimonetarismo é um sistema muito melhor para a Argentina do que a dolarização”.
No documento com 22 pontos, também está a promessa de garantir a autonomia do Banco Central, com a proibição de financiamento ao governo, e que suas autoridades sejam designadas pelo Congresso, com mandatos que não coincidam com o período presidencial. O programa também inclui um foco na responsabilidade fiscal, com um déficit zero imediato, pois, conforme afirma o trabalho, “sem isso, a autonomia do Banco Central não é crível”.
Luciano Laspina, economista que trabalha em estreita colaboração com Bullrich, sugeriu a possibilidade de buscar um novo empréstimo do FMI. Ao afirmar que o Banco Central está “quebrado”, ele opinou: “Seria ideal ter algum tipo de extintor para evitar corridas cambiais sem sentido”.
Bullrich, considerada a candidata pró-negócios pela coalizão opositora, foi a única candidata que confirmou um eventual ministro da Economia em caso de vitória nas eleições, indicando Carlos Melconian, que assegurou que o peso e o dólar coexistirão se a Juntos por el Cambio vencer as eleições.
No Bloomberg Economic Summit Argentina em Buenos Aires, o economista afirmou: “Haverá um regime cambial complementar que será gradual e levará em conta a taxa de inflação”. Além disso, enfatizou: “Haverá uma política macroprudencial rigorosa”, enquanto destacou que a administração Bullrich tentará reduzir os gastos públicos em 4% do produto interno bruto.
Em relação à dolarização, ela reiterou recentemente, diante de empresários no Coloquio de IDEA: “A factibilidade é zero”.
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