Argentina está perto de obter empréstimo de US$ 20 bilhões em acordo com o FMI

Autoridades do país, liderado por Javier Milei, e do fundo chegaram a um acordo que pode abrir caminho para o fim dos controles cambiais; transação ainda passará por votação final do FMI

Javier Milei
Por Patrick Gillespie - Manuela Tobias - Kevin Simauchi
09 de Abril, 2025 | 01:12 PM

Bloomberg — A Argentina chegou a um acordo com a equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI), um passo importante antes que a instituição vote oficialmente em um novo acordo de US$ 20 bilhões para o país.

O FMI anunciou o marco na terça-feira (8) sem fornecer detalhes, incluindo o valor que a Argentina receberá antecipadamente ou como o presidente Javier Milei planeja desfazer os controles cambiais.

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Ambos os lados divulgaram anteriormente o valor do programa, que seria o terceiro da Argentina desde 2018.

Espera-se que os membros do conselho executivo do FMI com sede em Washington votem o acordo na sexta-feira, informou a Bloomberg News anteriormente.

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O acordo de 48 meses, se aprovado pelo conselho, deverá dar às autoridades argentinas o dinheiro tão necessário para sustentar o peso e começar a remover os controles de moeda e capital.

O primeiro desembolso do fundo deve dar a Milei espaço para respirar e possivelmente eliminar esses controles até o final do ano, um prazo que ele mesmo definiu.

Oficialmente, a Argentina planeja usar o financiamento do FMI para pagar as dívidas que o Tesouro do país tem com o banco central.

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O financiamento também será destinado aos vencimentos do principal que o governo deve pagar ao FMI nos próximos quatro anos do programa anterior que começou em 2022, de acordo com um decreto publicado em 10 de março.

Os negociadores de Milei dizem que querem pelo menos 40% - ou US$ 8 bilhões - do programa adiantado, já que o primeiro desembolso está sendo observado de perto pelos investidores.

O conselho realizou reuniões informais para discutir os principais detalhes do empréstimo, inclusive o valor do pagamento inicial.

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O chamado Extended Fund Facility será um passo fundamental no esforço de Milei para trazer a Argentina de volta aos mercados de capitais internacionais após um default soberano de seus antecessores em 2020, quando a pandemia aprofundou uma crise econômica em curso.

Isso também validará a estratégia do presidente de se alinhar com Donald Trump, já que os EUA são o maior acionista do FMI.

Um novo acordo marcará o 23º programa do FMI para a Argentina, em um relacionamento conturbado que se estende por décadas.

Os dois programas anteriores não conseguiram estabilizar a Argentina, pois os erros de política, a comunicação deficiente e as eleições presidenciais fizeram com que o país oscilasse da direita para a esquerda e de volta para a direita.

Sua economia entrou em colapso em 2001, quando o FMI decidiu não continuar a dar mais dinheiro ao país em meio a uma crise financeira, provocando protestos violentos em Buenos Aires e uma corrida aos bancos em todo o país.

Sob o comando de Milei, as negociações ficaram tensas durante seu primeiro ano no cargo, mesmo quando a liderança do FMI elogiou os cortes de gastos de seu governo que impediram os déficits crônicos que estavam na raiz das muitas crises da Argentina.

O presidente criticou publicamente o Diretor do Hemisfério Ocidental do FMI, Rodrigo Valdes, que decidiu se afastar das negociações no ano passado.

Controles monetários

As conversações também se arrastaram devido a pontos de vista divergentes sobre as políticas monetárias de Milei.

A Argentina controlou sua taxa de câmbio, uma medida que está ajudando a desacelerar a inflação e a manter os altos índices de aprovação do presidente, mas também está drenando as já escassas reservas estrangeiras.

As autoridades do FMI pediram ao governo que afrouxasse o controle sobre a moeda durante o primeiro ano de mandato de Milei.

Os investidores também alertam que os controles correm o risco de forçar outra desvalorização abrupta, já que os mercados consideram o peso supervalorizado.

Milei e o ministro da Economia, Luis Caputo, que liderou as negociações da Argentina com o FMI, rejeitam as críticas de que o peso está muito forte.

Em meio à luta para fechar o acordo, que Caputo disse repetidamente que ele seria finalizado antes do final de abril, Milei dobrou seu esforço para se aproximar de Trump.

Na semana passada, o líder argentino viajou para a Flórida na esperança de encontrar o presidente dos EUA em seu resort em Mar-a-Lago, mas voltou para casa de mãos vazias.

Enquanto isso, o enviado especial de Trump para a América Latina, Mauricio Claver-Carone, pressionou publicamente Milei a encerrar a linha de swap cambial de US$ 18 bilhões da Argentina com a China, sua principal fonte de reservas estrangeiras.

O governo chinês rebateu durante uma coletiva de imprensa na terça-feira, acusando o governo dos EUA de tentar criar uma barreira entre Pequim e a região.

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