Argentina começa a operar gasoduto em Vaca Muerta, de olho no BNDES

Primeiro trecho leva gás a Buenos Aires e trará economia de US$ 1,7 bilhão para a Argentina só neste ano. País quer expandir gasoduto com financiamento do Brasil

produção deve atingir pico de 1,2 milhão de barris de óleo equivalente ao dia em 2033
Por Patrick Gillespie - Redação Brasil
21 de Junho, 2023 | 01:58 PM

Bloomberg — A Argentina começou a preencher com gás o gasoduto de “Vaca Muerta” nesta terça-feira (20), marcando uma façanha de infraestrutura e uma vitória política que pode fazer o país economizar bilhões de dólares em importações de energia, em meio a uma grave escassez da moeda.

Funcionários do governo e líderes empresariais comemoraram o início do preenchimento do gasoduto que transporta gás de xisto na província de Neuquén nesta terça.

Nomeado em homenagem ao ex-presidente Néstor Kirchner, ele se estende por 573 quilômetros da remota região na Patagônia até as cidades e centros industriais da Argentina no leste, na região de Buenos Aires.

O preenchimento do gasoduto levará cerca de 20 dias para ser concluído. Apenas depois disso o gás chegará à ponta final em Buenos Aires. O governo projeta que o gasoduto significará a economia de US$ 1,7 bilhão para a Argentina em importações de gás neste ano e outros US$ 4 bilhões no ano que vem.

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Essa é apenas a primeira parte do gasoduto a ser entregue. Uma das grandes ambições da Argentina é contar com crédito a juros mais baixos do banco estatal brasileiro BNDES para expandi-lo até a província de Santa Fé, onde já existe uma ligação de gás com a cidade de Uruguaiana, no extremo sul do Brasil. Assim, a Argentina conseguiria exportar gás para o Brasil.

Em fevereiro, a secretária de Energia do país, Flavia Royón, disse que recursos do banco iriam bancar parte da obra. Apesar de o BNDES ter informado à época que ainda não recebera um pedido formal de empréstimo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse apoiar a ideia. O custo alto para o banco brasileiro, porém, poderia ser um entrave. A previsão é que a segunda parte da obra custe cerca de US$ 700 milhões.

Uma das possibilidade levantadas à época é de que o BNDES financie apenas empresas brasileiras que exportariam materiais para a Argentina fazer a obra. O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também ressaltaram que a própria iniciativa privada brasileira pode ter a intenção de financiar a segunda parte da obra.

Estima-se que a produção do campo de Vaca Muerta atinja um pico de 1,2 milhão de óleo equivalente por dia (boed) em 2033. Para efeito de comparação, a produção total de óleo equivalente por dia da Petrobras (PETR4, PETR3) foi de 2,6 milhões no último trimestre de 2022.

Efeitos na política

O ministro da Economia, Sergio Massa, que supervisionou os meses finais do projeto e é visto como um potencial candidato presidencial nas eleições deste ano depois que Alberto Fernández desistiu de tentar a reeleição, saudou a abertura como uma grande oportunidade para a economia.

Também marca uma conquista para Massa e outros políticos peronistas que enfrentam uma dura tentativa de reeleição neste ano em meio à grave crise econômica da Argentina. A inflação anual está agora acima de 114%, a economia deve entrar em recessão neste ano e uma aguda escassez de dólares americanos no banco central está alimentando temores de uma desvalorização do peso.

Massa criticou o governo anterior liderado pela oposição nesta terça-feira.

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“Tornamos o impossível possível”, escreveu Massa no Twitter. “Esse projeto foi planejado em 2015. Ficou anos parado por falta de visão estratégica e coragem.”

- Com a colaboração de Jonathan Gilbert.

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