Bloomberg — O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, amenizou a retórica agressiva em relação aos maiores parceiros comerciais do país e levantou a possibilidade de que seu governo pode não ser tão disruptivo para os assuntos internacionais.
Depois de chamar o governo chinês de “assassino” durante uma entrevista à Bloomberg News em agosto e afirmar que não manteria relações com o Brasil ou países liderados por “comunistas” se fosse eleito, Milei foi mais cordial em comentários feitos poucos dias após a vitória nas urnas em 19 de novembro.
Ele enviou votos de felicidades ao povo chinês em uma postagem nas redes sociais na quarta-feira (22), agradecendo ao presidente Xi Jinping por uma carta na qual parabenizado pela vitória e lembrou que as relações entre Pequim e Buenos Aires sempre foram baseadas em “respeito mútuo”, com “benefícios tangíveis” para ambos os lados.
Também na quarta-feira, ele disse em uma entrevista à TV local que Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, “seria bem-vindo” para comparecer à sua posse em 10 de dezembro.
E ele até buscou resolveu as diferenças com o Papa Francisco, um argentino que ele já descreveu como o homem do diabo na Terra. Ao receber uma ligação do Vaticano na terça-feira (21), Milei convidou Sua Santidade a visitar a Argentina em breve.
A reviravolta é o sinal mais recente de que o libertário, que chegou ao poder com promessas radicais de resolver os problemas da Argentina, pode estar adotando uma abordagem mais pragmática, pelo menos no campo da política externa, à medida que se prepara para assumir o cargo.
“Foi inevitável, a Argentina simplesmente não pode se dar ao luxo de alienar seus parceiros comerciais mais importantes”, disse Benjamin Gedan, diretor do Programa da América Latina do Wilson Center. “Parece claro que Milei está seguindo o conselho de seus assessores mais pragmáticos quando se trata de política externa, incluindo o ex-presidente Mauricio Macri.”
Corrente de comércio
O comércio total da Argentina com China e Brasil alcançou US$ 55 bilhões no ano passado, quase três vezes mais do que com os Estados Unidos, seu terceiro maior parceiro comercial.
Diana Mondino, futura ministra das Relações Exteriores de Milei, disse em uma entrevista à TV na quarta-feira que o presidente eleito nunca propôs romper relações com China ou Brasil, culpando a mídia e a oposição por tirarem seus comentários do contexto.
“Não há quebra, mudança ou congelamento” de relações, afirmou na entrevista. “Nunca pode haver.”
Mondino, economista e conselheira próxima de Milei durante a campanha, acrescentou que Lula será, “claro”, convidado para a posse. “Por que ele não viria?”
Um problema que complica uma possível visita de Lula é a presença esperada de seu adversário político Jair Bolsonaro na cerimônia. O ex-presidente brasileiro é amigo de Milei e, ao ligar para parabenizá-lo por sua vitória eleitoral, aceitou com prazer um convite pessoal para comparecer à sua posse em Buenos Aires.
Dos EUA, Milei recebeu uma ligação de congratulações do presidente Joe Biden, que não poderá ir a Buenos Aires devido a compromissos previamente agendados, segundo Mondino. Mas, na quinta-feira (23), o escritório de Milei disse que ele também conversou por telefone com o ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, que confirmou sua presença na posse.
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