Perda de impulso da economia desafia a Alemanha após a queda do PIB em 2023

Produto Interno Bruto encolheu 0,3% no ano passado com a desaceleração no fim do ano; fraqueza eleva a insatisfação da população

Por

Bloomberg — A Alemanha evitou por pouco uma recessão como consequência da crise energética, apesar do Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 2023. E a previsão deste ano é de apenas uma modesta recuperação.

O PIB do país recuou 0,3% entre outubro e dezembro, de acordo com uma estimativa preliminar divulgada nesta segunda-feira (15). Mas a revisão do resultado do terceiro trimestre de -0,1% para 0% fez a maior economia da Europa evitar ter dois trimestres consecutivos de contração, o que classifica tecnicamente uma recessão econômica.

Foi, no entanto, um ano difícil: o PIB encolheu 0,3% ao longo dos 12 meses completos — a primeira queda desde a pandemia.

É um contraste marcante com outras grandes economias ao redor do mundo. De acordo com as projeções, o país tende a ser a única economia do G7 a ter uma contração anual, e isso levanta questões sobre o seu futuro como uma potência industrial.

Preocupações contínuas sobre as perspectivas da Alemanha são refletidas nas projeções para este ano. Em novembro, a OCDE projetou crescimento de 0,6% do PIB alemão para 2024, o mais lento entre todos os países do G20, exceto a Argentina.

Economistas preveem um crescimento baixo no primeiro semestre de 2024, um ano que começou com greves de trens e protestos em todo o país por parte dos agricultores.

Analistas de Deutsche Bank (DB), Commerzbank e ING veem até um risco de a produção continuar a encolher ao longo de 2024.

Indicadores baseados em pesquisas ainda não sinalizaram melhora, e a produção industrial é cada vez mais afetada pela queda nas encomendas, de acordo com Joerg Kraemer do Commerzbank.

O feedback inicial das pesquisas “sugere que o desempenho econômico provavelmente estagnará em 2024″, de acordo com a Câmara de Comércio e Indústria DIHK. “Até permanecer em recessão ainda é possível. Os desafios econômicos permanecem grandes.”

O que diz a Bloomberg Economics

“Esperamos que o crescimento aumente lentamente em 2024 e atinja 0,5% para o ano, à medida que os rendimentos reais mais altos podem impulsionar o consumo das famílias. No entanto, o recente revés nas expectativas empresariais destaca o risco de que uma fraqueza mais pronunciada na indústria cause a desaceleração continuar no primeiro trimestre de 2024.”

—Martin Ademmer, economista.

A Alemanha, a primeira do G7 a relatar o PIB do quarto trimestre, havia sido destacada por economistas em 2023 como o ponto fraco entre as principais nações desenvolvidas do mundo. Isso se deve principalmente ao seu setor manufatureiro, que sofre com custos mais altos de energia, taxas de juros em alta e demanda estrangeira contida.

O ano começou com alívio de que o choque energético desencadeado pela guerra da Rússia na Ucrânia seria mais gerenciável do que inicialmente temido. Mas a economia perdeu força e nunca recuperou o impulso. Uma recuperação que se esperava no segundo semestre do ano não se materializou, e a atividade perdeu impulso mesmo quando a inflação recuava.

A indústria, o consumo do governo e o consumo das famílias tiveram queda em 2023, segundo o escritório de estatísticas.

O desempenho fraco provocou um debate sobre se a Alemanha está mais uma vez se transformando no “doente” da Europa — um apelido que ganhou pela primeira vez após a reunificação na década de 1990, que pesou sobre a economia e trouxe um desemprego persistentemente alto.

Principais autoridades, incluindo o ministro das Finanças, Christian Lindner, e o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, rejeitaram tal discussão, insistindo que o país provou que pode se adaptar a um ambiente em mudança.

No entanto, o banco central reconheceu desafios para um modelo econômico que, por muito tempo, foi baseado em importações de energia da Rússia e uma forte dependência da China — tanto para componentes quanto como um mercado para carros a combustão.

Apesar de os preços do gás natural terem caído desde o pico depois que o Kremlin interrompeu o fornecimento, eles permanecem mais altos do que antes da pandemia de covid-19. A indústria química é uma das mais afetadas. Empresas como BASF e Lanxess suspenderam investimentos e demitiram trabalhadores.

Ao mesmo tempo, as contínuas disputas dentro da aliança de três partidos do governo do chanceler Olaf Scholz dificultaram a formação de consenso sobre as medidas necessárias para enfrentar os problemas da Alemanha.

Isso ajudou a alimentar o aumento na popularidade do partido AfD, de extrema-direita, que agora lidera as pesquisas em três províncias do leste da Alemanha que realizam eleições este ano.

Mais recentemente, a insatisfação com o governo provocou protestos de agricultores, que interromperam o tráfego em todo o país na semana passada e realizaram seu principal comício em Berlim na segunda-feira (15).

De acordo com a associação dos agricultores, 30.000 pessoas participaram do protesto no centro da capital. Mais de 6.000 tratores e outros veículos bloquearam as ruas ao redor do bairro do governo.

A decisão do Tribunal Constitucional criou ventos contrários no final de 2023, ao interromper os planos da coalizão para financiar investimentos por meio de fundos fora do balanço, forçando economias no orçamento atual e alimentando nova incerteza entre as famílias e empresas.

“Tivemos um 2023 bastante fraco, então 2024 não será um ano brilhante, mas veremos um pouco de crescimento”, disse o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, à Bloomberg Television em Davos, na Suíça. “Acredito que a Alemanha precisa fazer sua lição de casa.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Montadoras têm um novo obstáculo: convencer o consumidor a comprar elétrico usado

nteligência artificial afetará quase 40% dos empregos ao redor do mundo, diz FMI