Equador enfrenta crise de energia com apagões diários e serviços irregulares

Embora tenha recursos energéticos abundantes, o país sofre com a falta de investimentos persistente no setor, o que coloca em xeque as perspectivas de recuperação da economia

Edificios residenciales a oscuras tras un apagón programado en Quito, Ecuador.
Por Stephan Kueffner
13 de Outubro, 2024 | 09:57 AM

Bloomberg — A vida sem eletricidade está pesando sobre os equatorianos, penalizando a economia já frágil e levantando questões sobre o futuro político do país.

Os apagões diários se estendem por dez horas seguidas e podem piorar nos próximos meses, à medida que uma seca coloca à prova a dependência do país em relação às hidrelétricas.

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Os semáforos estão frequentemente apagados, o serviço de internet é interrompido e os síndicos de prédios pedem aos moradores que evitem lavar e secar roupas enquanto os geradores estão em funcionamento.

A estimativa do banco central de crescimento do produto interno bruto de 0,9% para o ano está quase certamente fora de alcance, aumentando a pressão sobre o presidente Daniel Noboa.

O jovem de 36 anos nem sequer havia nascido quando algumas das decisões que comprometeram o fornecimento de eletricidade do Equador foram tomadas, mas resolver a crise será fundamental para suas chances de reeleição em fevereiro.

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“O momento dramático que o país está enfrentando nos confronta com a decisão sobre que modelo de Estado queremos viver”, disse Maria Paz Jervis, presidente da associação empresarial CEE do Equador, observando, em uma entrevista por telefone, que o estado não tem conseguido fornecer acesso a serviços básicos.

Os títulos do Equador com vencimento em 2035 caíram esta semana, refletindo a ansiedade dos investidores de que a crise possa dar impulso a um candidato presidencial de esquerda com menos disciplina fiscal.

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Embora o Equador tenha recursos energéticos abundantes — desde a luz solar tropical até rios de águas rápidas que descem pelas íngremes encostas andinas, além de reservas de petróleo maiores do que as do México —, o país sofre com o subinvestimento crônico e uma sequência de más escolhas políticas.

Uma nova constituição em 2008 colocou a eletricidade sob controle do governo, bloqueando a maior parte dos investimentos privados na indústria. O Equador apostou fortemente na energia hidrelétrica, dependendo dela para gerar mais de 70% de sua eletricidade, o que o torna vulnerável em períodos de seca.

Noboa nomeou uma nova ministra de energia esta semana, a quarta desde que assumiu o cargo em novembro passado, e incumbiu-a de reduzir a dependência do país em relação à chuva, mudando para outras formas de energia renovável.

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Ele também pediu ao congresso um aumento de dez vezes no limite para investimento privado no setor elétrico — atualmente limitado a um máximo de 10 megawatts — e na quinta-feira (10) removeu os impostos sobre as importações de geradores. Neste momento, apenas cerca de 30% das residências têm geradores disponíveis para manter as luzes acesas durante os apagões.

Mudanças estruturais reais levarão tempo, algo que o governo Noboa nunca teve. Ele foi eleito em novembro passado para um mandato abreviado após uma crise política que levou à saída antecipada de seu antecessor.

Grande parte de sua presidência tem sido consumida por uma guerra interna contra gangues de drogas, e a segurança continua sendo um grande problema. Esta semana, homens armados atacaram um comboio de veículos blindados do banco central na rodovia entre Cuenca e Guayaquil.

A nova ministra de energia, Ines Manzano, por sua vez, teve um começo instável. Sua agência emitiu um comunicado afirmando que não haveria cortes de energia na tarde de quinta-feira durante a partida de qualificação da Copa do Mundo do Equador contra o Paraguai, apenas para rapidamente deletá-lo. O jogo, um empate sem gols, ocorreu sem problemas em Quito, com luzes do estádio acesas, mas outras atividades foram canceladas.

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Os impactos duplos dos apagões e da seca estão reverberando pela economia. Pecuaristas e produtores de laticínios estão lutando para alimentar seu gado, disse Rodrigo Gomez de la Torre, cuja família possui uma fazenda de laticínios em Pintag, perto de Quito. A produção de leite caiu de 20% a 40%, dependendo da região e da capacidade de cada produtor de se preparar para a seca sazonal.

Os problemas na linha de produção incluem como resfriar e pasteurizar o leite, além de fazer outros produtos como iogurte. “Estamos ordenhando com um motor a gasolina e vendo como comprar gás suficiente em postos que limitaram as vendas a cinco galões cada”, acrescentou.

Consumidores nervosos estão adiando a compra de refrigeradores, máquinas de lavar e outros bens duráveis. As vendas caíram 50% na fabricante de eletrodomésticos Indurama. “É péssimo para o resultado financeiro”, mesmo que a empresa tenha conseguido mudar para sua própria geração de energia, disse Luis Fernando Ortiz, engenheiro da empresa com sede em Cuenca.

Antes que os apagões se expandissem esta semana, a CEE estimou que as quedas de energia custariam US$ 175 por pessoa aos equatorianos, mas isso pode precisar ser revisado para cima, disse Jervis.

O consumo, investimento, exportações e importações estão todos sendo afetados, disse Jose Hildalgo, chefe do think tank Cordes em Quito. “Certamente iremos revisar para baixo” uma estimativa de queda de 0,3% no PIB anual, afirmou.

Com as usinas termelétricas em mau estado, sem infraestrutura para gás natural liquefeito e a Colômbia incapaz de exportar energia para o Equador para proteger seu próprio fornecimento, a administração Noboa recorreu ao aluguel de uma barca turca para a geração de energia de emergência. É a única opção de curto prazo, e a única barca não tem capacidade suficiente para fechar a lacuna.

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O Equador precisa investir cerca de US$ 3 bilhões em eletricidade, incluindo transmissão, até 2026 para atender às necessidades e se antecipar ao crescente consumo, disse Jose Orellana, sócio do banco de investimentos boutique Ahead, em Guayaquil. Isso é difícil para um país que garantiu um acordo de empréstimo de US$ 4 bilhões com o Fundo Monetário Internacional em maio para estabilizar suas finanças.

“É confuso, assim como a maneira como a nossa seleção de futebol jogou”, disse ele em uma entrevista na quinta-feira. “O Equador precisa discutir a crise em termos técnicos e financeiros e parar de jogar politicamente”.

A questão é se Noboa pode convencer os eleitores a lhe dar mais tempo para resolver o problema a longo prazo. Os apagões prejudicarão suas chances, disse Sebastian Hurtado, chefe da consultoria de risco político Profitas em Quito.

Ainda assim, os investidores não devem descartá-lo no volátil mundo da política equatoriana. Sua guerra contra as gangues o tornou popular, e suas taxas de aprovação permaneceram sólidas mesmo após o aumento de impostos e cortes nos subsídios de gasolina, de acordo com o cientista político Santiago Basabe, da Flacso, uma universidade em Quito. E Noboa também pode esperar que os eleitores tenham memórias curtas, disse ele.

“Quando a campanha entrar em pleno andamento em janeiro, isso pode já estar resolvido”, afirmou.

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