Antes de negociação com Milei, FMI aponta erros da Argentina em acordo de US$ 44 bi

O Fundo Monetário Internacional publicou uma análise sombria de seu programa mais recente que fracassou no país e acusou o governo do ex-presidente Alberto Fernández descarrilar a economia

O Fundo Monetário Internacional criticou o governo do ex-presidente Alberto Fernández
Por Patrick Gillespie
11 de Janeiro, 2025 | 01:58 PM

Bloomberg — O Fundo Monetário Internacional publicou uma análise sombria de seu programa mais recente que fracassou na Argentina, concluindo uma etapa técnica necessária antes que o presidente Javier Milei negocie um novo acordo neste ano.

A equipe do FMI publicou no final da sexta-feira (10) uma avaliação do programa da Argentina que originalmente totalizava US$ 44 bilhões, o segundo maior programa do credor na história, atrás apenas de seu acordo de 2018 com o país. Pelas regras do FMI, um país com “acesso excepcional” ao dinheiro do FMI, como o programa da Argentina, não pode buscar um novo programa até que a chamada avaliação ex-post do programa anterior seja concluída.

PUBLICIDADE

A porta-voz-chefe do FMI, Julie Kozack, confirmou em dezembro que as negociações para um novo programa foram iniciadas, o que seria o terceiro acordo da Argentina em uma saga que já dura sete anos. Separadamente, o ministro da Economia do governo Milei, Luis Caputo, disse esperar chegar a um acordo nos primeiros quatro meses de 2025.

Leia também: Argentinos estão mais otimistas com a economia após plano de austeridade de Milei

Os mercados estão observando atentamente as negociações de Caputo com a equipe do FMI para ver se o credor fornecerá novos financiamentos além de US$ 44 bilhões, bem como informações sobre quando a Argentina decidirá suspender sua estrutura de controles de moeda e capital que a impedem de retornar aos mercados internacionais. Ambas as questões são fundamentais para as negociações em andamento.

PUBLICIDADE

A avaliação ex-post pintou um quadro sombrio do último programa do FMI para a Argentina, iniciado em março de 2022. Os funcionários detalharam as decisões políticas imprudentes do governo do ex-presidente Alberto Fernández que descarrilaram o programa e a economia no período que antecedeu a eleição presidencial de 2023, vencida por Milei.

Em meados de 2023, “o programa estava quase parado”, depois que “os compromissos foram repetidamente renegados e as políticas das autoridades se desviaram significativamente do curso de várias etapas antes do processo eleitoral“, de acordo com a avaliação.

"Em suma, a Argentina enfrentou novamente uma crise econômica completa na época da rodada final da eleição", segundo o relatório.

PUBLICIDADE

Leia também: Vitória de Milei: Argentina faz acordo de recompra de US$ 1 bi de grandes bancos

Após dois anos de negociações, o programa de 2022 nunca teve o apoio generalizado que a equipe do FMI buscava, já que a Argentina passou por três ministros da Economia em cerca de um mês.

Embora Fernández tenha apoiado uma nova lei segundo a qual o Congresso teria que aprovar o acordo com o FMI, facções de seu próprio partido peronista votaram contra, revelando as lutas políticas internas que exacerbaram o colapso econômico e, por fim, abriram o caminho de Milei para a presidência.

PUBLICIDADE

Desde que assumiu o cargo, Milei tem enfrentado suas próprias tensões com o FMI, pois um dos principais negociadores da equipe já decidiu se afastar devido a discordâncias de política. Entretanto, a liderança do FMI aplaudiu amplamente a histórica campanha de austeridade de Milei, que ajudou a reduzir a inflação mais cedo do que o esperado.

--Com a colaboração de Jorgelina do Rosário.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Valorização do peso sob Milei deixa o Brasil mais acessível para turistas argentinos

Argentina avança com medidas para acelerar a dolarização prometida por Milei

Milei completa um ano na Argentina com redução da inflação e aumento da pobreza