Além de Trump vs Harris: a batalha de US$ 10 bilhões pelo Congresso dos EUA

O controle da Câmara e do Senado vai influenciar o governo do próximo presidente e é fundamental para a política econômica, incluindo trilhões de dólares em provisões fiscais

<<
Por Steven T. Dennis - Billy House - Magan Crane
05 de Novembro, 2024 | 02:33 PM

Bloomberg — A batalha eleitoral dos Estados Unidos nesta terça-feira (5) vai além da disputa entre Donald Trump e Kamala Harris pela Casa Branca e envolve gastos que ultrapassam US$ 10 bilhões na disputa pelo controle do Congresso. Democratas e republicanos disputam o Poder Legislativo e uma influência sobre impostos, gastos e a implementação da agenda do próximo presidente.

É um valor potencialmente histórico, que supera os gastos com a eleição presidencial. de acordo com dados da OpenSecrets. Isso considerando que apenas cerca de um décimo das disputas no Congresso são realmente competitivas.

PUBLICIDADE

Atualmente, pesquisas apontam favoritismo dos republicanos para obter a maioria no Senado, enquanto os democratas têm pelo menos uma chance de assumir o controle da Câmara dos EUA. Este cenário reverteria a situação atual de ambas as câmaras, dando continuidade a um governo dividido.

Muitas disputas permanecem apertadas, e o resultado pode não ser conhecido até dias após a eleição de 5 de novembro.

Leia também: Eleição americana: entenda a contagem de votos nos estados que vão definir o resultado

PUBLICIDADE
Mapa mostra estados onde a decisão sobre senadores é mais importante para definir o controle sobre o Congresso americano.

Aqui estão algumas das principais disputas a serem observadas:

O Senado: Montana

As esperanças dos democratas no Senado dependem, em grande parte, de Montana, onde o atual senador no terceiro mandato Jon Tester está atrás do republicano Tim Sheehy, um novato na política, empresário e ex-fuzileiro naval.

Essa disputa deve bater recordes, com previsão de gastos de cerca de US$ 250 por habitante do estado pouco povoado somente em publicidade, de acordo com dados da AdImpact.

PUBLICIDADE

Leia também: Em Wall Street, eleição tão apertada não compensa o risco de apostar no vencedor

Tester, um fazendeiro de terceira geração, há muito tempo confia em seu charme popular e em sua reputação de fornecer recursos ao seu estado para superar a inclinação republicana. Este ano, os democratas esperam que o apoio de Tester ao direito ao aborto ajude-o e a outros candidatos vulneráveis a se manterem firmes.

No entanto, espera-se que o ex-presidente Donald Trump vença em Montana por dois dígitos de vantagem, de modo que Tester precisará que muitos conterrâneos dividam seu voto entre os partidos, uma prática que se tornou menos comum à medida que o eleitorado se tornou mais polarizado.

PUBLICIDADE

Ohio

Mesmo que Tester consiga uma vitória, os democratas provavelmente precisarão vencer todas as outras disputas, incluindo Ohio, onde Sherrod Brown está tentando defender seu mandato contra o comerciante de automóveis Bernie Moreno. Somente a publicidade custou mais de US$ 530 milhões nessa disputa, de acordo com a AdImpact.

Algumas pesquisas mostraram Moreno se aproximando de Brown, e os republicanos esperam que se repita a corrida do senador JD Vance em 2022, quando ele venceu após um crescimento tardio nas pesquisas.

Leia também: Boatos, desinformação e mentiras: a crise de confiança nas eleições dos EUA

Assim como em Montana, espera-se que Trump vença Ohio com facilidade, o que poderia dar um impulso a Moreno, apesar da popularidade de Brown entre muitos eleitores brancos da classe trabalhadora que formam a base do ex-presidente.

Os democratas também precisam manter os assentos nos campos de batalha presidenciais da “muralha azul” da Pensilvânia, Wisconsin e Michigan - todos estados onde as disputas estão apertadas - bem como no Arizona e em Nevada, onde os candidatos do partido ao Senado têm mantido uma liderança maior nas pesquisas.

Bob Casey, da Pensilvânia, discursou no grande comício da vice-presidente Kamala Harris na noite de segunda-feira na Filadélfia, na esperança de aproveitar parte de seu ímpeto.

Leia também: Patriotismo e polarização: como o debate sobre nação influencia a eleição nos EUA

Incertezas

Se Tester perder, os democratas precisarão de uma vitória surpreendente em algum outro lugar. Isso provavelmente exigiria que Colin Allred derrotasse o senador Ted Cruz no Texas ou que Debbie Mucarsel-Powell vencesse o senador Rick Scott na Flórida. Uma disputa acirrada em Nebraska, onde o líder sindical independente Dan Osborn está concorrendo lado a lado com a atual republicana Deb Fischer, também poderia bagunçar o resultado na noite da eleição.

O melhor cenário para os democratas é provavelmente um Senado dividido igualmente com 50-50, com o controle da câmara dependendo do resultado da corrida presidencial, pois o vice-presidente desempata as disputas.

Leia também: Incerteza sobre as eleições dos Estados Unidos coloca o mundo em suspense

Os republicanos, no entanto, podem conquistar até 55 cadeiras, se vencerem as disputas mais apertadas. Uma maioria assim ampliaria a abertura para os cortes de impostos e outras legislações do Partido Republicano se eles controlarem as duas câmaras do Congresso e a Casa Branca.

Em 2017, a pequena maioria do partido levou à derrota dos esforços para revogar o Affordable Care Act por meio de um voto crontrário do então senador John McCain.

O Partido Republicano esperava que o popular ex-governador Larry Hogan conseguisse uma vitória contra a corrente em Maryland, que é fortemente democrata, mas a executiva do condado de Prince George, Angela Alsobrooks, teve uma vantagem de dois dígitos nas pesquisas recentes, apesar dos gastos significativos do comitê de ação superpolítica em nome de Hogan, incluindo US$ 10 milhões do bilionário Ken Griffin.

Mapa dos EUA mostra os locais onde há uma corrida mais importante para candidatos republicanos e democratas.

A Câmara: Nova York e Califórnia

As chances dos democratas são significativamente melhores na Câmara, onde os republicanos agora detêm apenas uma pequena maioria e precisam defender muitas áreas conquistadas pelo presidente Joe Biden em 2020, inclusive em estados fortemente democratas como Nova York e Califórnia.

O partido precisa de um ganho líquido de apenas quatro cadeiras para entregar o martelo de presidente da Câmara a Hakeem Jeffries, de Nova York, e com ele o poder sobre os cofres federais e as intimações de investigação da Câmara.

Enquanto isso, o presidente da Câmara, Mike Johnson, da Louisiana - que subiu inesperadamente ao cargo no final do ano passado após a tumultuada demissão de seu antecessor - está lutando para salvar seu cargo. Ele tem se empenhado agressivamente e arrecadado dinheiro em todo o país, incluindo uma série de eventos nos principais distritos de Nova York que ajudaram o Partido Republicano a conquistar a Câmara dois anos atrás.

Os republicanos têm procurado capitalizar o descontentamento dos eleitores em relação a questões como inflação e imigração, visando os assentos abertos de democratas que estão se aposentando em Michigan, e os titulares em estados como Novo México e Pensilvânia, bem como aqueles em distritos conquistados por Trump em 2020, como Jared Golden no Maine e Mary Peltola no Alasca.

Leia também: Estreia de apostas na eleição americana gera desconfiança e riscos de manipulação

Resultados

Os primeiros resultados da noite da eleição podem vir da Virgínia, onde as urnas fecham às 21h (horário de Brasília), com cada partido tendo uma oportunidade de ganhar.

Os republicanos esperam conquistar a cadeira da região central da Virgínia, que está sendo desocupada pela democrata Abigail Spanberger, candidata a governadora no ano que vem, enquanto os democratas tentam derrotar a atual republicana Jen Kiggans em um distrito litorâneo.

Leia também: De Wall St a energia limpa: o que está em jogo nas eleições dos EUA para 5 setores

O relatório apartidário Cook Political Report classifica 208 cadeiras como tendência, prováveis ou solidamente republicanas, em comparação com 205 para os democratas, com 22 cadeiras em disputa. São necessárias 218 para garantir a maioria.

--Com a colaboração de Megan Scully.

Veja mais em Bloomberg.com