Ação antitruste questiona Zuckerberg sobre tentativa de ‘neutralizar concorrentes’

A Comissão Federal de Comércio (FTC) argumenta que a Meta monopolizou o mercado de redes sociais; por outro lado, a empresa argumenta que enfrenta uma ampla gama de concorrentes

Mark Zuckerberg, um homem branco de cabelos loiros, dentro de um carro, no banco traseiro
Por Kurt Wagner - Josh Sisco
15 de Abril, 2025 | 06:45 PM

Bloomberg — Mark Zuckerberg voltou ao tribunal federal na terça-feira (15) para responder a perguntas sobre suas aquisições do Instagram e do WhatsApp, que estão no centro de um processo federal antitruste que visa desfazer os negócios mais de uma década depois de terem sido concluídos.

O CEO da Meta (META) compareceu em Washington pelo segundo dia e foi questionado sobre uma série de e-mails internos por advogados da Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC), que alegam que as aquisições da Meta deram à empresa um monopólio ilegal sobre partes do setor de redes sociais.

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Em depoimento na terça-feira, o advogado da FTC, Daniel Matheson, apresentou a Zuckerberg, que depôs por mais de três horas na segunda-feira (14), uma troca de e-mails de 2012 entre ele e David Ebersman, então diretor financeiro do Facebook, sobre a racionalização da aquisição de aplicativos como o Instagram.

Quando Ebersman perguntou se isso incluía a capacidade de “neutralizar um concorrente”, Zuckerberg respondeu afirmativamente, entre outros motivos.

O Instagram e outro aplicativo de rede social, o Path, “estão criando redes que competem com as nossas”, escreveu Zuckerberg na troca de mensagens. “Uma maneira de ver isso é que o que estamos realmente comprando é tempo. Mesmo que surja algum novo concorrente, comprar o Instagram, Path, Foursquare etc. agora nos dará um ano ou mais para integrar suas dinâmicas antes que alguém possa chegar perto de sua escala novamente.”

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‘Ficar à frente’

Ao ser questionado por Matheson, Zuckerberg não reconheceu definitivamente que a principal motivação para o acordo com o Instagram foi a escala da empresa com os usuários.

“Eu li isso como uma conversa sobre incorporar a funcionalidade e ficar à frente em termos de qualidade. Mas a escala é um aspecto disso e o tempo é um aspecto disso”, disse Zuckerberg.

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Em seu primeiro dia de depoimentos, Zuckerberg foi questionado principalmente sobre a aquisição do Instagram pela empresa e sua tentativa fracassada de criar um produto rival de compartilhamento de fotos em 2011 e 2012. Os advogados da FTC apresentaram dezenas de e-mails e documentos antigos que mostravam como o Facebook se esforçou para competir com o rápido crescimento do Instagram e, em vez disso, acabou adquirindo a startup.

Os e-mails mostraram que Zuckerberg estava preocupado com o fato de o Instagram crescer o suficiente para copiar alguns dos recursos de rede social do Facebook. “Se o Instagram continuar arrasando no celular ou se o Google o comprar, nos próximos anos eles poderão facilmente adicionar partes de seu serviço que copiem o que fazemos e, se eles tiverem um número crescente de fotos de pessoas, isso será um problema real para nós”, escreveu ele a outros executivos em 2011.

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Instagram não está ‘arrasando’

Na terça-feira, Zuckerberg recebeu outros e-mails que descreviam seus motivos para os dois negócios.

“O Messenger não está exatamente vencendo o WhatsApp, o Instagram estava crescendo tão mais rápido do que nós que tivemos de comprá-lo por US$ 1 bilhão”, escreveu Zuckerberg em um e-mail de novembro de 2012 para a então diretora de operações Sheryl Sandberg. “Isso não é exatamente arrasar.”

Quando indagado por Matheson se ele teria preferido criar internamente um serviço semelhante ao do Instagram, Zuckerberg respondeu: “acho que sim, US$ 1 bilhão é muito caro”. Ele reconheceu que, mesmo que a Meta tivesse criado um produto rival, “como ele teria se saído é uma questão de especulação”.

Mas ele rebateu a explicação da FTC sobre o motivo pelo qual a empresa comprou o Instagram. “Não é correto dizer que a única razão pela qual estávamos interessados era a escala ou a taxa de crescimento, o que eu acho que sua pergunta está sugerindo.”

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Aumento na troca de mensagens

Zuckerberg também reconheceu ter bloqueado a publicidade no Facebook para os aplicativos de mensagens WeChat, Kakao e Line, que, segundo ele em um e-mail de 2013, estão “tentando criar redes sociais para nos substituir”.

No depoimento de segunda-feira, Zuckerberg tentou voltar atrás nessa última declaração, dizendo: “para mim, é difícil caracterizar qual era a intenção deles”.

Matheson dedicou parte de seu tempo na manhã de terça-feira para definir a ideia de que os serviços de mensagens estavam se tornando uma área de foco cada vez mais competitiva para o Facebook, uma vez que vários serviços de mensagens na Ásia também estavam desenvolvendo recursos de rede social. Em um e-mail para a diretoria do Facebook em fevereiro de 2013, Zuckerberg escreveu que estava preocupado com a possibilidade de rivais como a chinesa Tencent Holdings se expandirem para fora da Ásia, inclusive ao comprar o WhatsApp.

“As mensagens são o próximo maior risco e oportunidade para o consumidor”, escreveu ele. A Tencent “ainda não se expandiu para fora da Ásia, mas esse é um grande risco para nós”.

O argumento da FTC se baseia na alegação de que a Meta monopolizou o mercado de redes sociais voltadas para o compartilhamento de amigos e familiares – um mercado restrito que a FTC acredita incluir o Facebook, o Instagram e o Snapchat da Snap (SNAP).

Os advogados da Meta, por sua vez, passaram sua declaração de abertura na segunda-feira argumentando que a empresa compete com uma ampla gama de concorrentes, incluindo o TikTok da ByteDance, o YouTube do Google e o iMessage da Apple (AAPL).

Zuckerberg reiterou esse argumento durante seu interrogatório, dizendo que ajudar as pessoas a se conectarem com amigos e familiares “continua sendo uma de nossas prioridades”, mas que “sempre fomos um serviço que permite que você descubra e aprenda sobre o que está acontecendo no mundo”.

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