A nova discussão no mercado sobre o Fed vai além de novos aumentos do juro

Mudança do debate de ‘quanto subir’ para a duração total das taxas em patamares elevados pode ajudar o Fed a conter as expectativas de cortes nos juros

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Bloomberg — À medida que o Federal Reserve (Fed) se aproxima do fim de sua campanha de aperto monetário, o debate muda de quão alto os juros precisam subir para quanto tempo devem permanecer elevados.

As pressões inflacionárias diminuem, o que pode dar espaço às autoridades para manter as taxas nos níveis atuais ou próximas desses patamares por enquanto. Ainda assim, os ganhos de preço permanecem bem acima da meta de 2% do banco central americano, o que deixa o Fed hesitante em declarar vitória.

Introduzir o debate sobre por quanto tempo os diretores do Fomc podem deixar as taxas onde estão, mesmo que a inflação continue em desaceleração, pode ajudá-los a conter as expectativas de cortes dos juros e permitir que continuem esfriando a economia.

“Essa é a dimensão da política na qual provavelmente se concentrarão mais daqui para frente: não quanto aumentar a taxa de fundos federais, mas por quanto tempo mantê-la nesses níveis”, disse Brian Sack, ex-funcionário sênior do Fed que neste ano deixou a D.E. Shaw & Co., após cerca de uma década como chefe do grupo de economia global da empresa de investimentos. “Ainda há muito espaço para apertar as condições financeiras dessa forma, se eles quiserem.”

Em decisão unânime, o Fed elevou sua taxa de referência no mês passado para uma meta de 5,25% a 5,5%, o patamar mais alto em 22 anos. A ata dessa reunião – a ser divulgada na quarta-feira – pode dar mais pistas se a maioria dos diretores do Fed acredita que esses aumentos já foram absorvidos pela economia ou se ainda esperam ver mais efeitos.

Divisão

As autoridades estão divididas sobre quais devem ser suas medidas imediatas. Patrick Harker, presidente do Fed de Filadélfia, diz que as autoridades podem manter os juros onde estão “por um tempo” e outras, incluindo a governadora do Fed, Michelle Bowman, afirmam que mais aumentos serão necessários.

Alguns minimizam a importância de outra possível alta das taxas, dizendo que a conclusão mais importante é que planejam manter os juros em níveis restritivos.

“Acho que estamos muito perto do que seria uma taxa de pico”, disse o presidente do Fed de Nova York, John Williams, ao New York Times este mês. “E a questão realmente será – uma vez que tenhamos um bom entendimento disso – por quanto tempo precisaremos manter a política em uma posição restritiva.”

Economistas do Goldman Sachs (GS), entre eles Jan Hatzius e David Mericle, antecipam que o Fed começará a reduzir os juros até o final de junho, escreveram em nota de 13 de agosto.

Os diretores ainda não esclareceram por quanto tempo planejam manter os juros, em parte porque ainda não sabem, disse Tim Duy, economista-chefe para EUA da SGH Macro Advisors. É uma questão que alguns membros do Fed poderiam abordar quando se reunirem neste mês para o simpósio anual em Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas.

“A conversa que estamos vendo entre os presidentes agora, entre os palestrantes do Fed, refletirá o que provavelmente será a conversa paralela de Jackson Hole”, disse Duy. “Estamos na transição para a próxima parte desta história.”

Investidores projetam que o Fed não vai mexer nos juros quando se reunir em 19 e 20 de setembro e veem uma chance em três de uma alta de 0,25 ponto percentual em novembro, de acordo com a precificação nos mercados futuros.

--Com a colaboração de Reade Pickert

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