O self-made man indiano que ergueu uma fortuna de US$ 7,1 bi nos Emirados Árabes

Oferta pública inicial (IPO) de US$ 1,72 bilhão da Lulu Retail Holdings foi a maior dos Emirados em 2024 e consolidou o status do empresário como segunda pessoa mais rica de seu país

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Bloomberg — Yusuff Ali chegou aos Emirados Árabes Unidos como adolescente em 1973, quando o país tinha apenas meio milhão de habitantes. Ele abriu sua primeira mercearia na capital Abu Dhabi no ano seguinte, antes de iniciar uma expansão ocasionada por um boom de petróleo que durou anos.

Sua trajetória culminou neste mês com um IPO de US$ 1,72 bilhão da Lulu Retail Holdings.

A venda de ações — a maior dos Emirados em 2024 — elevou o patrimônio líquido de Ali para US$ 7,1 bilhões, consolidando-o como o segundo indivíduo privado mais rico do país, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg.

Ali, que completa 69 anos em 15 de novembro, um dia após a estreia da Lulu na bolsa, faz parte de uma geração de empresários da Índia que identificou oportunidades nos Emirados em setores como imóveis, saúde e educação.

Isso inclui Azad Moopen da Aster DM Healthcare, Ravi Pillai do conglomerado de infraestrutura RP Group e Rizwan Sajan da Danube Properties.

“Todos foram empreendedores de primeira geração que vieram para cá em busca de fortuna,” disse Viswanathan Shankar, ex-executivo do Standard Chartered Plc e fundador da Gateway Partners. “Habilidosos no networking e excepcionais em identificar e resolver a demanda básica dos consumidores.”

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A ascensão desses empresários reflete o crescimento dos Emirados Árabes Unidos, que hoje têm mais de 10 milhões de habitantes — um terço vindo da Índia, com a maior parte oriunda do estado natal de Ali, Kerala.

Após a covid-19, milhares de pessoas foram para Dubai e Abu Dhabi em busca de empregos e uma melhor qualidade de vida, sem as altas taxas de imposto.

A Lulu Retail, por exemplo, agora atende mais de meio milhão de clientes diários em 240 lojas em seis países e registrou lucro de US$ 192 milhões no ano passado. Ela opera uma das maiores redes de hipermercados do Oriente Médio e emprega mais de 50.000 pessoas.

Quando a empresa lançou seu IPO no mês passado, os investidores esgotaram todas as ações disponíveis em poucos minutos. Listagens de empresas fora do setor de energia são relativamente raras no Oriente Médio, onde ações ligadas ao petróleo tendem a dominar.

A transação ocorreu meses após a Brookfield Asset Management liderar um investimento na GEMS Education, outro negócio fundado por imigrantes indianos, que transformaram uma escola em um dos maiores provedores de educação privada do mundo.

“O legado de empreendedores fez um excelente trabalho em criar empresas que atendem às necessidades básicas da população crescente,” disse Shankar, da Gateway. “Eles também se beneficiaram de laços históricos entre o Golfo e a Índia.”

Ainda assim, apesar do sucesso dos empresários indianos, houve desafios ao longo do caminho. Por exemplo, a NMC Health, fundada por Bavaguthu Raghuram Shetty, foi envolvida em um escândalo de US$ 4 bilhões em dívidas não divulgadas.

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Operar na região também traz desafios únicos. Os empreendedores expatriados precisam navegar em um ambiente dominado por entidades estatais assertivas, que controlam vastas áreas da economia, muitas vezes operam negócios concorrentes e, às vezes, possuem partes das empresas desses empresários.

Por exemplo, um fundo de riqueza supervisionado por Tahnoun bin Zayed Al Nahyan possui um quinto da Lulu International Holdings.

Outra entidade ligada à realeza de Abu Dhabi possui participação na Burjeel Holdings, uma empresa de US$ 3,2 bilhões presidida pelo genro de Ali, o magnata da saúde Shamsheer Vayalil.

A sucessão é outro desafio, especialmente em casos onde a propriedade é compartilhada entre empreendedores imigrantes e um parceiro local, disse Kavil Ramachandran, professor da Escola de Negócios da Índia. “A maioria desses empreendedores inseriu a próxima geração no negócio, mas ela pode não compartilhar o mesmo tipo de relacionamento com os parceiros árabes.”

Navegante nato

Um aspecto crucial do sucesso de Ali tem sido sua capacidade de navegar habilmente entre os mundos interconectados da política e dos negócios no Oriente Médio.

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“Antes do IPO, busquei as bênçãos dos líderes do GCC,” disse ele em uma conferência de imprensa neste mês, referindo-se ao bloco do Conselho de Cooperação do Golfo. Na ocasião, ele usou um broche com a foto do presidente dos Emirados, Mohammed bin Zayed al Nahyan, Ali destacou a participação de entidades ligadas ao governo na venda de ações.

Ali foi o primeiro expatriado a receber residência permanente concedida pelo governo dos Emirados e é um raro membro de uma câmara de comércio de Abu Dhabi. Ele também é presidente do Indian Business e Professional Group, que visa promover o comércio e o investimento entre os países.

Ali tem investido na Índia, especialmente em Kerala, com a construção de shoppings e hotéis. Ele possui uma influência considerável em seu estado natal, onde seus jatos particulares, carros de luxo e esforços filantrópicos recebem constante atenção da mídia.

A Índia é o segundo maior parceiro comercial dos Emirados, que consideram investimentos de até US$ 50 bilhões no país, segundo notícias da Bloomberg.

A influência de Ali se estende aos altos escalões do governo — ele esteve presente quando Narendra Modi visitou os Emirados em seu primeiro mandato como primeiro-ministro. Desde então, Modi retornou aos Emirados várias vezes e Ali foi fotografado com membros da delegação visitante.

Boom de IPOs

A decisão de Ali de listar sua companhia pode servir como modelo para outras empresas administradas por expatriados nos Emirados. “O IPO da Lulu demonstra que há muito apetite dos investidores por empresas que cresceram no setor privado, mas têm um acionista local estratégico bem-conectado,” disse Hasnain Malik, estrategista de mercados emergentes da Tellimer.

Para a Lulu Retail, o foco agora se volta para sua estreia na bolsa na próxima semana.

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