10 eventos que vão definir a economia e os mercados em 2024

Do rumo dos juros do Fed e das eleições presidenciais nos EUA até as reformas no Brasil e o avanço da IA, veja 10 temas que estarão no centro das atenções de executivos e investidores

Joe Biden e Donald Trump: nomes mais fortes até o momento para disputar a eleição presidencial americana em 2024 (Foto: Jim Lo Scalzo/EPA/Bloomberg e Al Drago/Bloomberg)

Bloomberg Línea — O ano de 2024 começa sob a perspectiva de um aguardado ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, da continuidade dele no Brasil, de novas reformas e também de eleições presidenciais americanas e municipais brasileiras. Há também acontecimentos econômicos e geopolíticos que marcaram 2023 e que cujos desdobramentos neste ano devem marcar novamente as decisões de governos e de investidores.

A Bloomberg Línea apresenta a seguir uma lista de 10 eventos que serão notícia não só na América Latina mas também no mundo em 2024 e que já estiveram no radar em 2023:

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1. Rumo dos juros nos EUA e no Brasil

Reserva Federal en Washington D.C.

O ano de 2023 foi marcado pelo monitoramento global dos rumos das taxas de juros na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos. Isso ditou os comportamentos e as decisões de alocação de investidores. E isso continuará no radar no ano que começa, com visões divergentes sobre o momento em que o Federal Reserve (Fed) avaliará que será propício iniciar o ciclo de afrouxamento monetário.

Diretamente relacionada à política monetária do Fed, a saúde da economia americana seguirá no centro de atenções de investidores no ano que começa, em particular a tese do soft landing, o pouso suave que significa uma desaceleração da economia sem que ela entre em recessão, ao mesmo tempo em que a inflação volta à meta de 2% ao ano.

Alguns países latino-americanos, incluindo o Brasil, tiveram uma vantagem inicial na luta contra a inflação no pós-pandemia e já iniciaram o corte de juros, mas a grande questão agora se concentra na velocidade com que a política monetária se normalizará para evitar novos choques na economia.

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Enquanto isso, muitos países da região se preparam para um período de desaceleração na economia, e a América Latina enfrenta um grande desafio de tomar medidas para voltar a um caminho de crescimento mais sustentado após uma década perdida, de acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

A Cepal ajustou para cima suas projeções de crescimento para 2023 na América Latina e no Caribe para 2,2% em relação aos 1,7% estimados em setembro, embora considere que esse nível ainda reflita não apenas um “problema conjuntural” mas uma síndrome de longo prazo que não está mais relacionada principalmente aos efeitos da pandemia.

2. Eleições nos EUA

Donald Trump Holds Iowa Campaign Rally

Os questionamentos legais à candidatura de Donald Trump para presidente dos EUA estão aumentando no momento em que a corrida para a eleição presidencial de 2024 esquenta. Ele é considerado nome mais forte do Partido Republicano para desafiar o democrata Joe Biden, que busca a reeleição nas eleições em novembro.

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O ex-presidente pode enfrentar até seis processos criminais e civis neste ano, incluindo ações judiciais contra ele, sua família e empresas, muitos relacionados ao seu alegado envolvimento nos ataques contra o Capitólio e a democracia dos EUA em janeiro de 2021, após sua derrota na eleição para Biden.

Quatro desses julgamentos já foram agendados. Os julgamentos, alguns dos quais devem durar semanas, coincidem com datas importantes das eleições primárias, levantando questões sobre os obstáculos e as consequências que Trump enfrentará em sua campanha de 2024.

Os eleitores do Partido Republicano escolherão seu candidato em uma série de primárias que começam em 15 de janeiro no estado de Iowa.

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Ele pode ser retirado das eleições primárias já em dois estados, Colorado e Maine, o que pode se tornar um obstáculo relevante às suas pretensões de ser indicado como candidato republicano.

As mais graves são duas acusações criminais contra Trump, que podem acarretar penas de prisão. Uma delas foi apresentada pelo Departamento de Justiça e a outra por promotores estaduais em Manhattan. Trump também enfrenta dois processos civis em tribunais estaduais e federais de Nova York.

Dois outros possíveis processos criminais envolvendo Trump continuam em aberto. O conselheiro especial Jack Smith está conduzindo uma segunda investigação contra o ex-presidente sobre os seus alegados esforços para tentar anular os resultados das eleições de 2020.

Em setembro, Donald Trump foi considerado responsável por fraude por exagerar seu patrimônio líquido em bilhões de dólares por ano em registros financeiros apresentados a bancos e seguradoras, um grande golpe para o ex-presidente no maior processo civil contra ele.

No Brasil, será também ano de eleições municipais em outubro, que vão testar como ficou a preferência do eleitorado de forma geral depois de dois anos de governo presidencial de Lula, do PT, representante de esquerda.

3. Reformas no Brasil

O presidente Lula inicia o seu segundo ano de mandato em 2024 (Foto: Andressa Anholete/Bloomberg)

Luiz Inácio Lula da Silva retornou ao poder no Brasil no ano passado e buscou avançar com um novo arcabouço fiscal de médio prazo e com uma agenda de reformas, medidas que contaram com o apoio de lideranças como Fernando Haddad, ministro da Fazenda, Arthur Lira, presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.

Para 2024, a expectativa de investidores e empresários é pela continuidade dessa agenda e de medidas que mostrem o comprometimento de fato do governo com as contas públicas.

A agência de classificação de risco Moody’s observou em um relatório recente que o novo governo “revisou a estrutura fiscal para permitir maiores gastos públicos em investimentos e programas sociais, além de apresentar um plano de energia verde e sustentabilidade”.

Com relação à reforma tributária, a Moody’s ressaltou que ela visa aumentar as receitas públicas e destaca que terá implicações positivas para a qualidade de crédito do Brasil, embora os benefícios se materializem após sua entrada em vigor em 2026.

Lula também iniciou uma campanha internacional para tentar recuperar o papel de liderança da maior economia da América Latina no exterior, bem como para falar sobre questões ambientais, o que deve prosseguir no radar em 2024.

No fim de 2023, o Brasil assumiu a presidência do G20 pela primeira vez desde sua criação em 1999, em mandato que vai até 20 de novembro de 2024. Em uma reunião preparatória que antecedeu o encontro do grupo dos países mais poderosos do mundo, Lula incentivou “instituições financeiras internacionais a reduzir as sobretaxas, aumentar o volume de recursos concessionais e criar fórmulas para reduzir riscos”

4. El Niño e choques ambientais

Asistente a la COP28 caminan por la Blue Zone

Questões ambientais em geral estiveram no centro da agenda de 2023 diante do lento progresso do mundo para atingir as metas climáticas, além dos efeitos iniciais do El Niño sobre as economias, à medida que o mundo luta contra a inflação e, principalmente, contra o aumento dos preços dos alimentos.

O El Niño se aproxima de níveis recordes e pode ser um dos cinco mais intensos desde 1950, em meio ao aquecimento das águas no Pacífico equatorial, de acordo com o Centro de Previsão Climática dos EUA.

O órgão ajustou a probabilidade de as temperaturas da água atingirem 2°C acima do normal em toda a região de 35% para 54%, informou a Bloomberg Línea.

Também na área ambiental, a COP28, realizada no final de novembro e no início de dezembro em Dubai, trouxe novos compromissos.

Por um lado, foi aprovada a criação de um fundo de perdas e danos voltado para os países mais vulneráveis à crise climática, que será administrado pelo Banco Mundial (por um período provisório de quatro anos) de acordo com as condições estabelecidas pelos países em desenvolvimento, o que poderia facilitar o acesso rápido a recursos para cada mercado, sem exceções.

Por outro lado, os países concordaram na COP28 com um roteiro para a “transição para longe dos combustíveis fósseis”, embora a ONU avise que “ficou aquém da eliminação gradual necessária de petróleo, carvão e gás”.

Um relatório da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), apresentado antes da COP28, advertiu que os esforços atuais são insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius e cumprir as metas do Acordo de Paris.

A principal conclusão é que, embora as projeções de emissões não estejam mais aumentando após 2030, em comparação com os níveis de 2019, “elas ainda não estão demonstrando a rápida tendência de queda que a ciência diz ser necessária nesta década”.

A ONU detalha que, até 2030, as emissões deverão estar 2% abaixo dos níveis de 2019. De acordo com a análise, isso sugere que o pico das emissões globais ocorrerá nesta década.

5. O avanço da IA

Satya Nadella, right, speaks on stage with Sam Altman during the OpenAI DevDay event on Nov. 6.

Um dos temas de negócios que marcaram o ano de 2023 foi o avanço da Inteligência Artificial (IA) generativa, com o ChatGPT, da OpenAI de Sam Altman, no centro dos holofotes.

Deve continuar assim em 2024, com especialistas apontando que empresas devem alcançar ganhos mais significativos de produtividade com o uso dessa tecnologia, além de casos práticos de aplicação transversal em seus negócios.

Big techs que vão da Microsoft, principal investidora na OpenAI, até Google e Meta, avançam com o desenvolvimento e a disponibilização de seus principais produtos para o consumidor integrados com soluções de IA generativa, o que deve ampliar a popularização da mesma.

6. Governo de Milei na Argentina

Foto: Bloomberg.

A Argentina deu uma guinada política à direita nas eleições de novembro de 2023. Em meio à grave crise econômica que o país sul-americano enfrenta, o novo presidente argentino, Javier Milei, adotou um pacote de choque ações para superar a situação atual. Um dos objetivos é reduzir o peso da intervenção do estado na economia depois de décadas com esse modelo.

Entre as medidas anunciadas pelo novo ministro da economia argentino, Luis Caputo, estava a desvalorização do peso argentino em 54%, com a taxa de câmbio oficial saltando 118% para US$ 800.

O novo governo também anunciou um aumento provisório do imposto PAIS (que se aplica à compra de dólares) para as importações, embora não tenha especificado o valor desse aumento. Também anunciou um aumento nos impostos retidos na fonte sobre exportações não agrícolas.

Outro dos principais anúncios de câmbio foi a substituição do atual sistema de importação SIRA por um sistema estatístico e de informações que não exigirá aprovação prévia de licenças. De acordo com o ministro, o objetivo da taxa de câmbio oficial é “fazer com que os setores produtivos tenham os incentivos certos para aumentar sua produção”.

7. Guerra no Oriente Médio

Ningún lugar seguro en Gaza: Israel intensifica su ofensiva

Os conflitos retornaram ao Oriente Médio em 2023 depois que o Hamas, grupo classificado como terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, lançou uma ofensiva surpresa contra Israel em 7 de outubro. O ataque levou a uma grave escalada da violência na região e aumentou as tensões entre os aliados de Israel e os palestinos, gerando, por sua vez, incerteza nos mercados, especialmente no comércio internacional e em commodities como o petróleo.

O intenso conflito com grupos palestinos se concentrou na Faixa de Gaza, onde “1,9 milhão de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas, levando a condições de abrigo superlotadas, incluindo a falta de saneamento adequado, e a um aumento maciço de doenças”, de acordo com as Nações Unidas.

Em meados de dezembro, dois terços dos 36 hospitais da Faixa de Gaza e mais de 70% dos centros de saúde primária estavam fora de serviço, de acordo com a ONU.

O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, disse ao conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, em Tel Aviv, que a guerra contra o Hamas levará tempo. “O Hamas é uma organização terrorista [...] com uma infraestrutura subterrânea e no solo que não é fácil de destruir. Levará um período de tempo que será superior a vários meses, mas venceremos e os destruiremos”, disse ele.

8. Guerra na Ucrânia

Ucrania

A guerra na Ucrânia, que eclodiu no fim de fevereiro de 2022, segue sem desfecho à vista e marcou grande parte do ano de 2023, em meio aos choques que causou nos suprimentos globais de commodities. Isso ainda pressiona a inflação global em segmentos como o de alimentos.

A Ucrânia está atualmente envolvida em um intenso conflito em suas regiões orientais contra a Rússia e enfrenta desafios como a falta de tropas e a incerteza sobre o apoio militar dos Estados Unidos e de outras nações, uma situação que persistirá neste ano de 2024, de acordo com a Bloomberg News.

Em sua coletiva de imprensa anual, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a contraofensiva ucraniana que começou no verão passado “não conseguiu nada em lugar nenhum”, sinalizando que não pretende buscar um acordo para encerrar a guerra.

“Os próprios militares ucranianos reconhecem que é uma via de mão única”, disse o líder russo.

A Rússia disse que suas tropas na Ucrânia totalizam cerca de 617 mil combatentes. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, por outro lado, continua com sua estratégia de reunir apoio internacional e entrou em contato com líderes latino-americanos.

“O apoio e uma voz poderosa da América Latina ao lado do povo ucraniano em nossa luta pela liberdade e democracia são muito importantes para nós”, disse ele ao seu colega equatoriano, Daniel Noboa. Zelenskiy viajou de Kiev para Buenos Aires para a posse de Javier Milei como presidente da Argentina.

9. México: fim da era AMLO

Nearshoring no México e fim da era López Obrador

O México esteve no radar de investidores globais em 2023, com a atenção voltada especialmente para os esperados efeitos do nearshoring - o processo de realocação de investimentos produtivos para perto de mercados consumidores -, à medida que o presidente Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, entra na reta final de seu governo e, em 2024, os mexicanos voltam às urnas para as eleições federais.

O México espera um investimento estrangeiro direto de US$ 106,4 bilhões nos próximos dois ou três anos, um número antecipado pelo governo com base nos planos de empresas internacionais.

Os planos anunciados, que em média poderiam representar US$ 35,4 bilhões por ano, vêm principalmente de empresas dedicadas à manufatura (40%) e representam a expansão de empresas criadas no México por estrangeiros (67%), segundo o Ministério da Economia.

A Moody’s considera que há “um risco maior de mudanças e intervenções regulatórias em determinados setores” no contexto da transição política no México, de modo que “as decisões que contribuem para um ambiente operacional incerto e restrições de infraestrutura reduzirão os benefícios do nearshoring”.

10. Ofensivas de Elon Musk

2023 marcou um ano de Elon Musk à frente do antigo Twitter, agora conhecido como X  (Foto: Chandan Khanna/AFP/Getty Images)

Alguém tem dúvidas de que o homem mais rico do mundo continuará a buscar os holofotes globais com suas iniciativas de inovação e suas declarações sobre tudo, não necessariamente nessa ordem?

Um exemplo é a gestão do X, a plataforma social anteriormente conhecida como Twitter.

A empresa rebatizada tem enfrentado mudanças que vão além de sua identidade: a estratégia e as políticas deram uma guinada e se afastaram cada vez mais de seu conceito inicial, visando mais a monetização.

“Não se trata apenas de uma empresa que muda de nome”, resumiu Musk, que sinalizou que pretende transformar a plataforma em um super app, uma espécie de Santo Graal de empresas de tecnologia e de outras que atuam na venda de produtos e serviços ao consumidor final, em razão do seu potencial de monetização em boa parte em cima de uma vastidão de dados acumulados.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.

Sebastián Osorio Idárraga

Comunicador social e jornalista. Ex-editor da revista Hogar en Semana. Ex-jornalista econômico da Revista Dinero e da Radio Nacional de Colombia. Podcaster.