Onde investir em 2024: as oportunidades em ações, renda fixa e no mercado global

A Bloomberg Línea conversou com estrategistas e gestores e analisou relatórios de bancos e corretoras para entender e contar como realocaram o portfólio no ano que começa

En la Bolsa de Nueva York, los operadores hacen una pausa tras la gran subida de noviembre
02 de Janeiro, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Depois de um ano em que decisões de política monetária sobre os juros ditaram o rumo dos mercados, investidores entram em 2024 novamente atentos à trajetória das taxas básicas, mas, desta vez, com foco sobre em que momento e até que ponto os bancos centrais vão conseguir reduzi-las.

Em um cenário externo marcado ainda por conflitos geopolíticos, eleições nos Estados Unidos e maior volatilidade, o sentimento permanece o de cautela. Enquanto isso, na cena doméstica, o avanço de reformas e o ciclo de flexibilização monetária em curso pelo Banco Central trazem algum otimismo.

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Seja na renda fixa, em que os prêmios continuam a superar o CDI, seja na Bolsa, em que os juros mais baixos devem aliviar a pressão sobre o resultado financeiro das empresas, investidores podem encontrar oportunidades em diversas classes de ativos nos próximos meses.

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A Bloomberg Línea conversou com estrategistas e gestores e analisou relatórios de bancos e corretoras para entender quais as principais oportunidades na renda fixa, na renda variável e no mercado internacional no ano que começa, sob a perspectiva de realocação de portfólio. Confira o que disseram:

Renda Fixa

Uma das classes de ativos preferidas de 2023 deve continuar a brilhar neste novo ano, segundo especialistas, em especial aqueles papéis que se beneficiam da queda dos juros.

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Com uma expectativa de continuidade no alívio dos preços e de consequente corte da Selic, a Guide Investimentos disse preferir títulos prefixados e IPCA+ (antiga NTN-B), em especial os de duration (prazo médio para recuperar o montante investido acrescido dos juros) mais longo. Esses papéis, contudo, costumam ser mais sensíveis ao movimento dos juros e, por isso, podem apresentar maior volatilidade.

Apesar de os títulos públicos ainda se mostrarem atrativos, segundo os estrategistas Victor Beyrut, Rafael Pacheco e Fernando Siqueira, da Guide, papéis de crédito privado, como debêntures, CRIs e CRAs, ainda possuem um spread elevado em relação aos públicos.

“Isso pode ser explicado pela exigência de maiores prêmios por parte dos investidores após toda a turbulência no mercado de crédito no começo de 2022″, escreveram em relatório em referência ao que aconteceu um ano atrás com a recuperação judicial da Americanas e, depois, da Light.

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Essa avaliação também foi colocada por Daniela Gamboa, head de crédito privado e imobiliário da SulAmérica Investimentos. “Tem a questão técnica positiva, de investidores alocando recurso na classe, e a fundamentalista, de que após um ano com eventos como Light e Starbucks – com companhias alavancadas e com dificuldade de pagar juro alto –, há bastante espaço em 2024 para os fundamentos das companhias melhorarem em meio à queda da Selic”, disse em evento no fim de novembro.

Mas, apesar da maior atratividade do crédito privado, Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, reforçou a necessidade de maior atenção de parte de investidores. “Vale observar como as empresas vão reportar seus resultados com a queda da Selic. É preciso uma cautela com os prazos, de forma a não alongar demais”, disse durante evento para a imprensa na sede da XP, em São Paulo.

Enquanto o relatório Focus, do BC, apontou uma mediana de estimativas de taxa Selic de 9% ao ano ao fim de 2024, Huang Seen, head de renda fixa da gestora britânica Schroders no Brasil, disse acreditar que o cenário pode evoluir de forma que permita mais espaço para cortes da taxa básica.

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Segundo ele, papéis prefixados e indexados ao IPCA continuam atrativos e ainda não precificam nem uma aceleração nos cortes dos juros nem uma Selic terminal mais baixa. A casa estima uma taxa igual ou abaixo de 8,5% ao ano.

“Se ambas as coisas acontecerem, os dois ativos tendem a outperformar o CDI”, disse Seen em entrevista à Bloomberg Línea. “Por mais que o BC já tenha iniciado o ciclo de corte de juros, ainda tem bastante espaço para ganho nesses papéis.”

Nas carteiras da casa, o especialista contou que prefere papéis prefixados com vencimento intermediário (de dois a quatro anos), que são mais sensíveis à política monetária e menos à questão fiscal. Já as NTN-Bs podem ser mais longas, dado que contam com a proteção da inflação, disse.

No crédito privado, Seen afirmou que, por mais que o mercado tenha se ajustado desde os eventos de crédito no início de 2023, os papéis ainda não voltaram aos níveis anteriores. É preciso, contudo, ser seletivo, ressaltou.

“Alguns setores ainda devem passar por dificuldades, por isso é necessário uma análise seletiva maior, justamente para separar o joio do trigo.”

Spreads atrativos hoje, segundo ele, encontram-se na casa de CDI mais 1,5% nos papéis de alta qualidade. “Papéis a partir de rating AA podem ser interessantes, desde que feita uma análise mais detalhada”, completou.

Renda variável

Bolsa brasileira

Embora ativos de renda fixa continuem a entregar retornos considerados atrativos, a bolsa deve voltar a ganhar mais espaço na carteira dos investidores nos próximos meses em meio à queda da Selic.

Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head do research da XP, avaliou que a bolsa brasileira está descontada e que os setores mais atrativos nos próximos meses são os de bancos, petróleo e elétricas.

Enquanto o primeiro tende a se beneficiar de uma menor inadimplência dos clientes, as petroleiras seguem gerando “bastante caixa” e as perspectivas são de preços ainda elevados para o petróleo.

Dentre os bancos, Itaú Unibanco (ITUB4) é top pick, disse Ferreira, dada a consistência de seus resultados. Outro nome é o do Banco do Brasil (BBAS3), que possui um desconto “excessivo” e deve continuar a se beneficiar de bons resultados e do cenário favorável para o agronegócio em 2024.

Para empresas voltadas à economia doméstica, contudo, a recomendação ainda é de cautela, com foco em empresas com maior qualidade de balanço e menor nível de endividamento.

“Por mais que as empresas possam se beneficiar da queda dos juros, a economia não deve crescer muito. Por essa razão, o investidor tem que ficar de olho na saúde dos balanços”, afirmou Ferreira. “Não é hora de tomar risco desnecessário.”

O diretor de renda variável da Schroders para Brasil e América Latina, Pablo Riveroll, contou à Bloomberg Línea que o Brasil continua sendo um dos países mais atrativos dentre os emergentes, com uma combinação “de valuations baratos e lucros abaixo do potencial”.

A preferência é por setores com capacidade de recuperação, com melhora de estrutura de mercado – de preferência, aquelas empresas líderes do setor em que atuam. É o caso de nomes nos setores automotivo, de saúde, bancos de investimento e utilities. Outros como o de varejo, em especial o de e-commerce, ainda devem enfrentar ventos contrários, alertou Riveroll.

Fundos Imobiliários

Em um cenário de flexibilização monetária, Fernando Siqueira, da Guide, apontou para melhores perspectivas em 2024 para os investimentos alternativos.

Em relatório, o estrategista avaliou que há espaço para valorização na classe como um todo. No caso dos fundos “de papel” (que investem em certificados de recebíveis imobiliários, os CRIs), estes “devem se beneficiar diretamente da queda dos juros visto que a precificação dos ativos muda com as mudanças nas taxas”.

A recomendação é a de uma carteira diversificada, evitando fundos de papel “high yield” (de maior risco e, consequentemente, maior possibilidade de retorno).

Internacional

Em 2023, as bolsas americanas alcançaram ou se aproximaram de recordes nominais, com ganhos de 24% no S&P 500 e 68% no Nasdaq 100, com grande exposição ao setor de tecnologia. O tema da Inteligência Artificial (IA) ganhou os holofotes e contribuiu em grande parte para o boom de ações do setor.

Apesar de se dizer otimista com o ganho de produtividade com a IA, a avaliação de Daniel Martins, CEO da GeoCapital, é de que o mercado “precificou rápido demais esse benefício”.

Por entender que “muita coisa boa já está no preço”, Martins disse ter começado a reduzir as posições em big techs nos últimos meses e a rodar o portfólio em prol de outras empresas que não são necessariamente ligadas à tecnologia mas que também se beneficiam dela.

“Procuramos histórias que dependam menos do cenário macro e mais de questões intrínsecas delas. Mesmo com uma desaceleração da economia, essas empresas demonstram oportunidades interessantes para alocação de capital”, disse.

Ele citou, por exemplo, empresas como a gigante de mídia Walt Disney (DIS), a mineradora de lítio Albemarle (ALB), bem como a farmacêutica Moderna (MRNA).

“A inflação arrefecida em 2024, somada à uma economia americana robusta e menor custo de capital, deve fazer com que a classe de ações globais fique mais atrativa”, disse.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.