Multimercados têm resgate de R$ 81 bi até junho e veem consolidação acelerar

Em contexto adverso persistente para ativos de risco, gestoras tendem a reestruturar equipes e portfólios de fundos, o que inclui M&As, segundo Pedro Rudge, diretor da Anbima

Avenida Faria Lima, em São Paulo: movimento de consolidação de gestoras deve continuar, segundo a Anbima
05 de Julho, 2024 | 01:13 PM

Bloomberg Línea — Os fundos multimercados voltaram a registrar resgates no resultado consolidado do primeiro semestre de 2024, com captação líquida negativa de R$ 81 bilhões, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (5) pela Anbima, a associação que reúne as empresas e as entidades do mercado de capitais brasileiro.

Em um cenário mais desafiador, com patamar de dois dígitos da taxa básica de juros e incertezas no exterior e no país, o sentimento de aversão por parte do investidor ao risco tem penalizado tais fundos. Isso contribui para resgates e desempenho abaixo do CDI, o principal benchmark de renda fixa.

O movimento tem levado à uma consolidação da classe e, segundo Pedro Rudge, diretor da Anbima, tende a contribuir para a redução de fundos e gestoras no mercado.

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Neste ano até maio, o segmento de pessoas físicas e conta e ordem (clientes de plataformas) retirou R$ 49,6 bilhões dos multimercados. Já o número desses fundos caiu de 13.895, em setembro de 2023, para 13.286 em maio deste ano, enquanto o número de contas também recuou.

Parte dessa redução, segundo Rudge, pode ser explicada pela reestruturação de fundos fechados após o início de tributação desses produtos em outubro passado, com um movimento de cisão ou transformação de cerca de 300 a 400 multimercados em outros fundos.

Outro motivo, e mais relevante, é o contexto atual, segundo ele. “A saída de recursos dos multimercados tem sido relevante e muito fundo tem diminuído de tamanho. Também estamos vendo, em alguns casos, junção de equipes e assunção de uma gestora por outra”, disse Rudge em entrevista coletiva de imprensa nesta quinta.

“É um movimento [de consolidação] até natural. Determinados fundos/gestores podem se questionar se faz sentido continuar com um fundo pequeno dada a estrutura necessária, remuneração etc.”

Na rentabilidade acumulada no ano, os multimercados do tipo estratégia específica foram os únicos que bateram o CDI no período, com ganhos de 6,01%, ante variação de 5,22% do referencial.

As dúvidas com relação ao mercado externo e ao equilíbrio fiscal no Brasil, além do patamar da Selic, têm sido os principais ventos contrários para a performance da classe, disse Rudge, que também é sócio-fundador da gestora Leblon Equities.

“O cenário ainda continua desafiador, embora com um pouco de mais clareza. Acho que ainda podemos ver certa dispersão em termos de rentabilidade e retorno nessa classe de ativos e, eventualmente, alguma saída de recursos. Esse movimento já tem sido visto há mais de ano, então a tendência é que diminua em algum momento, dado que aqueles investidores que quiseram sair, a princípio já saíram.”

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Indústria tem captação positiva

A indústria de fundos de investimento como um todo encerrou o primeiro semestre de 2024 com captação líquida positiva de R$ 159 bilhões, revertendo um desempenho negativo registrado no mesmo período do ano passado. Foi a maior captação desde 2021.

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Nos primeiros seis meses do ano, fundos de renda fixa se destacaram com entrada líquida (aportes menos resgates) de R$ 192,5 bilhões. Aqueles de duração livre e crédito privado, bem como os de média duração grau de investimento, totalizaram quase R$ 150 bilhões em captações.

Demais classes que fecharam no azul foram as de FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios, com R$ 20,4 bilhões), fundos de previdência (R$ 16,9 bilhões) e FIPs (Fundo de Investimento em Participações, com R$ 12,5 bilhões).

Além dos multimercados, fundos de ações também registraram saídas - de R$ 100 milhões - no período de janeiro a junho. Aqueles que podem investir acima de 40% em ativos no exterior tiveram a maior participação nos resgates, com R$ 44,9 bilhões.

“Ainda é cedo para ver uma tendência de retorno a ativos de maior risco. Minha leitura é que o movimento de saída já se reduziu bastante, mas que ainda há uma aversão ao risco e patamar alto de juros, o que faz com que os investidores prefiram ativos mais conservadores”, disse Rudge.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.