Bloomberg — Diante da alta dos juros no Brasil, que mostra as fraquezas nos balanços de algumas instituições financeiras, a abordagem previsível e constante de um gigante local conquista investidores.
O Itaú Unibanco, maior banco da América Latina em ativos, tem 15 recomendações de “compra” de analistas, mais do que qualquer um de seus principais concorrentes, após o HSBC e o UBS BB Investment Bank elevarem sua classificação no mês passado.
É o único sem recomendação de “venda” e suas ações subiram mais do que as dos demais grandes bancos incumbentes do Brasil nos últimos 12 meses.
A visão positiva decorre das expectativas de que o Itaú (ITUB4) manterá sua capacidade de resistir em um ambiente de alta nos juros e de maior risco de inadimplência nos empréstimos, que podem prejudicar o setor bancário. As fintechs, em particular, devem ser afetadas por sua presença maior junto aos clientes mais vulneráveis.
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A maior empresa financeira da América Latina por valor de mercado, o Nubank (NU), por exemplo, é forte no mercado de cartões de crédito para pessoas de mais baixa renda. Das 24 recomendações de analistas para as ações da fintech, metade são de “venda” ou “manutenção”.
O Itaú, por outro lado, tem vantagens competitivas, “como uma enorme base de clientes, uma marca forte, muito capital e lucratividade”, disse Florian Bartunek, diretor de investimentos e cofundador da gestora Constellation, em entrevista à Bloomberg News.
“Os investidores estão buscando empresas mais previsíveis com ações defensivas e líquidas para evitar ficar presos quando precisam vender, e com dividendos promissores.”
O Itaú levou a sério a batalha contra as fintechs, cedendo terreno propositalmente em alguns mercados enquanto se remodelava, mantendo a lucratividade à medida que se expandia.
Mas há desafios.
Com um balanço tão grande quanto o do Itaú, com ativos totais de mais de R$ 3 trilhões, o banco provavelmente será afetado por uma desaceleração na economia brasileira e terá que reduzir o ritmo de sua expansão de crédito, disse Malek Zein, analista da Eleven Financial Research. E isso pode prejudicar o retorno sobre o capital, disse ele.
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As ações do Itaú caíram na quinta-feira (6) após o banco brasileiro ter divulgado os resultados do quarto trimestre, com dividendos e guidances para 2025 abaixo do que o mercado esperava. O Itaú disse que espera um crescimento da carteira de empréstimos de 4,5% a 8,5% neste ano, em comparação com uma expansão de 15,5% em 2024.
O analista do JPMorgan Yuri Rocha Fernandes disse em relatório que o guidance para 2025 estava “aquém das expectativas”, mas acrescentou que ele vê melhorias na maioria das métricas de qualidade de ativos do Itaú.
“O guidance não é estático”, disse o CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, em uma teleconferência com analistas. “Podemos revisá-lo, mas o grau de incerteza é muito alto neste momento.”
Desistir de negócios como o crédito para clientes de mais baixa renda foi uma decisão consciente do Itaú, ao perceber a ameaça das fintechs, que têm menor custo, pois não têm agências e possuem menos empregados.
A mudança significou que o Itaú sofreu menos do que alguns de seus rivais quando o Banco Central, a partir de 2021, elevou a taxa básica Selic de 2% para 13,75% ao ano em um período de apenas 17 meses, o que desencadeaou um aumento na inadimplência nos empréstimos.
“O Itaú conseguiu fazer uma boa leitura de sua capacidade competitiva no segmento e também do ambiente macroeconômico, percebendo mais rápido que os concorrentes que clientes de menor renda enfrentariam dificuldades”, disse Bernardo Guttmann, analista chefe de bancos da XP, a maior corretora de ações do Brasil.
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E agora que a Selic está em alta novamente, analistas veem o mesmo cenário se repetindo.
“O Itaú entra neste novo ciclo de aperto com um balanço mais saudável, com mais liquidez e com mais capacidade de originar crédito que seus concorrentes”, disse Larissa Quaresma, analista da casa de análises Empiricus. “A taxa de inadimplência em sua carteira de empréstimos provavelmente aumentará, mas menos que a dos concorrentes.”
Guttmann destacou os resultados do terceiro trimestre do Nubank, que “já mostraram um certo esgotamento em sua dinâmica de crescimento e uma trajetória de alta das taxas de inadimplência”.
O Nubank disse em comunicado que “tem um modelo de crédito robusto e ágil” que permite à fintech ser competitiva e, ao mesmo tempo, controlar a inadimplência.
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Enquanto cedeu terreno em alguns mercados, o Itaú lutou por participação no negócio de serviços financeiros às pessoas de renda mais alta.
Nessa arena, o banco enfrentou concorrência da XP, que, com uma plataforma digital e uma estratégia modelada no supermercado financeiro americano Charles Schwab, foi a primeira a oferecer à classe média brasileira investimentos antes disponíveis apenas para os muito ricos.
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O Itaú tentou inicialmente adquirir a XP, comprando uma participação de 49,9% em 2017, mas o Banco Central bloqueou uma aquisição que lhe daria o controle por pelo menos oito anos a partir daquela data. O banco decidiu abrir sua própria plataforma digital de investimentos, chamada íon, e acabou vendendo ações da XP.
Também adquiriu uma participação na Avenue, uma corretora com sede em Miami que atende pessoas físicas latino-americanas que desejam investir no exterior. Também criou um superaplicativo que combina todos os seus serviços.
Esses movimentos ajudaram o Itaú a reter mais clientes. O total de ativos de clientes sob gestão, custódia e administração atingiu R$ 3,3 trilhões, 8,9% acima do número visto no fim de 2023.
Quaresma, da Empiricus, disse que o Itaú também pode se beneficiar da integração de seus negócios de adquirência com os serviços bancários gerais que fornece às empresas. A estratégia do banco de evitar empreendedores individuais muito pequenos, que têm maiores taxas de inadimplência, e focar em empresas com mais de R$ 10 milhões em receita, também deve ser mais segura, disse ela.
As fintechs Stone (STNE) e PagBank (PAGS), que atraíram investidores como Warren Buffett e Jack Ma no passado, tendem a sofrer mais com o aumento das taxas de juros no Brasil devido ao seu maior custo de financiamento e à exposição a clientes mais arriscados.
Depois de surfar com sucesso o último ciclo de crédito ao consumidor, apesar de ser o maior player em cartões de crédito, o Itaú “reiniciou cautelosamente os empréstimos”, disseram analistas do HSBC.
Embora as ações sejam negociadas com prêmio em relação aos seus pares, o banco é “inquestionavelmente o ‘porto seguro’ no setor”, disseram eles.
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