Fundos têm resgates de R$ 13,6 bi em setembro e revertem tendência positiva

No acumulado do ano, a indústria do setor teve saída líquida de recursos de R$ 84,6 bilhões; multimercados lideraram as saídas, com resgates de R$ 57 bilhões

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Bloomberg Línea — Após dois meses consecutivos de captação positiva, a indústria brasileira de fundos de investimento voltou a registrar resgates em setembro, com saída líquida de R$ 13,6 bilhões. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (6) pela Anbima, a associação que representa o setor.

O sentimento de maior aversão ao risco por parte de investidores, ampliado em grande parte pela cautela externa diante das preocupações com juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos, contribuiu para a busca de aplicações mais conservadoras no período.

“Um aumento no rendimento dos títulos do Tesouro americano somado ao medo de que a inflação nos EUA permaneça elevada e faça com que o Fed mantenha os juros ainda mais altos implica menos dinheiro global disponível para emergentes, com os investidores concentrando a liquidez nesses títulos”, disse Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, durante entrevista com jornalistas nesta sexta-feira (6).

Apesar dos resgates em setembro, os fundos de investimento encerraram o terceiro trimestre no azul, com captação líquida de R$ 38,4 bilhões, com destaque para a entrada de R$ 35,6 bilhões em fundos de renda fixa. No acumulado do ano, contudo, o resultado total segue negativo em R$ 84,6 bilhões.

Os meses de julho e agosto tinham registrado captação líquida positiva de R$ 22,4 bilhões e R$ 29,6 bilhões, respectivamente.

Os fundos multimercados seguem liderando as saídas de recursos de investidores em 2023, com resgates de R$ 57 bilhões. Na sequência, aparecem os fundos de ações (com R$ 39,5 bilhões de resgates) e os de renda fixa (com saídas de R$ 37,5 bilhões).

Rudge destacou que, mesmo com uma performance positiva no ano até o momento – de 4,9% da subclasse “macro”, por exemplo –, os multimercados seguiram vendo saída de dinheiro.

“É uma conjunção de fatores: incerteza, juros altos e maior oferta de títulos isentos [de Imposto de Renda]. Mas é uma classe de fundos que consegue navegar em tempos mais desafiadores e, até por questões de diversificação, é uma classe em que segue fazendo sentido ter exposição”, disse.

No ano até setembro, o Ibovespa (IBOV) avançava 6,2%, o real se valorizava 4% ante o dólar e o CDI tinha variação de 9,9%.

No caso da renda fixa, investidores têm buscado papéis soberanos, mais conservadores, na busca por um “porto seguro” dado o contexto mais volátil e de grande incerteza, afirmou Rudge, que também é sócio-fundador da gestora Leblon Equities.

Fundos fechados e exclusivos

Segundo a Anbima, os fundos fechados – que não podem receber aplicações e resgates a qualquer momento – somavam patrimônio líquido de R$ 1,9 trilhão até agosto.

Desse montante, 12,1% são fundos exclusivos (de único cotista), mas a grande maioria (87,9%) tem mais de um cotista. Entram nesse grupo, por exemplo, Fundos Imobiliários (FIIs) listados em bolsa e Fundos de Investimento em Participação (FIPs).

Já quando analisados apenas os fundos exclusivos, o patrimônio líquido somava R$ 969,5 bilhões até agosto. Desse total, a maior parte (75,9%) corresponde a fundos abertos (já expostos ao come-cotas, quando adequado).

Esses fundos têm ganhado destaque no noticiário em meio à tramitação de um projeto no Congresso para tributação de fundos exclusivos e offshore. A medida visa, dentre outras objetivos, impulsionar o recolhimento de impostos e viabilizar as metas definidas no novo arcabouço fiscal.

“Até agora não vimos movimentações relevantes nesses fundos. Mas isso não quer dizer que no decorrer da aprovação do projeto e, tendo a redação final do texto, não vejamos alguma mudança. É possível vermos cisões e fusões, por exemplo, uma vez que o texto esteja definido”, disse Rudge.

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