Bloomberg Línea — A indústria brasileira de fundos de investimento encerrou o primeiro trimestre de 2024 com captação líquida de R$ 105 bilhões, o segundo melhor resultado para o período nos últimos cinco anos. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (5) pela Anbima, a associação que representa o setor.
O avanço do ciclo de cortes de juros no Brasil e as novas regras que limitaram a emissão de instrumentos financeiros isentos de Imposto de Renda para o investidor pessoa física estão entre os principais motivos para essa retomada, segundo Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima.
A recuperação foi influenciada pela classe de renda fixa, que registrou entrada líquida de R$ 131,7 bilhões no período, contrastando com a saída de R$ 11,8 bilhões nos primeiros três meses de 2023, quando a indústria de fundos como um todo sofreu resgates líquidos de R$ 73,4 bilhões.
“Com títulos [de renda fixa isentos] mais restritos, fundos de renda fixa e infraestrutura acabam ganhando mais atratividade. O investidor, naquele leque de alternativas, acaba concluindo que ficou mais atrativo investir por meio de fundos de investimento”, afirmou Rudge durante entrevista a jornalistas nesta sexta.
Apesar de uma recuperação dos fundos de renda fixa, os multimercados e de ações seguiram no vermelho, com saídas líquidas de R$ 28,2 bilhões e de R$ 2,1 bilhões no acumulado do ano, respectivamente.
Até março, a indústria de fundos somava um patrimônio líquido de R$ 8,7 trilhões, crescimento de 15,5% ante março de 2023.
Crédito privado é destaque
Os fundos de renda fixa crédito privado ganharam os holofotes nos últimos meses, após a restrição do Conselho Monetário Nacional (CMN) a títulos isentos levar à uma redução nas ofertas.
“Um concorrente importante para os fundos ficou com uma capacidade limitada de oferta”, disse Rudge ao citar o vencimento de títulos emitidos há 12 e 18 meses, obrigando investidores a buscar novas alternativas para os recursos.
O carro-chefe no período foram os fundos com mais de 70% de crédito privado na carteira, com o patrimônio líquido atingindo os R$ 843,5 bilhões em fevereiro.
Leia também: Crédito privado volta ao normal, mas ainda há boas oportunidades, diz BTG Asset
“Com os investidores buscando melhores retornos e num cenário de maior confiança, a tendência é que fundos com componente maior de crédito privado recebam maiores aportes”, disse o executivo, que também é sócio-fundador da gestora Leblon Equities.
Ainda na renda fixa, destaque para os fundos de infraestrutura, que tiveram captação líquida (aportes menos resgates) de R$ 22,2 bilhões até março, somando patrimônio líquido de R$ 86,7 bilhões – ou 3% da classe.
“Os fundos de infraestrutura estão experimentando um crescimento interessante nos últimos meses. Temos visto uma procura maior e um lançamento de novos fundos para atender à demanda”, afirmou.
Impacto do Fed
Na avaliação de Rudge, uma eventual demora nos cortes dos juros pelo Federal Reserve pode afetar a decisão de investidores no Brasil, postergando uma tomada de risco por parte do brasileiro e “jogando com mais riscopara frente uma recuperação de produtos mais arrojados, como multimercados e ações.
“As expectativas de corte de juros pelo Fed e de inflação americana impactam até as decisões do próprio Banco Central no Brasil. À medida que vemos uma menor velocidade de queda dos juros, isso pode fazer com que os investidores prefiram e encontrem retornos ainda bastante atraentes na renda fixa”, disse.
A princípio, contudo, o quadro atual não muda o ritmo esperado, segundo Rudge, considerando uma melhora no ambiente de negócios e da situação fiscal no país. “O que vai acontecer é que veremos uma retomada um pouco mais à frendo do que o inicialmente esperado.”
Leia também
Yields estão no maior patamar da última década, mas é preciso cautela, diz Oaktree