Dos baby boomers à geração Z: os principais erros de cada grupo ao lidar com dinheiro

Planejadores financeiros analisam as principais máximas que regem os comportamentos financeiros das gerações e trazem abordagens alternativas

(Foto: Doucefleur/Shutterstock)
Por Claire Ballentine - Charlie Wells
07 de Outubro, 2023 | 03:52 PM

Bloomberg — No dinheiro, assim como na vida, o momento certo é tudo. O problema é que muitos de nós temos que tomar decisões na década errada.

Ouvimos sobre os perigos das dívidas quando somos jovens, mas acabamos pagando as contas erradas primeiro. Sabemos que devemos aumentar as economias para a aposentadoria, mas assumimos o tipo errado de risco. E quando descobrimos que os planos que fizemos na juventude não fazem mais sentido, seguimos em frente com eles mesmo assim.

Os planejadores financeiros afirmam que esses tipos de erros de timing são cada vez mais comuns com cada geração ao entrar em uma nova fase da vida. A metade mais velha da Geração Z está entrando no mercado de trabalho. Os millennials estão aumentando suas famílias – e sua riqueza.

A Geração X, em seu pico de renda, está se tornando a nova “geração sanduíche”. E os últimos baby boomers estão se aposentando. Enquanto isso, as taxas de juros estão mais altas do que nunca ao redor do mundo, o mercado de trabalho está ficando apertado e ainda não se sabe se os Estados Unidos conseguirão evitar uma recessão.

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“O problema com suposições e regras gerais é que estas têm como base o ambiente do momento de sua criação”, disse Mark Struthers, planejador financeiro da Sona Wealth. “Em nosso ambiente atual, estamos vivendo mais e os custos de faculdade, saúde e moradia estão aumentando mais rapidamente do que os salários para sustentá-los.”

Mas quais são essas antigas suposições que precisam ser atualizadas? Como é possível garantir que estamos adaptando-as a cada fase da vida? Confira alguns ensinamentos de planejadores financeiros para cada geração:

Geração Z

Esta é a nova safra de trabalhadores do mercado. Por terem crescido durante a Grande Recessão, os membros da Geração Z são conhecidos por priorizarem a poupança e os investimentos em uma idade mais precoce em comparação com as gerações mais antigas. Mas muitos estão começando com mais dívidas estudantis – mesmo em comparação com os millennials.

A suposição: “Todos os tipos de dívida são ruins”

Sim, o pagamento de dívidas é uma estratégia sólida no sentido mais amplo, mas abordar as dívidas de forma muito agressiva pode ter desvantagens inesperadas.

O problema: focar demais no pagamento de dívidas mais baratas pode impedir a criação de uma reserva de emergência ou a possibilidade de atingir outros objetivos. Quase sempre é uma boa ideia pagar as dívidas com altas taxas de juros, como as de cartões de crédito. Porém, muitos empréstimos estudantis têm baixas taxas de juros e quitá-los em um ritmo mais lento poderia ajudar o tomador a se concentrar em outras metas.

A solução: “Eu entendo o desejo de se livrar das dívidas, mas há um equilíbrio que devemos alcançar”, disse Douglas Boneparth, da Bone Fide Wealth. Ele recomenda pagar primeiro as dívidas que têm taxa de juros acima de 7%, mas enfatiza a importância de ter uma boa reserva de emergência antes de tomar medidas mais agressivas.

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A suposição: “Devo investir no que conheço”

Comprar ações de empresas que você entende parece uma boa ideia. Mas Karen Ogden, sócia da Envest Asset Management, acha que os investidores da Geração Z talvez precisem reconsiderar essa máxima.

O problema: a geração Z sabe muito – talvez demais – sobre tecnologia. A Apple (AAPL), a Alphabet (GOOGL), a Microsoft (MSFT) e a Amazon (AMZN) existem há mais tempo do que muitos deles sequer estão vivos. Mas essas empresas podem nem sempre ter um desempenho excepcional.

A solução: “Entender que uma empresa de crescimento, como as de tecnologia, será afetada negativamente quando as taxas de juros subirem”, disse Ogden. Ela desaconselha o stock picking, isto é, a escolha de ações individuais. Segundo ela, seria mais interessante fundos de índice (ETFs), que contam com maior diversificação.

A suposição: “O mercado de trabalho permanecerá sólido”

A Geração Z começou a entrar no mercado de trabalho no momento em que a demanda reprimida por bens e serviços resultante da pandemia deu origem a um mercado de trabalho sólido. Mas essas experiências iniciais podem ter deixado os trabalhadores mais jovens com uma impressão excessivamente otimista sobre seu poder de negociação.

O problema: tudo que sobe desce. E o efeito cascata das taxas de juros mais altas para combater a inflação já voltou a favorecer os empregadores. Para comprovar isso, basta ver as demissões em massa nos setores de tecnologia e bancário este ano, ou a recente pressão dos empregadores para voltar ao escritório.

A solução: mesmo quando for difícil mudar de emprego ou negociar salários mais altos, desenvolva e reavalie continuamente suas habilidades, disse Sarah Paulson, da Valkyrie Financial.

“Continue mandando currículos e fazendo entrevistas “, disse ela. “Assim, você se mantém atualizado quanto ao seu valor de mercado. Não é ruim fazer entrevistas, mesmo quando você ama o que está fazendo, para ver o que o quanto você vale no mercado.”

Millennials

Essa geração está ficando mais velha e atingindo muitos marcos, como casamento, casa própria e filhos, tardiamente. Mas os custos mais altos de educação, moradia e assistência médica dificultam economizar.

A suposição: “É melhor evitar riscos”

Há muito tempo os pesquisadores observam a aversão ao risco na vida e nos investimentos dos millennials, geralmente atribuída às suas experiências na Grande Recessão.

O problema: fugir dos riscos também significa fugir da recompensa. Durante a queda das ações no ano passado, os millennials foram mais propensos do que outras gerações a abandonar o mercado. Isso significa que eles também perderam a recuperação que veio na sequência.

A solução: “Eu vejo isso como um aspecto de conhecimento”, disse Paulson, da Valkyrie Financial. Ela vê muitos millennials atraídos por fundos de previdência que dizem ter opções de “retorno estável”, mas que na verdade são ativos mais líquidos – o que não trará os retornos necessários para financiar suas aposentadorias.

“Quando isso é explicado, as pessoas dizem: ‘eu posso ser muito mais agressivo do que isso’”, disse ela.

Para os millennials mais cautelosos, ela recomenda carteiras com data-limite que ajustam seus portfólios à medida que os clientes envelhecem.

A suposição: “A independência financeira é fundamental”

Muitos millennials chegaram à idade do casamento com uma forte tendência à independência. Isso é ótimo, mas os planejadores financeiros se preocupam com casais que não gerenciam seus portfólios juntos.

O problema: parceiros com carteiras divididas podem estar perdendo rendimento, por um lado, ou assumindo riscos demais, por outro.

“O que eu costumo ver são duas pessoas muito conservadoras”, disse Ogden, da Envest Asset Management. “É importante respeitar seu nível de conforto com relação ao risco. Mas se você é conservador e seu cônjuge é conservador e vocês são jovens, precisam descobrir uma maneira de investir de forma mais agressiva.”

A solução: Ogden recomenda que os casais verifiquem seus portfólios combinados anualmente para garantir que não haja nenhum ponto cego, mantenham-se atualizados sobre o desempenho geral e certifiquem-se de que não estão investindo de forma muito arriscada ou muito conservadora.

A suposição: “Eu já deveria ter o estilo de vida dos meus pais”

Os especialistas dizem que veem um erro comum entre os trabalhadores que estão se aproximando do pico de seus rendimentos: eles presumem que, por estarem na faixa dos 30 e 40 anos, deveriam ter um estilo de vida semelhante ao de seus pais quando tinham essa idade.

O problema: os tempos mudaram. Os millennials pagam uma média de US$ 328.000 em casas nos Estados Unidos, em comparação com US$ 216.000, o preço que os baby boomers pagaram quando tinham idade semelhante.

Além disso, os profissionais na faixa dos 30 e 40 anos às vezes cometem o erro de se comparar com seus pais quando foram para a faculdade, esquecendo-se de que seus pais já estavam mais avançados em suas carreiras, geralmente na faixa dos 50 e 60 anos.

A solução: os planejadores financeiros alertam contra a “ilusão do estilo de vida”, que faz o trabalhador gastar mais à medida que o salário aumenta. “Se você estiver trabalhando muito e recebendo mais e quiser aumentar seu estilo de vida, tudo bem”, disse Boneparth, da Bone Fide Wealth. “Mas certifique-se de que o retorno de seus investimentos também esteja crescendo.”

Geração X

Muitos dos adultos de 40 e 50 anos de hoje estão assumindo o papel de “geração sanduíche”, porque estão presos entre duas pressões: cuidar dos filhos e também dos pais idosos.

A suposição: “Eles pagarão a faculdade como eu paguei”

Essa é uma das maiores e mais antigas suposições que Struthers ouve como consultor financeiro da Sona Wealth. Um pai da Geração X pagou sua faculdade, portanto, ele espera que seu filho faça o mesmo.

O problema: os preços de educação dispararam. O custo médio das mensalidades aumentou 180% nas últimas duas décadas nos EUA, por exemplo. Os salários não acompanharam esse ritmo. Isso pode fazer com que o aluno assuma uma dívida alta ou que os pais acabem cedendo.

“O que geralmente acontece é que [os pais] não mudam de opinião”, disse Struthers. “E então, como não foi planejado, eles usam suas reservas de emergência e previdenciária.”

A solução: Struthers reitera um fato contundente sobre o financiamento da faculdade. “O dinheiro virá de algum lugar.” Ter um plano, entender os custos e comunicar claramente como eles serão cobertos pode ajudar os pais a evitar que eles invadam suas contas de aposentadoria mais tarde.

A suposição: “Meus pais não querem que eu me intrometa”

Conversas sobre patrimônio ou necessidades de cuidados de longo prazo de um pai idoso podem ser incômodas. Essa é uma área que a Geração X ainda tem problemas, segundo Marguerita Cheng, planejadora financeira e CEO da Blue Ocean Global Wealth.

O problema: evitar assuntos difíceis pode tornar as coisas mais estressantes – e mais caras – quando um dos pais acaba tendo um problema de saúde.

A solução: uma dica de Cheng é usar os grandes eventos da vida como uma oportunidade para discutir questões difíceis de planejamento. Em sua própria vida, ela usou o nascimento de seu segundo filho como um empurrãozinho para que seus pais reavaliassem seus testamentos.

A suposição: “Eu deveria ter uma casa própria”

A casa própria é vista como um sinal de sucesso e estabilidade. Mas contratempos como a bolha das pontocom, o crash imobiliário de 2008 e a pandemia deixaram uma proporção maior de pessoas da Geração X fora do mercado do que as gerações anteriores.

O problema: Assumir um financiamento de 30 anos em seus 40 ou 50 anos pode significar grandes pagamentos que duram até a aposentadoria. Isso, diz Struthers, pode limitar a flexibilidade mais tarde na vida.

A solução: “Alugar nem sempre é ruim”, disse Struthers. Deixando de lado o aspecto emocional de ser proprietário, se os custos do aluguel forem menores do que os custos da casa própria e você investir a diferença, poderá acabar com um patrimônio líquido maior.

Baby Boomers

Como beneficiários mais diretos do boom econômico do pós-guerra, os baby boomers entraram solidamente na idade de aposentadoria com o apoio de pensões, poupanças e da Previdência Social, em muitos casos. No entanto, com a inflação em alta e as taxas de juros elevadas, os aposentados talvez precisem reavaliar alguns planos antigos.

A suposição: “Vou pagar a casa antes da aposentadoria”

A meta de quitar a moradia antes de se aposentar é boa. Mas aqueles que a perseguem com muita agressividade podem abrir mão de uma vantagem do ciclo econômico anterior.

O problema: as taxas de hipoteca nos EUA ficaram nas mínimas históricas durante anos, chegando a atingir a faixa de 2%. Usar o dinheiro para eliminar completamente essa dívida barata pode parecer bom, mas ele poderia estar obtendo retornos mais altos na bolsa ou até mesmo em uma aplicação de renda fixa de alta liquidez.

A solução: Certa vez, Cheng, da Blue Ocean Global Wealth, deu uma sugestão a um cliente que estava se aposentando e queria quitar totalmente sua casa: “pague a metade”, disse ela. A cliente teve a satisfação emocional de fazer uma redução no pagamento, mas também continuou gerando retornos em seus investimentos.

A suposição: “Eu deveria mudar para uma região mais barata”

Todo mundo já ouviu a história de aposentados que se mudam de áreas urbanas caras para destinos mais baratos.

O problema: o mapa do mercado imobiliário mudou. Os preços em paraísos clássicos para aposentados dos EUA, como Phoenix, Miami e Tampa, estão próximos dos mais altos de todos os tempos.

A solução: “Você precisa ter alternativas”, disse Struthers. A ideia de vender uma casa em um local caro e embolsar a diferença mudando-se para uma área mais barata é boa, mas é preciso ter certeza de que os números ainda batem.

--Com a colaboração de Suzanne Woolley.

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