Com risco de juro mais alto no radar, banco suíço aponta 10 teses para investir

Christian Abuide, head de Asset Allocation do Lombard Odier, que tem US$ 330 bi sob gestão, cita renda fixa high grade em relatório atualizado a pedido da Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — A queda dos mercados globais nos últimos dias em decorrência do salto dos juros futuros americanos a níveis não vistos desde 2007, junto com a desaceleração da China, pegou parte do mercado desprevenida. Mas os riscos associados a taxas de juros mais altas por um período prolongado em economias desenvolvidas já estavam contemplados de forma mais evidente por alguns estrategistas há algum tempo. É o caso de Christian Abuide, head de Alocação de Ativos do banco suíço Lombard Odier.

“Qualquer avaliação de oportunidades não está completa sem monitorar de perto os riscos associados, especialmente após o ciclo de aperto monetário mais acentuado em décadas. Os perigos de inflação persistente e um erro na política monetária continuam sendo um risco importante, especialmente na Europa”, escreveu Abuide em relatório sobre 10 convicções para investimento nestes meses que restam em 2023.

“Surpresas inflacionárias e taxas mais altas podem, por sua vez, agravar os riscos de recessão, enquanto as tensões geopolíticas também permanecem elevadas”, alertou.

O relatório do tradicional banco suíço fundado em 1796, especializado em private banking e em asset management e com mais de US$ 330 bilhões em ativos sob gestão, foi atualizado no mês passado a pedido da Bloomberg Línea.

Ao mesmo tempo em que pontuou os riscos, o estrategista do Lombard Odier indicou as convicções que, segundo ele, permitem aproveitar certas oportunidades no mercado neste momento.

“Nossa preferência mais forte é por renda fixa de alta qualidade, enquanto permanecemos globalmente neutros em relação a ações, com uma preferência regional por mercados fora dos Estados Unidos, principalmente com base em critérios de valuation, e por empresas que são mais capazes de resistir a uma economia mais fraca”, apontou, ao mesmo tempo em que ressaltou a cautela.

“Nós também estamos um pouco underweight [com alocação abaixo da média] em ativos de risco nas carteiras de clientes, enquanto equilibramos o impacto positivo da desinflação com o impacto negativo da desaceleração do crescimento e das taxas em níveis persistentemente altos nos próximos meses”, disse Abuide no relatório.

Veja a seguir 5 das teses defendidas pelo estrategista do Lombard Odier:

1. Títulos soberanos

“Nós preferimos títulos do governo de prazo mais longo (5 a 10 anos), especialmente os Treasuries dos Estados Unidos, seguidos pelos Bunds alemães e pelos gilts de curto prazo do governo do Reino Unido. Nossa preferência se baseia na expectativa de uma desaceleração do crescimento e das taxas nos EUA e na Europa, com um aperto limitado da política monetária no Reino Unido.”

“Os altos rendimentos tornam os títulos soberanos atrativos, e os títulos do governo também oferecem diversificação em caso de uma desaceleração econômica mais acentuada, tornando esses ativos uma adição útil para as carteiras. Historicamente, os títulos do governo costumam superar o dinheiro após o pico das taxas.”

2. Crédito high grade

“Também temos preferência por rendimentos atrativos em crédito high grade, que está competitivo versus ações pela primeira vez em muitos anos. Nos concentramos em emissores de maior qualidade, como crédito europeu de 3 a 5 anos. Apesar do recente estreitamento dos spreads e da reabertura do mercado para corporações classificadas como high yield em agosto, ainda vemos potenciais riscos de crédito para muitos emissores de high yield, à medida que o crescimento desacelera e as taxas permanecem em níveis elevados, complicando as necessidades de refinanciamento.”

3. Cautela com ações

“No que diz respeito às ações, nossa visão para os próximos meses tornou-se ligeiramente mais cautelosa [...] Os resultados do segundo trimestre entregaram surpresas amplamente positivas e um cenário de ‘soft landing’ para a economia dos Estados Unidos tornou-se mais provável, e isso está refletido nos valuations atuais.”

“Mas as margens de lucro estão caindo, e a recessão dos lucros provavelmente está à frente, enquanto para investidores em diferentes ativos, taxas reais mais altas significam que as ações agora enfrentam concorrência de outras classes. Preferimos mercados fora dos Estados Unidos, em grande parte devido a valuations mais atrativos em outros lugares.”

“Considerações de valuation e crescimento também apoiam setores defensivos em relação aos cíclicos, particularmente bens de consumo básico. Também destacamos o setor de saúde devido ao forte histórico de retornos nas últimas décadas e à mais recente onda de inovação.”

4. Ouro, energia e cobre

“Acreditamos que o ouro pode enfrentar ventos contrários de taxas de juros mais altas por mais tempo e vemos o potencial para os preços subirem para US$ 2.100 por onça até o início de 2024. Os preços podem ser impulsionados pelo pico das taxas de juros reais nos EUA, enfraquecimento do dólar americano e uma demanda robusta pelo metal por parte de investidores, bancos centrais e consumidores.”

“No curto prazo, esperamos que as decisões do Fed influenciem os preços do ouro. Enquanto isso, a energia e o cobre devem receber algum suporte a médio prazo devido à oferta restrita, à demanda dos mercados emergentes e à transição para energias mais sustentáveis.”

5. Ativos temáticos como eletrificação

“Investimentos temáticos podem fornecer fontes adicionais de retorno para as carteiras, aproveitando tendências seculares sólidas e, assim, diversificar a exposição a risco. Atualmente, vemos oportunidades atrativas de longo prazo que surgem da transição climática, especialmente na eletrificação, soluções de investimento baseadas na natureza e tecnologias alinhadas com as metas climáticas globais.”

Demais teses

As demais convicções apontadas pelo head de alocação de ativos do Lombard Odier, Christian Abuide, incluem a recomendação para posições neutras no dólar americano, a preferência por moedas de mercados emergentes - o relatório foi produzido e atualizado antes da recente desvalorização -, a recomendação por ativos alternativos e privados para fins de diversificação e, por fim, orientações sobre o investimento em fases mais avançadas de ciclos econômicos.

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