Brasileiro que investe no exterior entra em nova fase, diz Lee, da Avenue

Em entrevista à Bloomberg Línea, Roberto Lee, um dos pioneiros da tese da diversificação geográfica do investidor de varejo, aponta interesse em ativos temáticos e outras mudanças

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Bloomberg Línea — Antes considerado inacessível para o varejo ou uma estratégia que envolvia especulação, o investimento no exterior começa a ganhar mais confiança e escala entre brasileiros.

Embora a representatividade desses ativos na carteira do investidor médio brasileiro seja ainda limitada, ela está em trajetória de alta e já passa por uma evolução. É o que defendem Roberto Lee, CEO da Avenue, e Jeff Spiegel, diretor da BlackRock especializado em mega-tendência, IA e disrupção digital.

Em entrevista à Bloomberg Línea no escritório da Avenue em São Paulo, os executivos destacaram que há um novo perfil de investidor, que busca diversificação entre países e aposta cada vez mais em estratégias que se enquadram em seus cotidianos.

“As pessoas estão enviando agora o dinheiro ‘de verdade’, por isso precisam ter confiança e bons produtos. Vinte anos atrás só víamos essa confiança na poupança. Depois, passamos a vê-la nos CDBs, nos títulos públicos, nos fundos e agora vemos uma maior confiança com o offshore”, disse Lee.

E uma dessas formas de alocar no exterior é por meio dos fundos de índice, que são negociados na bolsa e acompanham um índice de referência. São os ETFs (Exchange Traded Funds).

Desde dezembro de 2020, o número de investidores - em contas - em ETFs mais que dobrou na B3, para 596 mil em setembro deste ano, segundo dados da B3. Desse total, 84% são pessoas físicas, enquanto a maior parte do volume negociado (cerca de 47%) seja de investidores institucionais.

O patrimônio da indústria avançou em ritmo menor em razão da desvalorização de muitos dos ativos: saltou de R$ 38 bilhões no fim de 2020 para R$ 43 bilhões em setembro deste ano. Em 2016, somava R$ 4 bilhões. Houve ainda um desenvolvimento do mercado que passou a ganhar mais fundos de renda variável e fixa internacionais, além de produtos de renda fixa locais.

Lee, que foi um dos pioneiros desse mercado para investidores brasileiros de varejo ao fundar a Avenue em 2017 justamente com o objetivo de ampliar a investimentos no exterior, deu mais detalhes sobre o que classificou como mudança de perfil: há apostas em “crenças próprias” nas decisões de alocação, em temas que vão de tecnologia e inclusão financeira a energia verde.

A Avenue conta com mais de 800 mil clientes e mais de US$ 3 bilhões sob custódia. Há pouco mais de um ano, o Itaú (ITUB4) comprou uma fatia de 35% do capital da corretora, que pode chegar a 50,1% depois de dois anos do acordo inicial.

Ele afirmou que muitos dos investidores da Avenue que investem em ETFs ligados ao tema da Inteligência Artificial (IA) trabalham em empresas de tecnologia ou estão envolvidos na área, por exemplo.

“No passado, os clientes seguiam as carteiras recomendadas. Hoje em dia é diferente, eles querem incluir componentes de IA ou de outros setores que estejam ligados ao seu dia-a-dia.”

Uma das principais vantagens dos ETFs é a possibilidade de diversificação do portfólio entre diferentes empresas, setores e países, disse Spiegel, da BlackRock.

“Não importa onde você esteja, é fundamental ficar investido e não tentar cronometrar o mercado. No caso dos ETFs, é uma oportunidade de três a cinco anos que ajuda o investidor a ficar alocado e é crítico do ponto de vista das finanças comportamentais”, avaliou.

Mudanças de teses não afetam fluxo

De ouro a cannabis, games, carros elétricos e, agora, Inteligência Artificial (IA), o interesse dos investidores tende a mudar com o tempo, levando à criação de novos produtos no mercado, como é o caso dos diferentes produtos de ETFs.

Mas, embora muitos desses fundos temáticos tenham saído de moda, a perspectiva colocada por alguns especialistas de que o dinheiro deixaria essas estratégias não se concretizou.

“Mesmo em 2022, que foi um ano desafiador para a performance na maioria desses temas, o dinheiro não saiu de grande parte desses ETFs, porque as pessoas entendiam que era uma oportunidade de longo prazo”, disse Spiegel.

Ao todo, a BlackRock possui 419 ETFs domiciliados nos Estados Unidos, dos quais 29 temáticos, incluindo ETFs ativos, que podem ser acessados por brasileiros por meio da parceria com a Avenue. Fundada em 1988, a BlackRock tem mais de US$ 9,4 trilhões em ativos sob gestão.

“Às vezes o dinheiro vai entrar mais em um período específico, quando todo mundo está falando do tema, mas depois essa crença permanece.”

O executivo da BlackRock contou que, em média, os produtos temáticos e as “megatrends” com foco no longo prazo tendem a apresentar uma demanda até três vezes maior pelo investidor pessoa física do que pelo institucional.

IA, infraestrutura e cibersegurança

Dentre os principais temas que estão na mente dos investidores atualmente estão Inteligência Artificial, infraestrutura global e cibersegurança, este último diante do aumento de riscos para empresas, pessoas físicas e governos.

“O Banco Mundial estima que US$ 100 trilhões de gastos serão necessários nos próximos 20 anos com infraestrutura no mundo. Apenas nos EUA são US$ 1,2 trilhão – portanto é um tema em que os investidores têm focado”, disse o executivo da BlackRock.

“As tendências podem variar de acordo com o período, mas são para o longo prazo; as pessoas continuam investidas por cinco a dez anos no produto.”

Lee disse que os investidores da corretora também estão “descobrindo” a Ásia. Segundo ele, há demanda em alta por parte dos clientes para a região, em especial aqueles que escolhem ETFs.

-- Matéria atualizada às 10h18 com informação sobre a compra da Avenue pelo Itaú. Versão anterior dizia que a compra tinha sido de 50,1% do capital. Essa é a previsão após dois anos do acerto original.

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