Bloomberg Línea — Pode até soar como mais um clichê de carnaval, mas os lemas de uma das marcas de bebida que mais têm se destacado na onda dos blocos de rua de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte nos últimos anos são crescimento e independência.
Dez anos depois de ser lançada por amigos de uma faculdade na capital mineira, com uma mistura exótica de chá mate, guaraná e rum caseiro e suco de limão e um teor alcoólico de 8%, a Xeque Mate ganhou relevância no mercado de bebidas conhecido como Ready to Drink (RTD) e projeta o seu melhor Carnaval - e um crescimento que vai muito além das festas.
A empresa agora se espalha pelo país e mira faturar R$ 200 milhões em 2025, sem ter que recorrer a investidores externos ou M&A (fusões ou aquisições) com gigantes do setor de bebidas. Isso significaria praticamente dobrar de tamanho em um ano.
“Nós preferimos crescer de forma independente, financiando nosso próprio desenvolvimento. Isso nos dá liberdade para manter a essência da marca”, explicou Alex Freire, sócio e diretor executivo (CEO) da Xeque Mate Bebidas, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Boa parte do crescimento deve ocorrer justamente durante o Carnaval, que desempenha papel fundamental na estratégia de marketing e vendas da empresa nos últimos anos. A marca registrou um crescimento de 56% de faturamento nos últimos três meses e prevê um aumento de 40% no Carnaval em relação ao ano passado, com a expectativa de vender 6 milhões de latas da bebida.
O desempenho elevado acontece em detrimento da concorrência com as grandes marcas de bebidas de cerveja ou destilados, que costumam negociar exclusividade com as maiores festas do país.
Freire disse que a Xeque Mate consegue conquistar um destaque cada vez maior por apostar no carnaval de rua, que tem maior informalidade e menor controle sobre a distribuição.
“Embora existam acordos de exclusividade com grandes marcas para determinadas praças, o Carnaval é um evento descentralizado, com milhares de ambulantes e pontos de venda informais. Isso nos permite continuar a crescer e a aumentar a nossa participação de mercado”, disse o executivo.
O investimento vai além da distribuição para a venda de produtos.
A marca também patrocina blocos de rua em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro com aportes de R$ 15 mil, material de apoio e de marketing, o que reforça sua estratégia de branding e fidelização de consumidores.
“Temos feito um trabalho no Carnaval de São Paulo há dois anos e estamos colhendo os frutos agora. Vamos fazer um trabalho parecido no Rio de Janeiro”, disse.
Projeto de jovens amigos
A Xeque Mate começou como um projeto de jovens amigos da faculdade. Com produção inicial em uma fábrica de 100 metros quadrados, localizada no bairro de João Pinheiro, em Belo Horizonte, a empresa cresce de forma acelerada desde o fim da pandemia.
Naquele momento, Freire disse que a “brincadeira entre amigos” finalmente se transformou em negócio mais estruturado. Ele afirmou que já mira novas áreas de atuação para a marca (veja mais abaixo).
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“Faturamos R$ 50 milhões nos últimos 90 dias. É uma época em que estamos batendo todos os recordes e que é fruto justamente da estruturação da empresa como um todo”, disse Freire.
O número citado por ele se refere ao período entre dezembro e fevereiro, quando o faturamento da empresa deu um salto de 56% em relação aos R$ 32 milhões registrados no mesmo período dos anos anteriores.
Apenas nos dois primeiros meses de 2025, a marca já havia alcançado R$ 35 milhões em faturamento, superando em 40% os R$ 25 milhões no mesmo período do ano passado.
Segundo o executivo, a expectativa de chegar a R$ 200 milhões de faturamento neste ano reflete justamente o avanço recente.
“O maior salto que a Xeque Mate deu foi de 2023 para 2024, quando passamos de um faturamento de R$ 38 milhões para R$ 105 milhões [uma alta de 176%]. E neste ano começou bem acelerado”, disse.
A demanda crescente logo exigiu maior estruturação, em contraste com os primeiros anos, em que a empresa funcionava de forma improvisada, segundo o CEO.
A Xeque Mate hoje conta com cerca de 200 funcionários e está em fase de conclusão da construção de uma fábrica própria em Minas Gerais. O objetivo é assumir 100% da produção a partir de março deste ano, depois de um investimento em maquinário de valor não revelado em 2024.
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Com uma demanda de mais de um milhão de litros por mês, a empresa ainda depende de fábricas parceiras, para onde terceirizam a produção, para conseguir atender a mais de 60% da demanda.
Com a nova fábrica, a produção independente deve chegar perto de 1,2 milhão de litros por mês, três vezes mais do que o volume atual de 400 mil.
Xeque Mate zero álcool e low carb
A expansão da marca vai além da mistura que deu origem à bebida pronta para ser consumida.
O Rum Mascate, lançado anteriormente, deverá ser posicionado como um produto premium, seguindo as tendências de consumo do mercado brasileiro.
A experiência adquirida na operação de bares Mascate – criados pela própria Xeque Mate para testar novas fórmulas – tem sido fundamental para desenvolver novos sabores e avaliar a aceitação dos consumidores.
A marca planeja lançar também uma versão zero álcool e de baixa caloria (low carb) do Xeque Mate, de olho no crescente mercado de consumidores que buscam opções mais saudáveis. “Conseguimos reproduzir o sabor, que tem até um toque que lembra o rum da versão original”, disse Freire.
Outra ação prevista é a entrada em novos segmentos, como o de roupas e o musical, com a criação de uma gravadora em parceria com o rapper mineiro FBC.
A marca vai usar um estúdio em Belo Horizonte para criar conteúdo aberto divulgado na internet e desenvolver um ponto de encontro para artistas e criadores com foco em cultura urbana.
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