Track & Field cresce com impulso de ecossistema wellness e geração de caixa, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Fernando Tracanella conta como a marca de roupas e acessórios para práticas esportivas e bem-estar cresce 25% ao ano desde 2019 e fala dos próximos passos

Fernando Tracanella, CEO do grupo desde agosto de 2023
11 de Março, 2025 | 06:24 AM

Bloomberg Línea — A crescente preocupação com saúde e bem-estar tem favorecido uma mudança de hábitos entre os brasileiros, com a busca por práticas esportivas e, por extensão, peças versáteis e confortáveis que vão além do universo fitness.

No Brasil, há diversas empresas atentas a esse processo, mas poucas se tornaram um business case listada em bolsa e reconhecida pelo investidor como a Track & Field.

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A empresa tem colhido os resultados de estratégias que a levaram a ter geração de caixa nos últimos anos, com um ecossistema wellness da marca que inclui, por exemplo, milhares de eventos esportivos da TFSports espalhados pelo país e que aumentaram a fidelização dos clientes, disse o CEO da companhia, Fernando Tracanella, em entrevista à Bloomberg Línea.

Os números do quarto trimestre de 2024 e do ano fechado, divulgados no fim do dia na segunda-feira (10), refletiram mais uma vez, segundo o executivo, os acertos da estratégia.

A transformação digital, que levou a empresa a integrar os canais de venda, com crescimento do e-commerce, ajudou a explicar a sustentação dos negócios em 2024 e segue no horizonte para este ano.

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Um exemplo dessa estratégia pode ser vista com o e-commerce da companhia, que passou a representar de 3% para quase 10% da receita total no ano passado, em um movimento que acompanha a expansão da rede e se mostra cada vez mais um pilar estratégico para o futuro da marca, disse Tracanella.

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Ainda mais importante, a Track & Field tem conseguido crescer de forma financeiramente saudável, no momento em que muitos players do varejo, alavancados, sofrem o impacto de juros mais altos.

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“Nós geramos bastante caixa no ano passado na operação e temos conseguido financiar os investimentos com recursos próprios, sem necessidade de dívida ou emissão de ações. Isso é algo que nos diferencia em relação ao restante do setor que tem, em geral, uma alavancagem mais elevada”, disse.

Em 2024, a empresa alcançou um desempenho de sell out (vendas de franquias e online) de R$ 1,4 bilhão, o que representou um crescimento de 18,5% em relação a 2023, e uma receita líquida de R$ 831,8 milhões, com aumento de 21,7% em comparação ao ano anterior.

O Ebitda ajustado atingiu R$ 176,7 milhões, com margem de 21,2%, enquanto a geração de caixa operacional cresceu 27,8%, para um total de R$ 100,4 milhões.

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No último trimestre de 2024, a receita líquida foi de R$ 273,3 milhões, avanço de 23,1% em comparação a um ano antes. O Ebitda ajustado somou R$ 58,3 milhões, com margem de 21,3%.

A empresa notou um aumento expressivo das vendas durante a Black Friday e o Natal. Isso, segundo Tracanella, reforçou o posicionamento da marca em produtos “presenteáveis” e mostrou a força de seu modelo de negócio e da estratégia omnichannel.

Tracanella entrou na Track & Field como CFO em novembro de 2018, com a experiência de ter ocupado anteriormente o mesmo cargo no Patria Investimentos, entre outros.

Em outubro de 2020, ainda nos primeiros meses da pandemia de covid-19, ele conduziu o processo de IPO da marca na bolsa brasileira, em momento de euforia do mercado e juros baixos. A operação movimentou R$ 522 milhões.

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Em agosto de 2023, o executivo assumiu como CEO da marca de roupas.

Desde o IPO, as ações da Track & Field (TFCO4) acumulam ganho da ordem de 8%, em um caso raro de empresa listada entre 2020 e 2021 com valorização.

Os papéis avançaram 0,50% no fechamento desta segunda-feira (10), a R$ 10,01 cada uma. No acumulado do ano, as ações avançaram 14%, ante uma alta perto de 3% do Ibovespa (IBOV).

Para ele, a abertura de capital também contribuiu para a profissionalização da empresa.

“Estamos bem felizes com essa trajetória de empresa de capital aberto. O desafio é continuar consistente nesse crescimento, porque temos uma base de comparação que fica cada vez mais forte”, disse.

Estratégia para múltiplos canais

Segundo Tracanella, a transformação digital da marca começou mais fortemente com a pandemia de covid-19, com a aposta em uma estratégia que buscou garantir que o consumidor recebesse o produto em casa com rapidez e também atenta ao nível de satisfação dos franqueados.

“No início de 2020, a companhia se deparou com uma rede de varejo com todas as lojas fechadas. A forma que encontramos de continuar vendendo e mantendo o negócio foi por meio dos canais digitais. Também começamos a investir na omnicanalidade, com vendas captadas pelo site mas faturadas por lojas mais próximas dos clientes, que incluem o franqueado”, disse.

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“Hoje, se você comprar algo pelo site, muito provavelmente essa venda vai ser faturada e o produto vai sair para entrega para a sua casa de uma das lojas próximas. Portanto, passamos a oferecer um serviço melhor para o cliente aliado a algo que é muito difícil de ser feito em uma rede de franquias, que é inserir o franqueado dentro da estratégia digital”, afirmou.

Segundo ele, essa estratégia fez com que o franqueado começasse a se beneficiar do e-commerce e não mais enxergasse o canal digital como um concorrente direto.

Ao mesmo tempo, a marca também passou a garantir um serviço mais rápido aos clientes, graças aos estoques dos franqueados disponíveis. Outra estratégia bem aceita pelos franqueados foi a de cobrança de royalties, feita pela Track & Field apenas quando a loja vende um produto.

No Brasil, a empresa está presente em 170 cidades e 26 estados. O modelo de franquias segue para este ano como um dos pilares estratégicos. Ao todo, são 398 lojas da marca: a maioria, 345, são franquias, e há 53 próprias. Das 41 lojas abertas no ano passado, 5 eram próprias, e 36, de franqueados.

No ano passado, a empresa também abriu uma loja em Portugal, que ainda está em fase de testes.

“Por enquanto vamos focar nessa região da Europa, mas vamos fazer um segundo teste, com a abertura de uma segunda loja em Lisboa, em um shopping center. Será um teste importante porque vai replicar um pouco mais o modelo da marca aqui no Brasil”, afirmou.

TFC Food & Market, parte do ecossistema da marca com 12 unidades

O crescimento da empresa tem sido consistente, com um aumento médio de 25% ao ano desde o período pré-pandemia, disse Tracanella. Esse avanço se deve, em parte, à transformação digital.

A reforma das lojas próprias e de franquias para o conceito “Experience Store” também contribuiu com o avanço dos negócios e segue como uma estratégia para este ano. Ao final de 2024, 45% das lojas já operavam no novo conceito. A meta para este ano é chegar a 60%.

TFSports: 870 mil usuários

Há outros pilares que contribuem para potencializar a demanda. Segundo Tracanella, são iniciativas, dentro e fora das lojas da Track & Field, que ajudam a fortalecer o ecossistema wellness da marca.

O braço de eventos da empresa, a TFSports, nasceu em 2004 e hoje é visto, segundo o executivo, como uma startup dentro da Track & Field.

A TFSports, que pode ser acessada via aplicativo, promove a organização de eventos como corridas de rua e torneios de natação e beach tennis. Só no ano passado, foram mais de 3.600 eventos, um aumento de 27,7% em relação a 2023.

A base de usuários no aplicativo aumentou 46,7% e se aproximou de 870 mil pessoas.

Desde 2023, a empresa também começou a expandir o seu TFC Food & Market, que é o marketplace da companhia que conta com cafés e mini-markets espalhados em pontos estratégicos. Em São Paulo, há unidades no Shopping Iguatemi e no Shopping Higienópolis, além da rua Oscar Freire.

“O business plan é o de aumentar de forma exponencial a base de clientes e, gradualmente, monetizar mais essa base por meio de produtos e serviços”, disse.

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.