Por que o vinho branco ganha espaço também no Brasil, segundo o VP da Wine

Em entrevista à Bloomberg Línea, Germán Garfinkel, VP da maior importadora da bebida no país, diz que brasileiros têm buscado vinhos mais refrescantes e que vão além das ocasiões de consumo de frio

Sauvignon blanc
Por Daniel Buarque
19 de Janeiro, 2025 | 06:15 AM

Bloomberg Línea — O consumo de vinho branco cresce em todo o mundo, e esse aumento é uma das principais tendências do mercado da bebida para 2025, segundo a colunista da Bloomberg Elin McCoy.

Internacionalmente, enquanto há uma preocupação do setor com a redução no consumo de bebidas alcoólicas de forma geral, os vinhos brancos já ultrapassaram os tintos em preferência do público, com maior popularidade de uvas como sauvignon blanc e pinot grigio, mas também de brancos de malbec e pinot noir.

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O Brasil ainda está longe de apresentar um predomínio do vinho branco, mas o mercado também está em transformação e há um evidente aumento do consumo de bebidas mais leves e refrescantes, segundo Germán Garfinkel, vice-presidente corporativo do Grupo Wine, considerado o maior importador dessa bebida no país (veja mais abaixo).

“Desde a pandemia, vimos o melhor resultado de consumo de vinhos brancos, com um crescimento significativo no mercado brasileiro. O paladar do consumidor tem evoluído e se adaptado a novos sabores”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg Línea.

Leia também: De vinhos brancos a sem álcool: as principais tendências no mercado em 2025

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Segundo ele, até a pandemia, os vinhos brancos representavam entre 18% e 20% das vendas no país. “Hoje, estão em torno de 22% e 23%, enquanto os tintos reduziram para 67%. É o maior índice de importação de vinhos brancos e o menor de tintos na história recente.”

A explicação para a mudança é um alinhamento à tendência internacional que é impulsionada pelo aquecimento global e também uma adaptação do paladar das pessoas que bebem vinho ao clima brasileiro. “O Brasil está descobrindo vinhos mais frescos e leves, ideais para o clima quente”, disse Garfinkel.

“Antes, o consumo de vinho tinto era predominante mesmo em situações que não combinavam com o clima, como almoços ao ar livre em dias quentes. Hoje, isso está mudando, e os vinhos brancos ganham espaço”, explicou Garfinkel.

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“Hoje, saí de casa em São Paulo e a temperatura era de 30°C. É natural que o consumo de vinhos brancos cresça em um país tão quente. O vinho branco tem tudo a ver com o nosso clima”, disse.

Para Garfinkel, o vinho branco enfrentou preconceito no Brasil no passado, enquanto o consumidor formou seu paladar a partir de tintos suaves, passando a bebidas mais encorpadas importadas de países como a Argentina.

O desafio nessa transição é que vinhos brancos geralmente têm mais acidez, o que os tornam mais refrescantes no calor, mas que também pode ser desafiador para o consumidor brasileiro, que historicamente está acostumado a vinhos suaves e mais doces.

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Mas, conforme o brasileiro tem consumido mais vinho, ele tem se aventurado em novos sabores e aprendido a apreciar essa acidez, disse o executivo.

“Hoje, as pessoas chegam com vinhos brancos em encontros e eventos, e isso é bem aceito. Não há mais o estigma de que é inferior. A tendência é que o consumo de brancos e rosés cresça exponencialmente nos próximos anos”, disse o executivo, em cima de informações do comportamento de mercado.

“Os tintos devem se estabilizar em torno de 60% do mercado, em vez dos 80% de anos anteriores.”

Germán Garfinkel, VP Corporativo do Grupo Wine

Mudança de cultura e de sazonalidade

Uma transformação que acompanha essa mudança no tipo do vinho bebido no Brasil é uma quebra na sazonalidade no consumo.

De acordo com o executivo do Grupo Wine, o vinho ficou tradicionalmente associado no Brasil a uma bebida para ser consumida em dias frios e no inverno - daí a preferência pelos tintos encorpados.

Nos últimos anos, entretanto, o mercado incorporou ao fim do ano o maior ciclo de promoções da bebida na Black Friday, o que aumenta as vendas em um período do ano em que faz calor, o que torna bebidas refrescantes mais atraentes.

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“A Black Friday ajuda a ‘desazonalizar’ o vinho no mercado. Tipicamente, o vinho é visto como uma bebida de inverno no Brasil, mas novembro, que é um período quente, se torna o maior mês de vendas do ano”, disse.

“Em 2024, por exemplo, identificamos uma demanda crescente por vinhos brancos, rosados e espumantes, om que nos levou a planejar uma oferta maior dessas categorias.”

O executivo explicou que a Black Friday é a data mais importante do ano para o grupo e envolve um planejamento e uma operação logística especial, com preparação desde junho de cada ano e expedição de cerca de 15.000 pedidos por dia às vésperas da sexta-feira de ofertas.

Escala e preços

O Grupo Wine é o maior importador e distribuidor de vinhos do Brasil, segundo Garfinkel, citando dados da Ideal Consulting. Em 2023, foram importados US$ 62 milhões no total, e as vendas pelo site foram entregues em 4.500 municípios do país.

A liderança está associada à escala de operação do grupo, o que permite que sejam oferecidas bebidas que se encaixem no orçamento do brasileiro. “A economia de escala nos permite manter os preços baixos, com qualidade acessível”, disse.

Enquanto algumas das vinícolas e importadoras focam em um consumo de alta gama, com vinhos caros e premiados que podem ser considerados alguns dos melhores do mundo, o Grupo Wine tem como foco o consumidor médio, que prefere gastar menos em cada vinho.

O tíquete médio do brasileiro, segundo o executivo, não chega a R$ 50 por garrafa.

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“Dos vinhos consumidos no Brasil, 80% custam abaixo de R$ 50. “Nosso objetivo é entregar vinhos de R$ 30 com qualidade equivalente a vinhos de R$ 60″, disse. “Queremos popularizar o vinho, tornando-o uma bebida para o dia-a-dia, não apenas para ocasiões especiais.”

A popularização da bebida passa também por retirar dela uma “aura” de bebida para momentos especiais. “Hoje em dia, vejo muitas pessoas tomando vinho na praia, algo que era impensável nos anos 1990. Esse movimento ajuda a quebrar a sazonalidade tradicional do consumo de vinho no Brasil.”

Mudança de comando

O Grupo Wine anunciou uma mudança em sua direção em novembro do ano passado. O CEO Marcelo D’Arienzo, que assumiu a diretoria executiva em 2019 e foi responsável pela expansão do grupo, deixou o cargo após seis anos. O então vice-presidente comercial Alexandre Magno foi nomeado para seu lugar.

Segundo Garfinkel, a mudança não foi traumática nem indica qualquer alteração nos planos do grupo. “A transição foi suave, pois Magno já era VP Comercial desde 2018″, disse.

“O foco permanece em buscar democratizar o vinho e gerar valor para os acionistas. Novas estratégias serão definidas em janeiro e fevereiro.”

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Daniel Buarque

Daniel Buarque

É doutor em relações internacionais pelo King’s College London. Tem mais de 20 anos de experiência em veículos como Folha de S.Paulo e G1 e é autor de oito livros, incluindo 'Brazil’s international status and recognition as an emerging power', 'Brazil, um país do presente', 'O Brazil é um país sério?' e 'O Brasil voltou?'