Por que o jet ski caiu no gosto de brasileiros que compram embarcações por consórcio

Segmento náutico atrai players como Ademicon, XP, Bradesco e Porto, com impulso da demanda pelas chamadas motos aquáticas depois que as tarifas de importação foram zeradas

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Bloomberg Línea — Com preços superiores a R$ 100 mil, o jet ski se tornou uma das embarcações mais buscadas em salões náuticos do Brasil. Motos aquáticas de marcas como Yamaha, Sea-Doo e Kawasaki atraem cada vez mais compradores, principalmente interessados na iniciação nesse mercado.

O financiamento por meio de carta de consórcio ganha espaço para a aquisição desse tipo de produto, segundo especialistas do mercado consultados pela Bloomberg Línea.

O consórcio é utilizado de forma ampla para a compra de barcos de esportes ou lazer, motos aquáticas, lanchas, veleiros, além de máquinas e motores marítimos e até equipamentos navais. Isso geralmente ocorre porque o segmento náutico não conta com linhas de crédito específicas, segundo a Ademicon, maior administradora independente de consórcio do Brasil em créditos ativos.

“O consórcio preenche essa lacuna. Há também uma preocupação maior das pessoas com o planejamento financeiro, que é um dos alicerces do consórcio”, disse a CEO da Ademicon, Tatiana Reichmann.

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A modalidade de consórcio para compra de embarcações de menor porte tem potencial de se popularizar com a classe média alta por oferecer parcelas mais acessíveis de pagamento, segundo Ricardo Jacomassi, sócio e economista-chefe da TCP Partners, empresa de investimento e gestão.

“Os super-ricos fazem uso de suas holdings para adquirir embarcações mais luxuosas e arcam com os custos de manutenção, seguro, marina e tripulação. Já o consórcio funciona como um ponto de entrada da classe média alta no mundo náutico, como adquirir um jet ski para seu lazer”, disse Jacomassi.

O perfil do comprador de embarcações é, predominantemente, masculino, com faixa etária entre 31 e 55 anos e renda declarada média acima de R$ 20 mil, segundo a Ademicon.

A maior parte se concentra nos estados do Paraná, de São Paulo e de Santa Catarina. O valor do crédito adquirido fica entre R$ 31.000 e R$ 80.000.

“Na plataforma de anúncios, a maior procura é por lanchas, embarcações de até 36 pés. Pelo consórcio temos visto o maior interesse por jet ski, apesar de lanchas também serem o objetivo de muitas pessoas que buscam essa solução financeira”, afirmou Carol Santiago, CEO da plataforma Compre Náutica.

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A Ademicon administra o consórcio da Compre Náutica desde abril de 2023. A parceria já comercializou mais de 25 cotas, movimentando cerca de R$ 3,4 milhões em créditos. Entre 2022 e 2023, a empresa observou um aumento de vendas no segmento náutico de 189%. Neste ano, até o momento, já foram comercializados mais de R$ 469 mil em crédito. De 2020 até 2023, o segmento movimentou mais de R$ 11 milhões.

“Ainda não é um número expressivo dentro da nossa base, mas, nos últimos anos, temos trabalhado para ampliar o conhecimento sobre o consórcio no segmento náutico em diferentes frentes, pois entendemos que o produto é extremamente vantajoso também nesse mercado”, disse Reichmann.

O ticket médio registrado pelo consórcio Compre Náutica é de R$ 135 mil. O valor das cotas varia, no entanto, entre R$ 80 mil e R$ 500 mil.

Estaleiros: avanço dos consórcios

O estaleiro pernambucano Azov Yachts registrou aumento de 60% na compra de embarcações por meio de carta de crédito de consórcios nos quatro primeiros meses de 2024 em relação ao mesmo período de 2023. A Solara, fabricante de casas flutuantes, informou crescimento anual de 200% dessa modalidade de crédito no primeiro quadrimestre.

O crescimento do mercado de consórcio de bens de luxo, como embarcações e aeronaves, tem atraído novos players. No fim de abril, a XP Seguros e Previdência anunciou sua chegada ao segmento em parceria com a CNP Consórcio. Essa divisão da XP passou a comercializar cotas nas categorias de imóveis e automóveis, além de lanchas, jet ski, iates e jatos.

“A Porto e o Bradesco também oferecem consórcio de embarcação, de olho nesse perfil de cliente que, depois de comprar uma casa e veículo, busca um item de lazer, como uma lancha ou um jet ski“, disse Jacomassi.

Impacto da pandemia

O interesse pelo mercado náutico aumentou a partir da pandemia de covid, apontou um recente estudo elaborado pela TCP Partners, que utilizou dados de produção no Brasil e no mundo.

O mercado de embarcações recreativas, que engloba embarcações como lancha, veleiro, iate e jet ski, apresentou recordes históricos nas vendas e na produção, segundo a TCP Partners. No Brasil, 69% da produção dos estaleiros foi de produtos como barcos com motor de popa, seguido pela produção de barcos a motor de centro/popa com 18%, jet ski, 6%, e veleiros e iates, 1%.

O Brasil responde por apenas cerca de 1% da produção mundial de embarcações recreativas, segundo o estudo. No mundo, cerca de 56% das unidades fabricadas são do tipo barcos a motor fora de borda (outboard motor boats), e 21%, de jet ski (PWCs, personal watercraft, embarcação pessoal).

Um incentivo fiscal também favorece a perfomance de algumas categorias. Ainda está em vigor a tarifa zero para a importação de jet ski adotada no governo de Jair Bolsonaro, segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos), que representa estaleiros. Antes de março de 2022, as motos aquáticas eram taxadas em 20%.

A presença em feiras do setor é uma das estratégias comerciais tanto de estaleiros como de marcas de bens de luxo, como de automóveis, acessórios e serviços ligados ao mundo náutico - como a 25ª edição do Rio Boat Show, considerado o maior salão náutico outdoor da América Latina, no fim de abril.

“Pelo terceiro ano consecutivo, participamos do Rio Boat Show. E estaremos pela segunda vez no São Paulo Boat Show”, disse a CEO da Ademicon.

Depois do Rio, o roteiro de salões náuticos tem mais cinco eventos programados neste ano: Marina Itajaí Boat Show (4 a 7 de julho) em Santa Catarina, Brasília Boat Show (14 a 18 de agosto), São Paulo Boat Show (19 a 24 de setembro), Salvador Boat Show (6 a 10 de novembro) e Foz Internacional Boat Show (28 de novembro a 1º de dezembro), em Foz do Iguaçu.

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