Para a Moët Hennessy, champagne simboliza força do mercado de luxo no Brasil

Em entrevista à Bloomberg Línea, Catherine Petit, diretora-executiva para o país, disse que grupo deve bater as metas de vendas neste ano e apontou fatores que sustentam o consumo

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Bloomberg Línea — A alta recente do dólar e a desaceleração global de consumo de luxo não afetam o apetite do brasileiro pela bebida que melhor simboliza o hedonismo e a celebração no mundo, especialmente quando se encerra um ano e se comemora a chegada de um outro.

O champagne está em alta no país, afirmou Catherine Petit, diretora-executiva da Moët Hennessy no Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea. E isso é um símbolo da resiliência do mercado de luxo no país em um cenário internacional desafiador, segundo ela.

“O mercado de luxo brasileiro não sofreu os mesmos impactos que o resto do mundo. Há uma bolha de otimismo e uma cultura forte de celebração”, disse Petit.

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Ela reconheceu que a China passa por uma crise de redução do consumo e que há indicadores mais fracos em outras partes do mundo como a Europa e os Estados Unidos desde o fim da pandemia. “A ressaca da Covid-19 impactou o consumo de bebidas de luxo”, explicou Petit.

Mas o mercado doméstico escapa dessa situação, segundo ela. “O Brasil está longe das crises globais [no luxo] e não é tão impactado no dia-a-dia. O brasileiro tem uma visão mais otimista e culturalmente adora celebrar, e o champagne é o principal veículo da celebração”, disse.

Embora a inflação e a oscilação cambial preocupem muitos setores, o consumidor de luxo brasileiro é menos sensível a essas variações, segundo ela. “Na França, o consumidor é mais sensível a variações de preço. Já no Brasil, o consumidor de luxo entende que o preço alto reflete os impostos e a qualidade do produto”, disse.

Petit avalia que, de forma geral, o momento é positivo para a Moët Hennessy - que faz parte da LVMH, maior grupo de luxo do mundo - no Brasil, mesmo que haja desafios específicos da realidade do país. “Apesar da desigualdade, há um espaço para crescimento, pois o consumo é aspiracional. Muitos guardam dinheiro para momentos especiais.”

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No fundo, explicou, mesmo que o preço do champanhe no Brasil seja naturalmente alto devido aos impostos, isso não impede tira força da demanda. “A diferença é que o consumidor brasileiro busca uma experiência, não apenas um produto. O preço é aceito porque o consumidor brasileiro de luxo valoriza a qualidade e o status que vêm com o champagne.”

Celebração e economia

A principal explicação para o avanço da bebida de luxo, segundo ela, é que o indicador mais importante para as vendas de champagne no país acaba sendo o Produto Interno Bruto (PIB). “Os volumes de vendas de champagne são atrelados ao desempenho econômico brasileiro. Quando o PIB cresce, o consumo aumenta”, disse.

E o PIB brasileiro surpreendeu e superou as expectativas a cada trimestre neste ano, sendo impulsionado especialmente pelo consumo das famílias e por gastos do governo.

Por mais que haja preocupação com a inflação e com a questão fiscal, o crescimento da economia perto de 3,5% neste ano, segundo estimativas, se reflete em mais vendas de champagne.

”Apesar do contexto global, alguns indicadores continuam positivos. O PIB deve fechar acima das previsões, o que impulsiona nossas vendas”, disse.

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Segundo Petit, a Moët Hennessy deve bater todas as metas de vendas neste ano no mercado brasileiro - ela não revela números. Nem mesmo a instabilidade econômica nas últimas semanas tem sido capaz de afetar esse clima positivo que leva ao vinho espumante mais famoso do mundo, graças ao que vê como otimismo característico do brasileiro.

“Enquanto o francês entra em depressão com uma má notícia econômica, o brasileiro sempre vê o copo meio cheio,” disse Petit. Esse otimismo é amplificado em datas comemorativas como o Réveillon, momento em que o consumo de champanhe dispara.

“A inflação e o câmbio não afetam tanto o consumidor de luxo, pois o preço já é elevado por causa dos impostos e há um fator aspiracional, de querer a bebida especial para a comemoração”, explicou.

“O Réveillon representa um grande percentual das vendas anuais”, disse. As vendas de verão e de fim de ano chegam a representar 80% dos volumes anuais da empresa.

Segundo a executiva, a escalada do dólar pode, na verdade, estimular ainda mais o desempenho no Brasil. “Para nós, a variação cambial pode até ser positiva, reduzindo o incentivo para compras internacionais e permitindo que possamos trazer mais garrafas para o Brasil.”

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Estratégias para o Brasil

Para a Moët Hennessy, o Brasil é um mercado em crescimento constante. Segundo Petit, a aposta está na experiência de luxo e no consumo aspiracional, incentivando celebrações especiais.

“Temos visto um aumento sustentado no consumo de bebidas de luxo. Mesmo com os desafios, os brasileiros continuam a celebrar com champanhe,” disse Petit. “Há potencial para crescer no Brasil, mas não de forma exponencial. O consumo de champagne está voltando aos níveis pré-2016.”

Ela descreveu o aumento do consumo como constante e resiliente. Apesar das incertezas globais, as perspectivas para o mercado de luxo no Brasil são positivas. “Ainda há muito espaço para crescer. Se cada brasileiro em idade de beber comprar uma garrafa para uma ocasião especial, seremos extremamente felizes,” disse.

“Estamos buscando diversificar e criar outros momentos de consumo, como Dia dos Namorados, Páscoa e Dia das Mães, mas o Réveillon ainda é nosso melhor momento.”

Petit explicou que o mercado de luxo no Brasil é movido pela experiência que acompanha o produto. “Nós focamos em criar experiências memoráveis, seja em eventos, jantares harmonizados ou parcerias com restaurantes e hotéis de luxo.”

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Essa estratégia tem se mostrado eficaz, segundo ela. Marcas icônicas da Moët Hennessy, como Veuve Clicquot e Moët & Chandon, “são amplamente reconhecidas e desejadas pelos brasileiros”.

“Veuve Clicquot é uma marca fortíssima no Brasil. Cada marca em nosso portfólio atende a diferentes públicos e ocasiões, mas todas são sinônimo de qualidade e exclusividade,” disse Petit.

E o mercado tem demonstrado interesse mesmo por garrafas ainda mais especiais e de luxo. “A Ruinart [que custa em torno de R$ 1.000] está ganhando reconhecimento fora da França, e o Brasil se destaca globalmente pelo desempenho em vendas de marcas de alta gama”, disse.

Marcas ainda mais luxuosas, como Dom Pérignon e Krug, que chegam a custar mais de R$ 2.000 por garrafa, também estão em ascensão. “O preço é alto, mas é uma questão de experiência e status. O consumidor brasileiro entende a diferença entre espumante e champagne.”

Isso é especialmente relevante em um momento em que a produção brasileira de vinhos espumantes tem se consolidado e ganhado espaço e reconhecimento internacionais. A criação de uma denominação de origem Altos de Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, de onde saem alguns dos melhores espumantes do país, é uma prova disso.

O espumante Chandon, marca do grupo Moët Hennessy, faz parte desse movimento. “Nós nos consideramos parte da família de produtores da região. Trabalhamos com cerca de 50 famílias locais, com foco em qualidade e sustentabilidade,” destacou Petit. “Estamos ganhando medalhas em concursos internacionais e começando a construir uma reputação global,” afirmou.

Apesar de o champagne ser o símbolo da operação da Moët Hennessy no Brasil, há um esforço grande também para ampliar o portfólio e enfatizar outros nomes da casa. “Além de champagne, temos vinhos argentinos e rosés da França e temos aumentado o foco em destilados, como a vodca Belvedere e o conhaque Hennessy”, disse.

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