Bloomberg Línea — Ainda Estou Aqui, estrelado por Fernanda Torres e dirigido por Walter Salles, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na cerimônia do Oscar 2025, em Los Angeles, neste domingo (2).
O longa-metragem, que recebeu três indicações (incluindo para Melhor Atriz e Melhor Filme), fez história ao conquistar a primeira vitória de uma produção brasileira na principal premiação da indústria cinematográfica mundial.
O cineasta subiu ao palco para receber das mãos da atriz espanhola Penélope Cruz a estatueta e dedicou a Eunice Paiva, Fernando Torres e Fernanda Montenegro. Em seu discurso, Salles também fez referência aos executivos Tom Bernard e Michael Barker, que lideram a Sony Pictures Classics, conhecidos por lançar e distribuir filmes aclamados pela crítica. “Vocês são os melhores. Muito obrigado por tudo isso. É algo extraordinário”.
O drama, que desde o ano passado se tornou um fenômeno de bilheteria após receber diversos prêmios em festivais pelo mundo, se baseia na autobiografia homônima do escritor e jornalista Marcelo Rubens Paiva.
Torres interpreta a mãe dele, Eunice Paiva, uma advogada que se torna uma ativista política após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante o regime militar (1964-1985). Na categoria de Melhor Atriz, porém, a estatueta foi para Mikey Madison, protagonista de Anora.
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O primeiro Original Globoplay, plataforma de streaming do Grupo Globo, acumula uma bilheteria de mais de R$ 106,5 milhões com mais de 5,26 milhões de espectadores no Brasil, segundo a assessoria da Comscore, empresa de medição de audiência digital.
A produção está em cartaz em 724 salas de 583 cinemas do país, segundo a distribuidora. Assinam a produção a VideoFilmes, RT Features e Mact Productions, em coprodução com Globoplay, ARTE France e Conspiração, com distribuição no Brasil pela Sony Pictures.
“Que emblemático termos recebido o nosso primeiro Oscar e tantos outros prêmios importantes no ano em que celebramos 100 anos de Globo”, disse Manuel Belmar, diretor de Produtos Digitais, Finanças, Jurídico e Infraestrutura da Globo, em nota.
A estreia na plataforma do Globoplay só ocorrerá depois de finalizada a trajetória do filme nos cinemas, o que ocorrerá “em breve com exclusividade no Brasil”, segundo o comunicado.

A equipe do filme presente no Dolby Theatre, em Los Angeles, chegou ao tapete vermelho da cerimônia com um discurso de humildade sobre a possibilidade de Ainda Estou Aqui ganhar.
“Inacreditável ter uma indicação com DNA brasileiro”, disse Torres ao canal E!. “O filme já chegou longe”, afirmou Selton Mello, que interpreta Rubens, em entrevista ao Max, que transmitiu a festa.
Histórico de indicações sem vitória
Antes de Ainda Estou Aqui, a última produção brasileira que disputou o Oscar havia sido O Menino e o Mundo, que perdeu para Divertida Mente o título de Melhor Animação em 2016.
Não foi a primeira vez que uma obra dirigida por Salles concorreu à estatueta de Melhor Filme Estrangeiro. Em 1999, o filme Central do Brasil também foi indicado para o Oscar de Melhor Atriz (Fernanda Montenegro, mãe de Torres), mas não ganhou nas duas categorias.
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Já Cidade de Deus (2004), de Fernando Meirelles, teve quatro indicações (Melhor Diretor, Roteiro Adaptado, Fotografia e Edição), mas não levou nenhuma estatueta.
O Que É Isso, Companheiro? (1998), que teve Torres no elenco, O Quatrilho(1996) e O Pagador de Promessas (1963) também foram indicados a Melhor Filme Estrangeiro.
Outros premiados da noite
Anora, sobre uma profissional do sexo que se casa com um jovem milionário russo, venceu como Melhor Filme do Ano. A obra independente - não foi produzida por um grande estúdio - havia sido vencedora da Palma de Ouro em Cannes em maio de 2024, mas não era apontada como grande favorita para o Oscar nas análises de especialistas do cinema.
Sean Baker, de Anora, ganhou como Melhor Diretor e enalteceu a experiência de assistir filmes no cinema como contraponto ao avanço das plataformas de streaming nos últimos anos. Adrien Brody foi anunciado como Melhor Ator por sua interpretação em O Brutalista, de Brady Corbet.
Anora ganhou como Melhor Roteiro Original, enquanto Conclave venceu como Melhor Roteiro Adaptado. A animação Flow deu o primeiro Oscar à Letônia, derrotando concorrentes populares como Divertida Mente 2 e Robô Selvagem. O iraniano In The Shadow of the Cypress recebeu o prêmio da Academia de Hollywood de Melhor Animação em Curta-Metragem.
O Oscar de Melhor Direção de Arte ficou com o musical Wicked, que também levou o reconhecimento na categoria de Figurino. O Brutalista confirmou as expectativas dos críticos com o inglês Lol Crawley, diretor de fotografia, recebendo o Oscar de Melhor Fotografia.
A primeira estatueta anunciada foi a de Melhor Ator Coadjuvante, vencida por Kieran Culkin por seu trabalho em A Verdadeira Dor, de Jesse Eisenberg. Zoe Saldaña foi agraciada como Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação em Emilia Pérez, uma das apostas da Netflix na noite.
A Substância foi agraciado com o Oscar de melhor Maquiagem. A estatueta de Melhor Canção Original, entregue por Mick Jagger, o lendário vocalista dos Rolling Stones, foi para “El Mal”, da trilha de Emilia Pérez, cantada por Saldaña.
Duas categorias de documentários tiveram como vitoriosos Sem Chão, sobre o conflito entre Israel e Palestina, e A Única Mulher na Orquestra (Curta-Metragem), sobre a contrabaixista Orin O’Brien. Duna - Parte 2, de Denis Villeneuve, venceu em produção com Melhor Som e também em Efeitos Visuais.
A ficção científica Eu Não Sou um Robô, da holandesa Victoria Warmerdam, foi agraciado como Melhor Curta de Ficção. Melhor Trilha Sonora Original foi para O Brutalista, com Daniel Blumberg subindo ao palco para receber a estatueta.
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