Migração de milionários cresce no mundo, com impulso do Brasil e de países da região

Número de pessoas com alto patrimônio que se mudam para o exterior deve chegar a 128.000 em 2024, segundo estimativas, o maior desde 2013; Brasil é o quinto país com mais saídas

Lisboa
18 de Maio, 2024 | 04:09 PM

Bloomberg Línea — Depois de uma redução durante a pandemia, o número de indivíduos ricos que deixam seus países de origem voltou a crescer nos últimos anos. Em 2024, as estimativas indicam que cerca de 128.000 pessoas com patrimônio acima de US$ 1 milhão devem migrar para outras nações, o nível mais alto desde 2013, de acordo com um relatório da consultoria britânica Henley & Partners.

O Brasil é um dos países que lideram o movimento de saída de milionários. A consultoria projeta que 1.200 brasileiros de patrimônio alto deixaram o país para viver no exterior no ano passado, ante 1.800 em 2022. O número coloca o Brasil em quinto lugar entre os países com maiores saídas líquidas de milionários, depois de China, com 13.500, seguida pela Índia, com 6.500, Reino Unido, com 3.200, e Rússia, com 3.000.

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Além do Brasil, os demais países latino-americanos com os maiores fluxos de saída de milionários são o México, com 700, Argentina, com 200, e Colômbia e Chile, com 100 cada, segundo a consultoria. A pesquisa considera apenas indivíduos com patrimônio líquido de pelo menos US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 5,1 milhões) que de fato estabeleceram residência permanente em outro país.

Os principais países de destino são aqueles que têm programas formais de atração de imigrantes de alta renda e incentivam o investimento estrangeiro direto em troca de direitos de residência. A Austrália (5.200), os Emirados Árabes Unidos (4.500), Singapura (3.200) e os Estados Unidos (2.100), lideram a lista com a maior entrada líquida de milionários.

Canadá (1.600), Portugal (800), Itália (600) e Espanha (400) - destinos populares entre brasileiros - também figuram entre os países com os maiores fluxos positivos de indivíduos de alto patrimônio.

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Motivos da migração

A situação política, as vantagens culturais e sociais e a possibilidade de investir em propriedades de luxo para uso pessoal e/ou comercial em uma economia mais estável estão entre os principais motivos pelos quais os indivíduos de alto patrimônio líquido (HNWI, na sigla em inglês) da América Latina vêm migrando para outros países atualmente, segundo Ben Rizzuto, estrategista de patrimônio da consultoria especializada da Janus Henderson Investors, à Bloomberg Línea.

“Indivíduos com alto patrimônio líquido migram para encontrar um clima econômico mais adequado à sua situação. Entre os que buscam climas econômicos melhores estão brasileiros, mexicanos e chilenos, além de argentinos, chilenos e peruanos”, disse Rizzuto.

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Muitos países aproveitaram essa ideia vinculando a exigência de visto ao investimento no país. Por exemplo, o golden visa dos Emirados Árabes Unidos inclui uma autorização de residência de 10 anos se o solicitante investir US$ 545.000 em imóveis. Na Grécia, uma autorização de residência concede a cidadania grega após 7 anos de residência no país e um investimento de 250.000 euros (US$ 271.700). Essa é uma situação em que todos saem ganhando, tanto quem imigra quanto os países para os quais eles se mudam.

Ben Rizzuto, estrategista de patrimônio da Janus Henderson Investors

A Janus Henderson Investors diz que os locais onde essas famílias e suas fortunas estão aterrissando são variados. “A possibilidade de investir em imóveis é outro fator para os latino-americanos que migram para outros países. Ter a possibilidade de investir em propriedades de luxo para uso pessoal e/ou comercial em uma economia estável é muito atraente”, afirmou Rizzuto.

De acordo com a consultoria imobiliária Knight Frank, os milionários de todo o mundo estão migrando em busca de estabilidade política, um ambiente econômico e fiscal favorável e oportunidades de negócios e investimentos.

“Os imigrantes ricos em geral buscam nações que oferecem condições sociopolíticas sólidas, incluindo países como os EUA, o Canadá e o Reino Unido. No entanto, o cenário dessa migração mudou devido às tendências geopolíticas inconstantes”, diz ele em uma análise.

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Nesse sentido, também há outros fatores que influenciam na decisão, como adequação cultural e de estilo de vida, oportunidades imobiliárias, considerações ambientais, fuso horário e alcance global.

Competição entre países

Os países estão competindo globalmente para se tornarem destinos cada vez mais atraentes para indivíduos de alto patrimônio que buscam as condições mais favoráveis para investir seu capital.

Andrew Amoils, diretor de pesquisa da empresa de inteligência patrimonial New World Wealth, disse à Bloomberg Línea que os milionários de todo o mundo migram devido a fatores como a carga tributária.

“O imposto sobre ganhos de capital e o imposto sobre herança são particularmente importantes para indivíduos de alto patrimônio líquido”, diz ele.

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Ele também se refere a outros aspectos, como oportunidades de emprego e negócios, preocupações financeiras e segurança. Outros fatores determinantes incluem o nível do sistema de saúde e previdência, bem como o estilo de vida em geral, considerando aspectos como clima, poluição, espaço e natureza.

A escolaridade e as oportunidades de educação para seus filhos também podem desempenhar um papel importante, diz Andrew Amoils, que acredita que a tendência de migração de alto patrimônio líquido continuará em 2024.

No caso regional, os EUA, Portugal e Espanha são destinos populares para os milionários latino-americanos, disse ele.

Gestão do patrimônio

Do ponto de vista da gestão de patrimônio, os serviços mais procurados pelos milionários abrangem uma ampla gama de aspectos financeiros e de estilo de vida.

As empresas especializadas nessa área devem oferecer estratégias que garantam a preservação do patrimônio e a minimização de impostos – algo crucial para aqueles que buscam manter seu patrimônio e maximizar seus investimentos, disse Rizzuto, da Janus Henderson Investors.

Muitos podem estar cautelosos com a atual trajetória política de seus países de origem. Em alguns casos, os países estão se tornando mais liberais ou de esquerda, o que pode se traduzir em impostos mais altos. Em outros casos, os governos podem nacionalizar ativos de acordo com suas políticas atuais. Em ambos os casos, isso pode levar à instabilidade política e a um declínio ou perda total dos ativos de uma família. Como resultado, muitos optam por se mudar para países com democracias consolidadas, onde acreditam que seus ativos estarão mais seguros.

Ben Rizzuto, estrategista de patrimônio da Janus Henderson Investors

Entre as necessidades financeiras mais proeminentes está o gerenciamento de investimentos em novos países de residência, o que envolve a minimização das implicações tributárias e a maximização de ganhos de capital futuros. Além disso, serviços como câmbio de moeda estrangeira são essenciais para aqueles que possuem ativos em diferentes partes do mundo.

Em termos de investimento, ele ressalta que as empresas precisam oferecer acesso a uma ampla gama de oportunidades, desde crédito privado até investimentos imobiliários e estratégias alternativas.

O planejamento de longo prazo também é fundamental, incluindo a transferência de patrimônio entre gerações e o planejamento de caridade.

Por outro lado, os serviços de concierge e estilo de vida são cada vez mais importantes.

Rizzuto diz que a transição para um novo país traz consigo desafios culturais e sociais, e essas empresas devem estar preparadas para facilitar essa transição, tanto financeira quanto pessoalmente.

“As empresas que puderem ajudar a tornar a transição das famílias de alto patrimônio líquido a mais tranquila possível, tanto financeira quanto socialmente, serão as que mais se beneficiarão dessa migração de moeda”, disse ele.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.