Mercado de roupas usadas ganha força com inflação e novas ferramentas digitais

Em 2024, compradores de todo o mundo gastaram US$ 227 bilhões em roupas de segunda mão, um aumento de 15%; James Reinhart, CEO e cofundador da ThredUp acredita que tendência deve se intensificar

Arara de roupas
Por Zahra Hirji
23 de Março, 2025 | 04:01 PM

Bloomberg — Consumidores de todo o mundo cada vez mais compram mais sapatos, acessórios e roupas usadas. No ano passado, eles gastaram US$ 227 bilhões em roupas de segunda mão, representando quase 10% de todos os gastos globais com roupas, de acordo com um novo relatório do mercado de revenda online ThredUp.

A tendência deve se acelerar, principalmente nos Estados Unidos, onde as tarifas do presidente Donald Trump tendem a aumentar o preço das roupas novas, e globalmente, graças à mudança de comportamento e às compras auxiliadas por inteligência artificial.

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“Começamos a ver cada vez mais consumidores chegando à revenda”, diz James Reinhart, CEO e cofundador da ThredUp. “Quando as pessoas começam a fazer compras de segunda mão, elas mantêm o hábito.”

Os consumidores podem comprar roupas de segunda mão em um número cada vez maior de lugares. Além das lojas de doação e vintage, há um ecossistema online crescente para a compra de usados, incluindo eBay, ThredUp, Poshmark e outros mercados nos quais os clientes podem vender e comprar itens diretamente.

Mais marcas também criaram suas próprias ofertas de revenda online, seja de forma independente ou terceirizada para empresas que fornecem serviços do tipo, incluindo Archive e Trove. Esta última tem cerca de 50 clientes, incluindo sete marcas que passarão a fazer parte no segundo semestre de 2025, de acordo com Terry Boyle, CEO da empresa. A fabricante de roupas para atividades ao ar livre Patagonia e a marca vendedora de tênis AllBirds estão entre as que usam os serviços da Trove.

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Para atrair mais compradores, algumas marcas procuraram integrar a revenda com o restante de seus negócios, lançando checkouts online compartilhados e gastando em marketing de terceiros para revenda, de acordo com Boyle.

As vendas globais de moda de segunda mão, que aumentaram 15% em 2024 em relação ao ano anterior, devem ultrapassar US$ 250 bilhões em 2025 e, em seguida, ultrapassar US$ 300 bilhões em 2027, de acordo com o relatório publicado na quarta-feira (19), com base nos dados da ThredUp e na pesquisa da empresa de análise de varejo terceirizada GlobalData.

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Um negócio melhor

Um dos principais motivos pelos quais os consumidores compram produtos usados é o fato de serem econômicos. As compras de segunda mão permitem que as pessoas obtenham ofertas em todos os tipos de itens, incluindo roupas de marcas mais sofisticadas que normalmente estariam fora de alcance se fossem compradas novas, de acordo com o relatório.

Nos EUA, as tarifas gerais de 20% recentemente impostas pelo presidente Trump sobre todas as importações chinesas devem aumentar os custos das roupas novas vendidas em todo o país, o que aumentaria a diferença de preços entre itens novos e usados, explica Reinhart.

Embora a maioria das roupas novas vendidas nos EUA seja produzida no exterior, principalmente na China, grande parte das roupas vendidas em segunda mão nos EUA vem de dentro do país.

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Mudanças nos gostos

O sentimento do consumidor também mudou. Historicamente, havia um estigma em relação às compras de segunda mão, mas “agora elas se tornaram a norma”, diz Samina Virk, CEO para EUA do mercado de revenda online de alta qualidade Vestiaire Collective.

As compras online de artigos de segunda mão são principalmente populares entre as gerações mais jovens, que cresceram com a internet e se sentem à vontade para comprar e vender suas roupas online, acrescenta ela.

Alguns consumidores também estão recorrendo a itens de segunda mão para evitar as emissões de efeito estufa geradas pela produção e transporte de roupas novas.

Da mesma forma, algumas pessoas optam por vender suas roupas usadas em vez de jogá-las no lixo porque isso é mais ecológico. Os dados da Vestiaire Collective sugerem que 79% dos itens vendidos em seu site substituem uma compra de primeira mão.

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Compras assistidas por IA

Reinhart aponta para outra tendência que pode aumentar as vendas de roupas usadas em 2025 e nos anos seguintes: a inteligência artificial.

Olhar itens de segunda mão para encontrar exatamente o que você está procurando pode ser uma tarefa complicada e demorada, principalmente online.

Para superar esse obstáculo, a Thredup está implantando ferramentas de IA que permitem que os usuários carreguem uma foto de um sapato ou jaqueta que desejam e façam uma busca no site para encontrar itens semelhantes.

Esse tipo de experimentação nos próximos anos ajudará a tornar as compras de segunda mão online tão perfeitas quanto as compras de novos itens, prevê Reinhart.

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