Bloomberg Línea — O mercado de luxo em São Paulo entra em efervescência em dezembro - com crise ou sem crise na economia. Às vésperas do Natal, os shopping voltados para o público de alta renda, como o Iguatemi da Faria Lima, o JK Iguatemi e o Cidade Jardim, da JHSF, são tomados por executivos do mercado financeiro, famílias ricas e herdeiros de fortunas, todos em busca de presentes exclusivos.
Clientes HNWI (High-Net-Worth Individuals), com patrimônio e renda na casa dos milhões de reais, saem às compras de produtos que vão de relógios de alta precisão (de Patek Philippe a Rolex) a joias exclusivas (de Bvlgari a Cartier), de acessórios de luxo (de Chanel a Hermès) a perfumes de nicho (de Tom Ford a Jo Malone).
A Bloomberg Línea visitou lojas de grandes marcas e conversou com consumidores, funcionários e especialistas no segmento de luxo nas últimas semanas para identificar tendências.
O mercado de bens de luxo no Brasil apresenta uma perspectiva positiva para o período de 2024 a 2029, com crescimento significativo nas vendas, segundo a consultoria britânica Euromonitor, com uma espécie de resiliência versus a desaceleração mais ampla vista em outras regiões.
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No Iguatemi São Paulo, o mais tradicional shopping de luxo do país, um dos termômetros é a abertura de novas lojas de marcas globais. Ao longo do ano, o local recebeu, por exemplo, a primeira loja da marca espanhola Loewe na América Latina e a primeira Balenciaga no conceito raw luxury (estilo industrial luxuoso) no Brasil.
No início do mês, a joalheria italiana Bvlgari reinaugurou a sua primeira boutique no Brasil - aberta originalmente em 2012 -, localizada no JK Iguatemi, no andar nobre do térreo com quase 200 metros quadrados e um projeto que remete à Roma contemporânea.
Também houve a inauguração da primeira loja da marca franco-americana de perfumes Le Labo na América Latina.
Nesta semana que passou, às vésperas do Natal, o Iguatemi (IGTI11) inaugurou a primeira flagship da Tiffany na América Latina, com dois andares e mais de 400 metros quadrados, depois de ter fincado bandeira no shopping há 22 anos em uma unidade na entrada voltada para a Faria Lima.
No Cidade Jardim, que pertence à JHSF (JHSF3), a novidade de 2024 foi a inauguração da joalheria Van Cleef & Arpels (que já operava no JK Iguatemi). Com isso, o shopping passou a contar com as quatro principais joalherias do mundo, pois já contava com Tiffany, Cartier e Bvlgari.
Crescimento econômico, expansão do público consumidor e do e-commerce, investimentos em marketing e publicidade e diversificação de produtos e serviços são apontados por consultorias como fatores que deram impulso ao segmento de bens de luxo no Brasil em 2024.
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O varejo de luxo no Brasil cresce a um ritmo anual de 7%, na média, e deve ter atingido R$ 63 bilhões em receitas em 2024, graças à demanda em alta por produtos de alta qualidade e exclusividade, segundo estudo do Euromonitor. O desempenho positivo do Brasil destoa do mundo. As vendas globais de artigos pessoais de luxo devem cair 2% em 2024, segundo a consultoria Bain & Company.
Categorias em alta e em baixa
O Brasil, com seus R$ 63 bilhões de vendas anuais, representa ainda, por outro lado, “uma gota no oceano”. O mercado mundial deve fechar o ano com valor de R$ 9,7 trilhões (1,5 trilhão de euros), segundo a Bain. A queda de 2% ante 2023 se deve, segundo a Bain, principalmente à desaceleração das vendas na Ásia - leia-se China -, à inflação e à incerteza econômica.
Nem todas as categorias do luxo tiveram freio neste ano, em termos globais. Perfumes, óculos e joias ainda estão com tendência de alta no mundo, segundo a Bain.
Mas relógios, produtos de couro e sapatos exibiram desempenho negativo, principalmente pelo menor apetite da Geração Z, que tem gastado mais com turismo e lazer.
“O interesse por experiências de luxo continua em alta, com preferência por viagens e eventos sociais, priorizando tratamento personalizado e bem-estar em vez de bens tangíveis. Produtos experienciais para indivíduos de alto poder aquisitivo, como iates, carros e jatos, também têm forte demanda”, apontou a Bain no estudo.
Mas há desafios para o mercado de luxo. A valorização acumulada de mais de 25% do dólar frente ao real neste ano, por exemplo, exige planejamento estratégico das marcas, segundo Andrea Eboli, CEO da consultoria EDR.
Lojas que importam produtos enfrentam desafios devido às altas taxas de importação e ao câmbio desfavorável, dado que nem todo o impacto é repassado ao consumidor.
Por outro lado, há um menor estímulo a sair do país e a fazer compras em destinos como Nova York e Paris com a moeda americana acima de R$ 6 e o euro acima de R$ 6,30, o que favorecer as brands presentes no Brasil.
“Há um fenômeno que pode beneficiar as marcas de luxo: a redução no planejamento de viagens internacionais. Com menos consumidores comprando no exterior, há uma oportunidade de captar esse público que, ao permanecer no Brasil, pode optar por investir em itens de alto valor localmente”, disse Eboli.
Confira abaixo alguns produtos que se destacam nas vitrines e catálogos de marcas globais com lojas nos shoppings de luxo de São Paulo, segundo especialistas ouvidos pela Bloomberg Línea:
Relógio Cartier de R$ 1,96 milhão
Uma das apostas da Cartier para as vendas de fim de ano - e além - é o relógio Baignoire, um modelo icônico criado em 1958 com forma ovalada, inspirada em banheiras antigas (Baignoire significa banheira em francês). O modelo mais caro, de R$ 1,960 milhão, traz pedras preciosas como ouro branco, diamante, safira, água-marinha e granada espessartita. A caixa e a pulseira têm 229 diamantes (7,7 quilates), e o mostrador em ouro branco, 161 diamantes (1 quilate).
Com lojas nos shoppings Cidade Jardim e Iguatemi São Paulo, além do Village Mall no Rio de Janeiro, a joalheria e relojoaria francesa exibe em suas vitrines um modelo de Baignoire com preço de R$ 180 mil, no tamanho 16, em ouro rosa, diamantes e quartzo. Nesse preço, a caixa vem com 42 diamantes (0,48 quilate), e a coroa em ouro rosa, com um diamante (0,08 quilate), além de mostrador prateado.
Pulseira Tiffany de R$ 354 mil
Tudo menos o óbvio. Na loja da Tiffany, uma das estrelas da temporada é um bracelete de duas voltas em ouro branco com diamantes, que custa R$ 354 mil e virou objeto de desejo de quem busca estilo de elegância minimalista, neutra, sem tons quentes, mas que reflita luz e evoque sofisticação clássica. O ouro branco é uma liga metálica composta por 75% de ouro, 20% de prata, 3% de paládio e 2% de níquel.
O nó nas extremidades da pulseira é explicado pela marca como um símbolo do poder das conexões entre as pessoas. A peça em ouro branco 18k com diamantes em lapidação brilhante tem um peso total de 3,85 quilates (0,77 gramas) e foi polida à mão em ângulos para maximizar o brilho. A peça integra a coleção Tiffany Knot, descrita como uma “expressão dos laços inabaláveis do amor”.
Bolsa de viagem Louis Vuitton de R$ 126 mil
Na Louis Vuitton, uma bolsa de viagem Keepall Bandoulière 50, confeccionada em couro natural, chama atenção por sua tonalidade âmbar que evoca a simbologia dos cowboys do Velho Oeste e suas ferramentas, com direito a rebites e bolsos externos para acomodar um cantil de uísque, uma caixa de cigarro e uma echarpe de seda (todos incluídos na bolsa). O forro vem no famoso tecido canvas Monogram. O item de luxo é vendido por R$ 126 mil.
Nas dez lojas da marca francesa no país, o modelo mais procurado de Keepall Bandoulière 50 custa R$ 25.400 e tem uma aparência mais esportiva, em versão bicolor, com tamanho compacto suficiente para ser usada como bagagem de mão. No caso da bolsa no estilo cowboy, é preciso checar a disponibilidade nas unidades, pois a peça não está em estoque em todas os endereços.
Bolsa de mão Dolce & Gabbana de R$ 30.250
Na loja da Dolce & Gabbana, a bolsa Sicília, considerada um ícone da marca italiana, ganha cores nobres na nova coleção: o preto da elegância e o dourado da opulência. Com preço em R$ 30.250 na unidade do Iguatemi da Faria Lima, a handbag com estampa de iguana, que representa o exotismo com destaques em relevo, tem 10% de sua composição externa em couro de bezerro e 5% na parte interna, além de viscose, seda e lantejoulas e lamê.
A peça tem sido recomendada por personal shoppers para quem deseja criar um look impactante em festas do final de ano com os detalhes requintados e a referência à elegância atemporal das mulheres italianas traduzida pelo trabalho artesanal da dupla de designers Domenico Dolce, natural da Sicília, e Stefano Gabbana. Sandálias com as mesmas cores e texturas também podem ser encontradas na loja ao preço de R$ 6.900.
Botas Balenciaga de R$ 10.800
Mesmo em um país tropical como o Brasil, onde neve é um fenômeno raro, restrito às serras da região Sul, a bota Alaska invadiu as vitrines da Balenciaga em São Paulo após a marca espanhola, adepta da estética de vanguarda, viralizar nos pés de influenciadores.
A bota de proporções exageradas custa R$ 10.800 na terceira loja da grife, inaugurada no Iguatemi São Paulo em agosto. As outras ficam no JK Iguatemi e no Village Mall (Rio de Janeiro).
Apesar do design robusto e do solado grosso, que lembram calçados típicos para pistas de esqui, o produto foi projetado para o estilo urbano.
O material é 100% poliamida, um tipo de plástico sintético. No Brasil, a botas da Balenciaga se tornaram um item no guarda-roupa de figuras como o ator João Guilherme e a humorista Gkay, nomes habitués de marcas por seu apelo com as gerações mais jovens.
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