Fluminense campeão da Libertadores: veja os números milionários da final

Equipe comandada por Fernando Diniz ganhou a decisão no Maracanã em nova edição disputada em jogo único, em tentativa da Conmebol de copiar a Champions League europeia

Por

Bloomberg Línea — O Fluminense ganhou neste sábado (4) a Copa Libertadores da América pela primeira vez, com vitória na prorrogação no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, sobre o Boca Juniors.

A final em jogo único em um dos estádios mais tradicionais e emblemáticos do mundo representa a tentativa da Conmebol, a associação de futebol da América do Sul, de atrair mais atenção e dinheiro para a decisão do torneio continental, com a inspiração declarada na Champions League da Europa.

Desde empresas de criptomoedas até marcas de cerveja e videogame patrocinam a Copa Libertadores, o torneio de clubes fundado em 1960 e para o qual os times de futebol mais poderosos da América do Sul investem milhões para vencer a competição.

Segundo a Conmebol, todos os ingressos disponíveis para os torcedores foram vendidos para a final entre o Boca Juniors e o Fluminense.

Se fosse pelo valor de mercado dos clubes, a vantagem teria sido dos argentinos nessa batalha de investimentos multimilionários pelo valor do elenco. O resultado, contudo, favoreceu o time brasileiro por 2 a 1.

De acordo com o portal alemão de estatísticas Transfermarkt, o valor de mercado do elenco do Boca Juniors é ligeiramente maior, de 79,53 milhões de euros, enquanto o do Fluminense é de 77,30 milhões de euros.

Mas esses números estão bem abaixo do valor de mercado dos clubes mais poderosos financeiramente da região, uma lista dominada por times do Brasil.

No topo da lista está o Flamengo (160,70 milhões de euros), seguido pelo Palmeiras (160,30 milhões de euros) e pelo Club Athletico Paranaense (96,80 milhões de euros). Nenhum time de fora do Brasil ou da Argentina aparece entre os 10 primeiros.

O jogador mais valioso da edição mais recente do campeonato sul-americano de clubes foi Vitor Roque, do Club Athletico Paranaense (emprestado pelo F.C. Barcelona), com 32 milhões de euros.

Futebol como modelo de negócios

O professor da Universidad de los Andes, Jorge Tovar, disse à Bloomberg Línea que o lucrativo negócio do futebol e sua relação com a publicidade começou a tomar forma como é conhecido hoje por volta da época em que o executivo brasileiro João Havelange (1916-2016) estava em campanha para a presidência da FIFA.

“Havelange venceu a campanha para a FIFA vendendo aos africanos, asiáticos e caribenhos a ideia de que iria expandir a Copa do Mundo em termos de número de equipes. Para fazer isso, ele precisava de mais dinheiro. Eles disseram: ‘A Copa do Mundo pertence à FIFA e nós vamos controlar tudo sobre ela’. Em outras palavras, toda a publicidade interna é da FIFA: ‘Nós vamos vender isso não para pequenas empresas, mas para grandes multinacionais’”, disse Tovar.

O modelo foi influenciado pelo papel da International Sport and Leisure (ISL), uma empresa de marketing esportivo fundada em 1983 pelo ex-proprietário da Adidas, Horst Dassler. A organização manteve laços estreitos com a FIFA durante anos até falir em 2001 com dívidas de milhões de dólares.

Jorge Tovar explica que o empresário alemão garantiu à FIFA as receitas em troca da exploração desses direitos relacionados ao negócio da Copa do Mundo, mas não com as táticas mais adequadas e éticas.

A ISL fez subornos de cerca de US$ 100 milhões à FIFA na década de 1990 para garantir os direitos de marketing e televisão de grandes eventos de futebol. Essas operações fraudulentas envolveram João Havelange e o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

O modelo significou uma reviravolta no negócio do futebol, pois antes cada time vendia os direitos de seus jogos. No entanto, passaram a ganhar uma espécie de comissão para cedê-los às diferentes entidades de administração.

Assim, cada região começou a adotá-lo, começando pela UEFA (a confederação europeia de associações nacionais de futebol) e sua renovada Copa da Europa, que desde 1992 passou a ser chamada de Liga dos Campeões como parte dessa transição.

Em todos os jogos da Liga dos Campeões, acrescentou Tovar, a publicidade “é uniforme, vendida pela UEFA”. Na América do Sul, isso foi adotado no final da década de 1990, tanto para a Copa América quanto para a Copa Libertadores.

Para a academia, isso não se refletiu apenas na receita da Conmebol, organizadora da Copa Libertadores, mas também nos prêmios concedidos aos vencedores da competição, o que acaba se traduzindo nos investimentos feitos pelos clubes com melhor desempenho.

O prêmio milionário da Libertadores

A Copa Libertadores é um negócio lucrativo para os organizadores e para os clubes participantes, pois para cada partida vencida durante a fase de grupos os times receberam um prêmio de US$ 300 mil.

O prêmio em dinheiro para as equipes da Libertadores totaliza cerca de US$ 207,8 milhões, um aumento de 21% em relação à edição do ano passado.

O valor também é significativamente maior do que o prêmio em dinheiro do segundo maior torneio da região, a Copa Sul-Americana, que equivale a US$ 77,8 milhões.

Um total de 47 clubes da América do Sul participam do torneio, disputando 155 partidas.

Na Libertadores, não competem apenas os times, mas também as cidades, depois que a Conmebol decidiu que, a partir de 2019, seria disputada uma única final.

Desde então, a final foi disputada no Estádio Monumental de Lima (2019), no Maracanã (2020), no Centenário de Montevidéu (2021) e no Estádio Monumental de Guayaquil (2022).

A última final em Guayaquil, entre o Flamengo e o Athletico Paranense, atraiu cerca de 35.000 espectadores, embora as estimativas fossem de que cerca de 40.000 compareceriam ao jogo.

De qualquer forma, a chegada de turistas estrangeiros à cidade e a atividade relacionada à final renderam mais de US$ 15 milhões, de acordo com cálculos da Câmara de Turismo de Guayas e da Federação Nacional de Câmaras de Turismo.

A renda da Conmebol e seus torneios

Para a própria Conmebol, a Copa Libertadores representa uma das joias da coroa do futebol em termos de receita.

Em seu relatório de demonstrações financeiras de 2022, a Conmebol projetou uma receita total de US$ 511 milhões em 2023.

Desse montante, cerca de US$ 468,2 milhões são provenientes da venda de direitos comerciais para a Libertadores, Copa Sul-Americana, Recopa e outros torneios de desenvolvimento.

Os principais patrocinadores da Copa Libertadores incluem Amstel, Sporting Bet, Coca Cola, EA, Crypto, Mastercard, TCL Partners, Powerade, DHL e Absolut.

A organização informou que espera investir cerca de US$ 461,1 milhões diretamente em atividades relacionadas ao futebol, o que representa 92,2% dos recursos da organização.

Direitos de TV: uma mercadoria cobiçada

Além dos estádios, a batalha pela Libertadores é principalmente sobre os direitos de transmissão.

Os direitos da Copa Libertadores não estão sendo negociados apenas com os canais de televisão, mas também em outros segmentos, como o de videogames, com a franquia FIFA da Electronic Arts.

Em meados deste ano, a empresa americana de videogames e a Conmebol estenderam o contrato de licença para os torneios Copa Libertadores, Copa Sul-Americana e Recopa no novo título EA Sports FC, após o término do acordo com a FIFA.

Para Jorge Tovar, da Universidad de los Andes, os direitos de televisão são, sem dúvida, a maior fonte de renda do futebol latino-americano.

No entanto, ele acredita que, diferentemente da UEFA, a Conmebol é mais reservada quando se trata de divulgar números sobre o custo dos direitos de transmissão.

“Para a Copa Libertadores não é tão claro, mas eles estão vendendo para empresas que lhes garantem a renda. Então é com isso que eles pagam. Na pandemia, a Conmebol pôde dar dinheiro aos times porque eles já tinham contratos assinados para que pudessem atravessar a crise e não demitir jogadores”, disse ele.

No caso específico das ligas, ele exemplifica que no Brasil há um esquema semelhante ao europeu em termos de direitos televisivos, com cotas de distribuição que beneficiam os melhores times.

Na Colômbia, por outro lado, as cotas são iguais para os 36 clubes das categorias Primera A e Primera B, de modo que essa renda, em sua opinião, não faz grande diferença.

Em maio do ano passado, a Conmebol informou que o processo de licitação para os direitos de transmissão de seus principais torneios no período de 2023 a 2026, incluindo a Libertadores, foi vencido pela Paramount (Viacom) e também pela ESPN (Disney). No Brasil, os direitos são do Grupo Globo.

Mas os processos de licitação dos torneios de futebol mais importantes do continente já foram examinados pelas autoridades no passado.

Em março deste ano, o ex-diretor da Fox Sports, Hernan Lopez, foi condenado nos EUA por supostamente ter feito pagamentos a funcionários da Conmebol para garantir os direitos de transmissão dos principais torneios da região, incluindo a Copa Libertadores. Em setembro, contudo, sua condenação foi anulada por um juiz federal.

As investigações fazem parte do caso FifaGate, que abalou os alicerces da entidade máxima do futebol mundial e provocou a suspensão de Joseph Blatter e do chefe da UEFA, Michel Platini, de qualquer atividade relacionada ao futebol por oito anos.

Leia também

SVB busca atrair de volta startups em LatAm após colapso, diz líder global