Bloomberg Línea — O hipismo desperta o fascínio não apenas de apaixonados pelo esporte e por cavalos mas também de investidores que frequentam uma dos maiores polos da modalidade no Brasil, o Clube Hípico de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. Foi nesse local de 280 mil metros quadrados de bosques e jardins que nasceu a ideia de criação do primeiro fundo de investimento de cavalos do país.
A estratégia é universal: a gestora compra cavalos jovens, desenvolve os animais e busca vendê-los com lucro. Mas o nicho tem suas nuances. Há o upside de vitórias em competições, mas também riscos de o equino adoecer ou se acidentar ao longo de seu ciclo de vida e de desenvolvimento.
Diante dessas questões, a gestora Lifetime Asset Management, “plugada” ao BTG Pactual, tem avançado sobre o tema há mais de um ano, quando lançou um fundo fechado com cerca de R$ 6,5 milhões de patrimônio e mais 100 cotistas interessados em investir no mercado de cavalos.
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A seleção dos animais passa pelo crivo do cavaleiro Marlon Zanotelli, cuja experiência inclui defender o Brasil em competições internacionais (veja mais abaixo) e a proximidade com a elite do hipismo mundial.
Os animais que compõem o portfólio do fundo são segurados, o que funciona como hedge, e há pelo menos uma marcação a mercado dos preços dos ativos por ano.
“Entre os cotistas estão sócios da hípica de Santo Amaro, que conheceram o cavaleiro Marlon Zanotelli em um curso de salto e entenderam que seria uma boa estratégia de investimento, de fomentar esse nicho do mercado de luxo”, disse à Bloomberg Línea Josian Teixeira, portfolio manager da Lifetime.
O fundo começou com três cavalos. Um ano depois, o plantel já somava seis animais, que são adquiridos na Europa e passam por treinamento no haras de Zanotelli na Bélgica. O cavaleiro atua como parceiro do fundo.
“No fim do ano passado, vendemos um cavalo e tivemos um lucro de 41% na transação. Fizemos aportes na compra de novos animais. Normalmente, o investimento em cavalo começa em 100 mil euros, o que seria um preço considerado barato, mas, se ele consegue se desenvolver com o tempo e ganhar provas, a venda pode chegar a 1 milhão de euros no mercado europeu”, disse Teixeira.
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Essa projeção foi feita, segundo o gestor, com base no histórico das transações fechadas pelo cavaleiro olímpico do Maranhão como pessoa física, antes de entrar na parceria do fundo.
“O fundo tem tanto investidores estrangeiros como brasileiros. Queremos chegar a um total de 20 cavalos. Para isso, temos que captar mais dinheiro para fomentar a estratégia e ter caixa para manter o haras do Marlon na Bélgica. O custo de manutenção dos cavalos é alto”, afirmou Teixeira.
Rentabilidade e risco cambial
No primeiro semestre de 2024, o fundo batizado de Marlon Zanotelli Horses apresentou uma rentabilidade nominal de 3,16%, abaixo do CDI (5,22%) no período, mas acima da inflação (2,57%), segundo o gestor. A taxa de administração do fundo é de 2% ao ano.
“O fundo está melhor que a inflação, mas abaixo do CDI. No início do fundo, temos uma maior tabela de custos. É um fundo que nasce com o propósito de quatro anos de investimento para desenvolver o cavalo e mais quatro anos de desinvestimento, ou seja, para venda dos animais com lucro”, afirmou o portfolio manager da Lifetime.
A cada seis meses, o fundo tem janelas para reavaliar o desempenho, quando também fica aberto para captação.
Em novembro do ano passado, Zanotelli e os cavaleiros Rodrigo Pessoa, Stephan Barcha e Pedro Veniss levaram a medalha de bronze na competição de saltos por equipes no Pan-Americano de Santiago, no Chile. Ele acabou ficando de fora da seleção brasileira para a Olimpíada de Paris neste ano.
“A proteção cambial é uma diferenciação dos ativos. O cotista investe em euro, uma moeda fora, e muda de fronteira,para outro tipo de mercado. Com a desvalorização do real no período, essa alocação representa uma certa proteção do seu investimento”, disse o gestor da Lifetime.
Comparação com o mercado de futebol
A seleção dos animais que compõem o fundo é do cavaleiro olímpico, segundo Teixeira.
Um comitê do fundo aprova ou não a compra do equino indicado. Se o cavalo se desenvolver e ganhar alguma competição, o fundo recebe recursos da premiação, que são convertidos em ganhos e usados para abater os custos de manutenção do haras na Bélgica, explicou.
“É preciso ter um olho clínico para uma boa compra. É como no mercado de jogadores de futebol juniores: há uma peneira e apenas alguns vão se tornar profissionais. Como fundo, temos que rentabilizar aquele ativo, como a ação de uma empresa. Fazemos isso com a ajuda do Marlon”, afirmou.
Com mais de 20 anos de experiência na indústria de fundos, principalmente multimercados e de renda fixa, com passagens pela Hedging-Griffo e pela SulAmerica, Teixeira disse que gerir um fundo de cavalos é semelhante a qualquer outra categoria.
“O desafio é entender como se dá a precificação dos ativos, como se comportam ao longo de um ano e ter um crivo detalhado para trazer um novo ativo para o fundo. O diferencial é que os cotistas gostam dos ativos e entendem desse mercado, pois são sócios do haras e têm paixão por cavalos”, disse.
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