Bloomberg Línea — Em um dia de trabalho comum, entre reuniões de negócios para falar sobre a MRV, tratar de questões do Inter ou mesmo discutir a situação do Atlético Mineiro às vésperas de jogos decisivos, o empresário Rubens Menin ainda encontra tempo para pensar sobre barricas de carvalho.
“Elas são fundamentais para fazer um bom vinho. E nós usamos barricas muito boas. Isso é algo que eu não enxergava antes, mas que passou a fazer parte da minha relação com o vinho, que hoje é muito mais profunda”, contou um dos empresários mais influentes do país em entrevista à Bloomberg Línea.
Menin se referia às aclamadas barricas T5, que são usadas para envelhecer grandes vinhos em todo o mundo, custam cerca de 2.200 euros (cerca de R$ 14.000 no câmbio atual) cada uma e que fazem parte da produção da Menin Wine Company, o seu negócio de vinho com base na região do Douro, no norte de Portugal.
“Você não pode colocar qualquer vinho em uma barrica dessas. Há todo um processo para aproveitar o potencial da bebida e produzir o melhor vinho possível”, explicou o motivo de falar do tema.
O comentário se deu em resposta a uma pergunta sobre sua relação atual com a bebida, mais de uma década depois de um dos empresários mais bem-sucedidos do país ter transformado o que era um lazer em um negócio com um investimento que atualmente passa de 55 milhões de euros (cerca de R$ 350 milhões ao câmbio atual).
“Passei a estudar mais, a entender mais. Aí começa a criar uma paixão maior. É igual a futebol, hoje eu conheço mais de futebol do que antes. Hoje eu conheço muito mais vinho do que conhecia. E passei a perceber nuances, a acompanhar mais a produção e a enxergar detalhes que eu não via antes, desde a poda até a vindima, depois lá dentro da adega e assim por diante”, contou.
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Apesar dessa paixão e de conseguir encaixar na agenda reuniões e entrevistas sobre o tema, o empresário admite que ainda dedica menos tempo do que gostaria a esta parte do seu portfólio.
O investimento em uma vinícola foi uma forma de equilibrar o lazer com os negócios do empresário, que tem uma fortuna estimada em US$ 1,5 bilhão, segundo a Forbes.
“O vinho ainda representa pouco do meu portfólio e da minha atenção diária de trabalho. É uma dedicação menor do que eu gostaria, porque a gente precisa ter um pouco de razão e menos emoção”, disse.
“O negócio está bem profissionalizado, com uma equipe organizada, então eles não precisam muito de mim. Vinho para mim ainda é mais lazer, que eu faço em casa à noite ou no fim de semana”, contou.

Aquisição e expansão em 40%
Mesmo que admita que o investimento é influenciado pela sua paixão pelo vinho, Menin rejeita a ideia de que ter uma vinícola seja apenas um hobby. O experiente empresário defende que é um projeto que tem objetivo de gerar ganhos no longo prazo.
“É um negócio. Tanto é que nós acabamos de aumentar nosso investimento. Fechamos em fevereiro um negócio que era muito importante do ponto de vista estratégico, comprando a última grande quinta que tinha perto da gente na região”, contou. “Isso vai permitir aumentar a produção em 40%”, disse.
Com essa compra, o empresário ampliou o investimento total já realizado na Menin Wine Company em Portugal. E o empresário apresenta a sua perspectiva de que isso traga mais do que o prazer de beber seus próprios vinhos.
“Não gosto de falar em retorno do investimento, pois isso só existe se você vender o negócio. Prefiro falar de ROI [Return on Investment], ou seja, taxa de retorno. Nós estamos mirando um ROI de 20% ao ano”, contou.
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Para atingir esse patamar, segundo ele, o caminho passa pelo acerto na terra e por tecnologia para produzir, para que o resultado final seja um vinho de qualidade. E isso vai levar a uma precificação melhor.
“A margem Ebitda do negócio é muito alta. Além disso, nós chegamos a um preço de breakeven de aproximadamente 6 e 7 euros por garrafa, mas temos um produto tão bom que conseguimos vender acima de 20 euros. Portanto a margem é muito boa”, explicou o empresário.
Com a compra mais recente de terras, a Menin Wine Company pretende dominar o terroir em que está instalado no Douro e ampliar a produção para 650.000 garrafas ao ano. O empresário admite que gostaria de fazer ainda mais, mas que é preciso limitar a produção para manter a qualidade.

“Conheci um produtor que fazia um vinho muito bom. Depois de criar mercado, ele aumentou a produção e a qualidade dele acabou. Não podemos perder a qualidade. Não posso sair comprando terra sem critério”, contou sobre um dos riscos do negócio.
“Demos muita sorte com aquele terroir onde eu consigo, de fato, fazer um vinho excelente. Temos que tentar preservar. Daqui para frente, nós vamos ser bem mais seletivos em qualquer aquisição”, disse.
Essa valorização do vinho é que vai garantir que a bebida possa ser vendida a um preço mais alto, o que garante o retorno.
“Quando uma vinícola produz um vinho que não é bom, entra no mercado muito poluído e vai vender muito barato. Aí é uma indústria desafiadora. A indústria de vinho de qualidade, em que estamos situados, é indústria de nicho, com um vinho de qualidade, e tem essa margem”, disse.
Investimentos em Portugal
Um dos caminhos para alcançar ganhos com o vinho que produz, Menin contou, passa pela crescente valorização dos vinhos de Portugal no mundo. O empresário disse que começou seus investimentos no Douro em 2013, durante uma viagem que incluiu uma visita ao Estádio do Dragão, do FC Porto, que inspirou anos depois a Arena MRV, que construiu em Belo Horizonte para o Atlético Mineiro.
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“Achei que ali tinha um potencial fantástico para vinho. De todas as regiões a que eu fui no mundo, o Douro é a mais bonita e com potencial de se desenvolver. O terroir tem uma qualidade muito alta, e as terras são muito mais baratas do que no resto da Europa”, disse o empresário.
“Uma terra boa na Borgonha [na França] chega a ser 200 vezes o preço da de Portugal. No Piemonte [na Itália] é 50 vezes, e para produzir um vinho que não é 50 vezes mais caro”, disse.
Compradas as terras a preços mais baixos do que em outras áreas do continente, foi preciso fazer investimentos para que o vinho pudesse contar com a qualidade dessas outras regiões aclamadas.
“É preciso ter tecnologia, uma agricultura muito bem feita, um controle das vinhas, uma adega, que é como os portugueses chamam a produção em si, equipamentos e barricas boas. E um bom enólogo”, disse.
Tudo isso gera muito custo, mas Menin explicou que o custo básico é quase o mesmo para todos os produtores; e que gastar para produzir um vinho melhor faz com que a bebida gere um ganho maior.
“No fim das contas, é um ganha-ganha. Você gasta um pouco mais, mas você tem um preço que é o que as pessoas que gostam de vinho, que reconhecem a qualidade, aceitam pagar”, disse.
Vinhos no Brasil e na Europa
Apesar do declarado encantamento por Portugal, Menin explicou que a escolha do país para sua vinícola aconteceu antes de a produção de vinhos em Minas Gerais e em São Paulo, no Sudeste do Brasil, decolar nos últimos anos, o que poderia ter sido mais acessível para um empresário mineiro.
“Quando essa nova realidade do Brasil começou, eu já estava completamente comprometido com o projeto em Portugal. Mas estou acompanhando o que está acontecendo por aqui e acho que tem tudo para dar certo”, disse.
Os princípios para fazer os investimentos no Brasil funcionarem, segundo ele, devem ser os mesmos que leva em consideração na Europa, com foco na qualidade do produto. “Na hora em que você tem um vinho de qualidade, você pega preço”, explicou.
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E os vinhos de Menin também pretendem concorrer pelo consumidor do mercado nacional. “Nós queremos chegar a 50% do nosso vinho vendido no Brasil. Ainda estamos longe disso”, contou.
Uma das dificuldades, segundo ele, é que “vender no Brasil é complicado”.
“Por mais que tenha um público que gosta do nosso vinho, ele aqui ficou um pouco mais caro, porque tem muito imposto que incide. O mesmo vinho que vendo em Portugal por 20 euros (R$ 125 com a conversão) é vendido no Brasil pelo equivalente a por 40 euros (R$ 250)”, lamentou.
Essa diferença no preço, segundo ele, molda o comportamento do consumidor brasileiro. “O vinho está ficando muito caro, portanto, as pessoas ficam mais seletivas, aprendem a comprar melhor. Há uma inteligência melhor para comprar vinhos com o melhor custo-benefício”, disse.
Segundo Menin, o Brasil ainda precisa passar por uma mudança de hábito, para que a população incorpore mais a bebida em seu cotidiano.
“O consumo de vinho tem uma relação muito grande com duas coisas: renda per capita e hábitos culturais. No Brasil já houve uma melhora de renda per capita, e naturalmente a indústria do vinho cresce, mas é preciso muito mais agora a mudança de hábito”, disse.
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