Bloomberg Línea — As “palavras do ano” de 2024 eleitas pelos principais dicionários de língua inglesa buscaram destacar a capacidade da linguagem coloquial de reinventar expressões e adicionar novos sentidos, principalmente no dinâmico e volátil ambiente das redes sociais.
O Oxford escolheu, por exemplo, “Brain rot”, que em uma tradução literal significa “apodrecimento do cérebro”, mas que na internet ganhou o significado de esgotamento mental com o hábito exagerado de rolar telas e ter exposição a conteúdo de baixa qualidade, irrelevante e superficial.
Para investidores e outros profissionais do mercado que monitoram minuto a minuto, ao longo do dia, ativos e companhias, seja em sites de notícias, fóruns de discussões ou inúmeras contas do WhatsApp ao Telegram, há outros significados.
O “Brain rot”, como a sensação de cansaço ou declínio cognitivo, serve de alerta para avaliar comportamentos repetitivos e estimula debate sobre a necessidade de recuperar o foco e a concentração, bem como melhor gerir o tempo, evitando a atitude de “piloto automático” e o risco de perder o autocontrole.
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Além do novo termo para os efeitos negativos do excesso do tempo gasto com conteúdo vazio rolando telas na internet, outra “palavra de 2024″, selecionada desta vez pelo dicionário Cambridge, é “Manifest”, no sentido de obter o que se deseja, em referência a uma técnica mental de visualizar primeiro o que se quer e, com pensamento positivo, transformá-lo em realidade.
Seria algo como um ato de fé ou um mantra de aula de coach de que nada é impossível quando se tem persistência e crença de que algo vai dar certo.
Investidores que se apressam e desmontam operações, realizando prejuízos, com medo de acumular perdas maiores na carteiras, devem relativizar o papel da positividade em assuntos como multiplicar o patrimônio, uma vez que não basta mentalizar ganhos para materializá-los na bolsa.
Faltaria combinar com o cenário macroeconômico e estar atento aos riscos inerentes em suas decisões de alocação de recursos.
Já o dicionário Collins designou “Brat” como a sua “palavra do ano”, aproveitando o sucesso do álbum da cantora inglesa Charli XCX, lançado em junho passado e que lhe rendeu seis indicações ao Grammy.
A artista utiliza o termo no sentido próprio de uma pessoa descrita como alguém autoconfiante, independente, hedonista, habitué de festas - uma espécie de releitura da definição original de criança mimada, adolescente rebelde ou um indivíduo arrogante.
A acepção mais positiva de “brat”, como uma atitude de alguém que toma riscos e contraria o efeito manada, seria aquele investidor de perfil arrojado que desafia as maiores probabilidades abraçando teses de investimentos que a maioria rejeita ou faz ressalvas.
Nesse contexto, o “brat” aposta em uma reviravolta de expectativas e abre oportunidades - com riscos - para que o investidor se torne um dos poucos que vão lucrar com o cenário tido como improvável.
Por sua vez, o site Dictionary.com cravou “Demure” como a “palavra do ano” no sentido de uma personalidade tímida, modesta e reservada. No universo digital marcado pela superexposição e pelo exibicionismo, o “Demure” preza pela discrição e pela sobriedade.
No mercado financeiro, seria aquele investidor mais introvertido e contido, que calcula bem a tomada de decisões de investimentos e que prefere montar suas posições sem compartilhar prints de suas ordens de compra ou venda da corretora em uma postagem na Fintwit.
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Já a revista britânica The Economist preferiu politizar sua escolha da “palavra do ano” ao eleger “Kakistocracy”, explicado como “um governo comandado pelas piores pessoas”, em referência direta ao resultado da eleição presidencial norte-americana e às reações mais polarizadas aos primeiros anúncios de nomes que vão compor o próximo mandato de Donald Trump.
O termo se espalhou na internet entre críticos ao líder republicano.
As nomeações dos dicionários, anunciadas desde novembro, acabam gerando debate na comunidade acadêmica, reverberado em comentários em sites que publicaram com destaque essas escolhas.
Uma reportagem do jornal The Washington Post, por exemplo, aborda a tradição centenária do dicionário Oxford e de outros de escolher a “palavra do ano” e a relevância da discussão para entender contextos mais amplos, como as transformações provocadas pelas redes sociais na agenda da sociedade.
“O uso generalizado de palavras centradas na internet reflete uma sociedade que está mudando sua linguagem em direção ao que está sendo lido e compartilhado online”, avaliou Tony Thorne, linguista estudioso de gírias na Kings College London, citado pelo Post.
“Os editores precisam demonstrar que estão acompanhando as últimas mudanças na linguagem e interpretando termos novos e exóticos para seus leitores”, completou o especialista.
Neste ano de 2025, novas palavras serão escolhidas e disseminadas como um balanço informal do comportamento humano dos últimos 12 meses, que cada indivíduo ou grupo extrairá seu significado e serventia.
Nesse looping interminável do calendário, cabe resgatar uma frase irreverente atribuída ao escritor satírico norte-americano Mark Twain (1835-1910): “A história não se repete, mas rima algumas vezes”.
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