Clubes de golfe avançam no Brasil e chegam a cobrar R$ 650 mil de novos sócios

Com mais de 100 campos e 22.000 praticantes no Brasil, esporte atrai executivos da Faria Lima e avança com impulso de projetos imobiliários de luxo e complexos hoteleiros

Campo de golfe da Fazenda da Grama, em Itapeva, interior de São Paulo
09 de Junho, 2024 | 08:34 AM

Bloomberg Línea — Um dos esportes mais populares entre executivos no mundo também tem ganhado espaço no Brasil, ainda que gradualmente, com o impulso de projetos imobiliários de luxo e de complexos hoteleiros.

Há desde campos em complexos imobiliários como o Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo, e localizados em resorts, a tradicionais como o São Paulo Golf Clube, na capital paulista.

Para se tornar sócio de alguns dos principais clubes da modalidade esportiva em São Paulo, os valores superam a casa de R$ 100 mil. Mas esse preço pode ser ainda mais elevado e chegar a R$ 650.000, em montante que inclui o título e a taxa de transferência - e só o dinheiro não basta.

Estima-se que mais de 22.000 jogadores pratiquem regularmente a modalidade em mais de cem campos no país, segundo a Confederação Brasileira de Golfe, responsável pela organização do esporte.

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Os números estão aquém do potencial do país, avalia a entidade, que cita a vizinha Argentina, que, com uma população de 46 milhões, dispõe de quase 300 campos e mais de 100.000 golfistas. Há duas décadas, o Brasil tinha 80 campos e 10.000 praticantes.

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Com raízes na Escócia do século 15 como uma evolução de jogos antigos com bastões e bolas, o golfe voltou a fazer parte do programa das Olimpíadas apenas em 2016, depois de 112 anos. No Brasil, desembarcou com imigrantes britânicos e escoceses. O São Paulo Golf Club, o mais antigo do país, foi fundado em 1901. No Rio de Janeiro, o campo do Gávea Golf & Country Club abriu em 1921.

Entre os maiores desafios para o desenvolvimento do golfe no Brasil estão o custo para praticar o esporte (veja mais abaixo), a falta de campos públicos e a pouca cultura de golfe entre a população em geral, segundo especialistas da modalidade no país.

Mas novos investimentos surgem periodicamente. É o caso da Academia Tiro Certo, na região da Faria Lima, em São Paulo, uma das poucas especializadas na preparação voltada para a modalidade no país. O projeto foi idealizado pelas irmãs gêmeas e golfistas amadoras Daniela e Gabriela Arantes.

“Ainda é um esporte muito masculino. Comecei a praticar porque meu namorado era de uma família de golfistas. O hobby virou coisa séria e expandimos nossa academia para uma área maior, fizemos parcerias para venda de equipamentos e acessórios e estudamos um modelo de franquias”, disse Daniela.

Ela começou a treinar no São Fernando Golf Club (SFGC), inaugurado em 1954, na região de Cotia, na região metropolitana de São Paulo. Tem um dos campos mais elogiados por especialistas.

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Para se tornar sócio do São Fernando, o investimento é de cerca de R$ 164 mil, dos quais perto de R$ 46.000 pelo valor do título familiar e R$ 118 mil pela taxa de transferência, com pagamento à vista, segundo informações passadas pelo clube à Bloomberg Línea.

A mensalidade custa R$ 3.560. Há ainda a opção de título de pessoa jurídica por cerca de R$ 292 mil (aproximadamente R$ 66.000 pelo título e R$ 226 mil pela taxa de transferência).

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No São Paulo Golf Club, considerado o primeiro clube do esporte no Brasil e o mais tradicional, no bairro de Santo Amaro, na zona sul, o valor necessário para se tornar um sócio chega a R$ 650.000, dos quais R$ 50.000 do título e R$ 600.000 da taxa de transferência. A mensalidade de R$ 3.400.

Mas não basta dinheiro. É preciso apresentar uma carta de indicação de cinco sócios. É possível jogar no campo não sendo sócio, desde que esteja acompanhado de um. Nesse caso, o convidado paga um green fee (taxa para jogar no campo) que vai de R$ 880 (terça a sexta) ou de R$ 900 (fim de semana e feriado).

“Executivos da Faria Lima costumam frequentar os campos de golfe nos finais de semana. Nos dias úteis, usam a academia para treinar algumas tacadas no simulador virtual ou exercitar bíceps e peitoral para um melhor swing na hora da tacada. Essa preparação física é importante para evitar lesões e melhorar a performance”, afirmou Gabriela Arantes, sócia da academia.

“O golfe exige treinos específicos. Temos percebido que o esporte atrai quem já pratica outras modalidades, como tênis e esqui. Os executivos buscam nossa academia para fortalecer os músculos e ganhar flexibilidade. Eles não querem sentir dor quando vão jogar nos finais de semana”, disse Daniela.

Daniela e Gabriela, gêmeas donas da academia de golfe Tiro Certo, na região da Faria Limadfd

A descoberta de diabetes tipo 1 incentivou as irmãs a buscarem uma vida mais saudável . Em 2017, elas foram aos EUA para obter uma certificação do TPI (Titleist Performance Institute), uma organização educacional dedicada ao estudo de como o corpo humano funciona em relação às tacadas do golfe.

No final de janeiro deste ano, as “gêmeas do golfe”, como são conhecidas, abriram a academia na rua Iguatemi, no Itaim Bibi (zona oeste), em uma área de 1.200 metros quadrados Antes, em janeiro de 2018, o estabelecimento ocupava um imóvel menor, de 35 metros quadrados na avenida Presidente Juscelino Kubitschek, em que realizaram três expansões, até atingir 110 metros quadrados em 2020.

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Além da escolha de um campo para praticar o esporte, o jogador iniciante tem que adquirir equipamentos, roupas adequadas e acessórios. A participação em torneiros e campeonatos amadores promovidos pelos clubes também estimula a recorrência na prática do esporte.

Entre os clientes da Tiro Certo estão nomes como Olavo Egydio Setúbal Júnior, diretor da O.S. Participações e membro da família fundadora do Itaú Unibanco (ITUB4). Em entrevista ao jornal Valor Econômico em fevereiro, Setúbal Júnior, de 71 anos, disse ter iniciado no esporte há cerca de 30 anos após ter comprado uma casa em Paraty, no litoral fluminense, em um condomínio com um campo de golfe.

São Paulo Golf Clubdfd

Principais campos do Brasil

A revista norte-americana Golf Digest, uma das referências mundiais do esporte, elegeu os melhores campos de golfe no Brasil em uma edição de 2022.

Além do tradicional São Paulo Golf Club, a publicação citou o Gavea Golf and Country Club, fundado em 1921 em São Conrado, na cidade do Rio de Janeiro. Um novo sócio desembolsa R$ 175.000, sendo R$ 25.000 pelo título e R$ 150.000 como taxa de transferência. A mensalidade custa R$ 3.550.

Para ingressar no Gavea Golf, também não basta dinheiro. O jogador interessado tem que conseguir três cartas de indicação de sócios. O título dá direito a incluir filhos de até 10 anos, além do cônjuge. A mensalidade fica 10% mais cara para incluir filhos acima de 10 anos. Não há limite de idade no caso de mulheres solteiras e divorciadas, segundo a secretaria do clube.

Na capital fluminense, a Golf Digest também indica o Olympics Golf Course, na Barra da Tijuca. Conhecido como Campo Olímpico de Golfe, o local ganhou visibilidade internacional após ter sido construído para a Olimpíada de 2016 no Rio. Atualmente, promove torneiros e ministra aulas do esporte.

A tabela de preços publicada no site do Campo Olímpico informa que o green fee de segunda a quinta-feira, exceto feriados, custa R$ 380. Nos demais dias, a taxa de acesso ao campo sobe para R$ 450 (residente no país) e R$ 800 (internacional) no campo de 18 buracos.

O Campo Olímpico também define taxas para aluguel de tacos (R$ 35 por unidade), de carrinho (R$ 260), bolsa de tacos (R$ 150) e cesto de bolas (R$ 30).

Completa a lista de cinco melhores campos de golfe do Brasil, segundo a Golf Digest, o Santapazienza Golf Club em Itatiba, no interior de São Paulo, e o Terravista Golf Course, em Trancoso, no sul da Bahia.

O primeiro é um campo particular do empresário Paulo Malzoni, desenhado pelo arquiteto Tom Fazio, especializado nesse mercado. Não há venda de títulos pelo Santapazienza. Apenas convidados dos proprietários podem jogar no local. O campo já recebeu etapa do circuito mundial para jovens golfistas.

Já o Terravista cobra anuidade de R$ 16.320 com green fee ilimitados. Visitantes pagam taxa de R$ 680 (18 buracos) e R$ 540 (9 buracos). Proprietários de imóveis do Terravista desembolsam menos - R$ 440 (18 buracos) e R$ 360 (9 buracos), mesmo valores cobrados de estabelecimentos conveniados.

O campo, que ocupa 70 hectares (entre grama plantada, lagos e vegetação nativa), foi concebido pelo arquiteto americano Dan Blankenship, um dos designers mais premiados do esporte no mundo.

O Terravista oferece aulas de 50 minutos de duração. Para um jogador, o preço da aula vai de R$ 160 (sócios) a R$ 200 (visitantes).

Campos de golfe são avaliados por um conjunto de características, que vão da qualidade do gramado e da manutenção ao design dos 18 buracos, levando em conta a dificuldade e a beleza paisagística. Também são verificadas as instalações de apoio, como clubhouse, equipamentos de aluguel e áreas de prática.

Iberostar Praia do Forte Golf Clubdfd

Na Bahia, resort com campos

Fora da seleção da Golf Digest, mas conhecido entre praticantes, o Iberostar Praia do Forte Golf Club oferece campo de golfe localizado na faixa norte do litoral baiano, a 60 km da capital Salvador, em uma região de resorts com praias, dunas e lagos famosos. Os últimos três buracos estão dispostos ao longo da Praia do Forte, segundo o Iberostar.

Na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, o Itanhangá Golf Club fixa o preço do título em R$ 30 mil, com a possibilidade de dividir o valor em seis vezes, mais uma taxa de transferência de R$ 30 mil. A mensalidade está em R$ 3.234. Parentes como país, sogros (as), mães, irmãos, irmãs, ex-cônjuge, cunhados (as) de sócios proprietários ativos estão isentos de taxa de transferência.

Em Búzios, há um campo de golfe para quem prefere conciliar suas tacadas em um complexo hoteleiro em um balneário. No Clube Aretê Búzios, golfistas não sócios que desejam jogar no campo podem recorrer ao pagamento de green fee para que usufruir da estrutura.

Na região Sul, um destaque - segundo especialistas - é o Graciosa Country Club, em Curitiba, cujo campo tem cerca de 300 mil metros quadrados com sistema de iluminação que possibilita treinos noturnos. No driving range (local para treinamento e aquecimento), o jogador pode treinar o swing.

Já o Alphaville Graciosa Clube, em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, o campo de mais de 628.000 metros quadrados, também planejado por Blankenship, fica em uma área com lago e matas nativas. O local sedia campeonatos regionais, nacionais e internacionais. O Paraná ainda dispõe do Maringá Golf Club.

Campo Olímpico de Golfe, no Rio de Janeirodfd

Em Itapeva, no interior de São Paulo, entre os novos campos de golfe do país está o da Fazenda da Grama, com 18 buracos, que foi projetado pelo designer americano Brian Costello e ocupa uma área de 700 mil metros quadrados.

O desenvolvimento da modalidade no país também pelo trabalho de outras entidades além da CBG, como a Associação Brasileira de Golfe Feminino, voltada para a divulgação do golfe com mulheres.

Há ainda a Associação Brasileira de Golfe Sênior, em que a idade mínima dos associados é de 40 anos, na qual o jogador faz parte da categoria pré-sênior até completar 55 anos, momento em que passa automaticamente para a categoria sênior.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 25 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.