Branca de Neve: remake da Disney propõe modernizar o clássico, mas recebe críticas

Novo live-action faz uma atualização da história original, favorecendo o empoderamento feminino e reformulando os sete anões

Novo filme teve orçamento de  US$ 250 milhões
Por Christopher Palmeri
23 de Março, 2025 | 10:22 AM

Bloomberg — Não dê ouvidos aos críticos. A nova atualização em live-action da Walt Disney de seu clássico animado A Branca de Neve e os Sete Anões é um filme familiar muito agradável em um mundo que precisa muito deles.

O novo filme A Branca de Neve, que chegou aos cinemas em 21 de março, tornou-se o mais recente tropeço da Disney nas guerras culturais. Tanto que a empresa organizou uma versão truncada do tapete vermelho da estreia em Los Angeles no último fim de semana, evitando que a mídia fizesse perguntas difíceis ao elenco.

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A Disney começou a ter problemas com o remake logo no início. Em 2022, o ator Peter Dinklage criticou a “história retrógrada dos sete anões”.

Outros criticaram a escalação de Rachel Zegler, que é parcialmente descendente de colombianos, para o papel principal. Em uma entrevista em 2023, ela chamou o filme original de “extremamente datado no que diz respeito às ideias de mulheres em papéis de poder e ao que uma mulher é adequada no mundo”.

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David Hand Jr., filho do diretor principal do filme original, se manifestou logo em seguida, dizendo que seu pai e Walt Disney não ficariam felizes com um remake “woke”.

Zegler e sua companheira Gal Gadot, que interpreta a Rainha Má, não favoreceram o filme quando assumiram publicamente lados opostos no conflito Israel-Palestina, e Zegler tem criticado o presidente Donald Trump.

Atualizações

As atualizações eram inevitáveis, pois grande parte do filme original era obviamente retrógrada. Quando vemos Branca de Neve pela primeira vez na edição de 1937, ela está desejando que um príncipe venha e a leve para seu castelo. Dizem a ela que as tortas de maçã são a melhor maneira de atrair um marido. E Dunga (Dopey, no original), um dos anões, não consegue falar, como se mutismo e falta de inteligência fossem a mesma coisa.

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Agora, a Disney transformou o remake em uma história de empoderamento feminino. Em vez de tentar encontrar um marido, a nova Branca de Neve lidera uma rebelião semelhante à de Joana D’Arc contra a Rainha Má.

O filme explica que ela foi batizada não por sua aparência, mas pela nevasca que sua família enfrentou no dia em que ela nasceu. E, em vez de um príncipe, seu interesse amoroso é um dos rebeldes, um rapaz pobre que ela encontra pela primeira vez quando ele está roubando comida.

Os anões foram reimaginados como seres mágicos que podem viver por centenas de anos e suas imagens foram geradas por computador. Isso, é claro, provocou uma reação negativa dos atores anões de verdade, que achavam que a Disney deveria tê-los escalado, em mais uma situação delicada para a empresa.

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Dunga recebe uma atualização, incluindo uma explicação para o fato de ele não poder falar e uma jornada de herói própria. Enquanto isso, Martin Klebba, a voz do Zangado, criticou a decisão da empresa de se evitar perguntas da imprensa no tapete vermelho.

Toda a publicidade negativa sugere que o filme será uma bomba financeira. No entanto, a Disney criou um filme que provavelmente terá repercussão entre o público de todas as idades. As viagens à floresta escura são assustadoras, mas não muito assustadoras, e as mortes dos pais são tratadas de forma sutil, como a Disney vem fazendo há décadas.

Assim como o filme de animação original era de vanguarda para sua época, é possível ver o quanto a tecnologia avançou nessa versão, em que os ouriços gerados por computador parecem tão reais que poderiam pular da tela para o seu colo, e um espelho mágico que explode faz com que você queira se abaixar - e depois pegar uma vassoura.

Zegler e Gadot estão ótimas em seus papéis. Quando Zegler canta “I close my eyes and see the girl I’m meant to be” na nova música, você tem a sensação de que ela está vivendo isso.

É de se lamentar a perda de algumas partes do filme original, como a ausência de Someday My Prince Will Come, uma melodia tão forte que o grande jazzista Miles Davis fez um cover dela. Ela foi substituída por uma música chamada Princess Problems, que também não parece se encaixar muito bem na nova Branca de Neve.

A projeção é de que o filme gere cerca de US$ 50 milhões em vendas de ingressos no mercado doméstico neste fim de semana de estreia, o que está no limite inferior dos esforços de décadas da Disney para refazer seus filmes clássicos.

Com um orçamento de produção de US$ 250 milhões, o filme precisará arrecadar centenas de milhões nas bilheterias apenas para atingir o ponto de equilíbrio.

No entanto, o filme muito criticado da Disney Mufasa: O Rei Leão teve uma estreia decepcionante no ano passado e arrecadou mais de US$ 713 milhões em todo o mundo.

Além da bilheteria, há outros motivos para a Disney fazer esses remakes. A empresa precisa manter personagens como Branca de Neve frescos na mente das crianças.

Um filme como esse será assistido repetidas vezes no serviço de streaming Disney+ e levará a fantasias de Halloween e encontros com personagens nos parques temáticos.

Há uma cena no novo filme em que os pequenos parecem estar se divertindo muito ao andar em uma montanha-russa na mina enquanto cantam Heigh-Ho. A Seven Dwarfs Mine Train já é uma das atrações infantis mais populares do Walt Disney World, na Flórida.

Esse passeio - e esse filme - estarão por aí bem depois que a poeira das guerras culturais tiver baixado, deixando que o resto de nós aproveite a Branca de Neve e seu grupo de amigos por pelo menos mais 90 anos.

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