Bloomberg — O bilionário Jorge Mas foi quem convenceu a maior estrela do futebol mundial a ingressar em um time que está no fundo do poço e definhando na última posição no ranking da sua liga, a Major League Soccer (MLS). Agora ele precisa fazer valer a pena.
Com Lionel Messi e a Apple (AAPL) ao seu lado, o executivo de 60 anos do setor de construção tenta transformar o negócio do futebol nos Estados Unidos e torná-lo muito mais lucrativo.
O ponto central de sua estratégia foi assinar com Messi um contrato que descartava um acordo tradicional de dinheiro por serviços em favor de acordos de compartilhamento de receita e uma participação acionária no time - uma estratégia de negociação mais próxima do manual de Wall Street.
A visão de Mas é a de que a superestrela internacional atraia milhões de novos assinantes para o serviço de streaming Apple TV+ e os melhores jogadores para a MLS, o principal campeonato do esporte nos EUA.
Messi receberá uma parte do lucro de qualquer aumento nas contas internacionais da Apple TV+, enquanto o Inter Miami deve ganhar milhões de dólares com o aumento das vendas de ingressos e mercadorias relacionadas ao clube e ao craque. O restante da liga terá um efeito indireto do hype em torno de Messi, segundo a teoria de Mas, que é a da maioria de especialistas em marketing.
“Tenho grandes aspirações para o Inter Miami, para a MLS e para o esporte”, disse Mas em entrevista na segunda-feira (17), um dia depois que milhares de torcedores ficaram na chuva para ver Messi vestir o uniforme do clube da Flórida pela primeira vez. “Eu estou em tudo.”
É uma proposta com risco, com quase tudo dependendo de um jogador que teve uma carreira incrível, mas que envelhece para os padrões de sua profissão. O jogador de 36 anos foi para Miami depois de passar dois anos no Paris Saint-Germain, clube em que nas últimas semanas recebeu insultos dos torcedores por seu desempenho, e de ter levado a Argentina a uma Copa do Mundo vitoriosa no ano passado.
Messi segue uma tradição de velhos campeões de futebol que se mudaram para os Estados Unidos, com resultados diversos. A lenda brasileira Pelé saiu da aposentadoria aos 34 anos e passou três temporadas no New York Cosmos na década de 1970, enquanto David Beckham deixou o Real Madrid em 2007 para ingressar no LA Galaxy. Também jogaram na liga Thierry Henry, Wayne Rooney e Didier Drogba. Ainda assim, o prometido boom de popularidade do futebol americano não se concretizou.
Mas é um homem paciente. Ladeado pelas camisas de Messi e os livros de Henry Kissinger em um escritório na luxuosa Coral Gables, disse que demorou mais de três anos para trazer Messi para Miami.
Parte do discurso incluía vender a vida de Messi na Flórida - o empresário elogiou a oportunidade de vir para um “país faminto por futebol, onde ele poderia literalmente mudar o esporte” e ficar mais próximo de sua família na Argentina. Mas também houve grandes incentivos financeiros.
Salário de Messi no Inter Miami
O contrato de Messi com o Inter Miami vai até 2025, com um salário base de US$ 20 milhões por ano que pode chegar a US$ 60 milhões com bônus. Após a aposentadoria, Messi receberá uma participação minoritária na equipe - e isso pode ter valor incalculável.
Ele também tem um acordo com a Adidas e outro exclusivo com a Apple TV+ que o beneficiará se o serviço de streaming atrair assinantes internacionais. Mas estima que Messi pode trazer 2 milhões de contas no exterior em 18 meses. “Não há outro jogador neste país que possa ter o impacto global de Leo Messi.”
A Adidas se recusou a comentar, dizendo que nunca discute detalhes de seus contratos. A Apple não respondeu a uma mensagem pedindo comentários.
Embora não haja uma estimativa final sobre quanto valerá o pacote de Messi para Miami, foi o suficiente para atraí-lo em detrimento de uma oferta muito mais direta do clube saudita Al-Hilal. Esse acordo teria lhe rendido cerca de US$ 400 milhões anualmente, de acordo com reportagens da imprensa.
O serviço Apple TV+ tem usado esportes para atrair assinantes, fechando um contrato de 10 anos de US$ 2,5 bilhões com a Major League Soccer para exibir jogos em sua plataforma.
Uma de suas séries de TV mais populares, Ted Lasso, segue um time fictício da Premier League liderado por um americano que nunca havia treinado futebol antes.
Quem é Jorge Mas
De certa forma, reflete como Mas se tornou um magnata do futebol por acaso. Mas é filho de um imigrante cubano, Jorge Mas Canosa, que se tornou líder de um movimento para derrubar Fidel Castro. A fortuna da família vem da MasTec, uma empresa de US$ 9,1 bilhões que constrói oleodutos, redes de fibra ótica e parques eólicos nos Estados Unidos. Mas é o presidente, e seu irmão, o diretor executivo.
Depois de uma tentativa fracassada de adquirir o Miami Marlins há vários anos, Mas comprou dos sócios de Beckham no Inter Miami, em que sua família agora possui 80% do time. Mas disse ver Messi mudando a sorte do time, estimando que seu valor pode chegar a US$ 1,5 bilhão em um ano, em comparação com uma estimativa do Sportico de US$ 585 milhões no ano passado.
Mas planeja trazer um novo parceiro de investimento e patrocinador de camisas e contratou o ex-técnico do Barcelona e da Argentina Gerardo “Tata” Martino, além do meio-campista Sergio Busquets, ex-colega de Messi também no Barcelona e titular de muitos anos na seleção da Espanha. A estratégia do Inter Miami é combinar estrelas em fim de carreira com jovens iniciantes, disse ele.
A construção do novo estádio Freedom Park do Inter Miami começará em breve, com capacidade para 25.000 torcedores. O projeto com financiamento privado viu os custos aumentarem quase 40% em relação ao US$ 1 bilhão original, disse Mas. Está programado para ser concluído em 2025, o último ano do contrato de Messi, embora Mas espera que seu craque permaneça por mais tempo.
Na manhã de segunda, Mas viu Messi fazendo um treino leve pela primeira vez, no atual DRV PNK Stadium do Inter Miami (pronuncia-se “Drive Pink”) em Fort Lauderdale. “Foi inacreditável”, disse ele.
Por enquanto, Messi vai morar no subúrbio, já que queria estar “a não mais de 10 minutos do centro de treinamento”, disse Mas. Os fãs de Messi já começaram a persegui-lo por Miami, até mesmo acompanhando seus passeios no supermercado.
Mas disse que sua maior preocupação é que Messi não consiga encontrar escolas para seus três filhos. Depois que a pandemia tornou Miami um ímã para recém-chegados ricos, garantir uma vaga em uma das escolas particulares de maior prestígio tornou-se quase impossível. Felizmente, a família Mas tinha uma longa história de favores para pedir e acabou encontrando um lugar para eles.
“Eu queria ter certeza de que sua aterrissagem aqui fosse suave, o mais perfeita possível”, disse Mas. “E eu acho que, até agora, tudo bem.”
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