Não só para veganos: NotCo aposta em bebidas proteicas e mira público mais amplo

Empresa de alimentos que se notabilizou por alimentos à base de vegetais alavanca os negócios com desenvolvimento de produtos com uso de IA, conta o CEO para o Brasil, André Weinmann

André Weinmann, CEO para o Brasil da NotCo, uma das startups de alimentos mais valiosas da América Latina (Foto: Divulgação)
11 de Novembro, 2024 | 04:10 PM

Bloomberg Línea — A NotCo nasceu e ganhou mercado entre consumidores brasileiros nos últimos anos com o apelo de alimentos veganos, como o leite à base de vegetais. Mas agora o foco são as bebidas proteicas, que passaram a também dispor de espaço na cesta de consumo dos brasileiros.

“O mercado proteico cresceu 150% no ano passado e, neste ano, cresce 30%. Isso mostra que os consumidores estão em busca de alternativas que ofereçam uma entrega de proteína de qualidade, sem os efeitos possíveis de produtos à base de leite”, afirmou o CEO da NotCo para o Brasil, André Weinmann, em evento recente em que a Bloomberg Línea esteve presente.

Segundo ele, o perfil dos clientes que procuram o produto é variado, ou seja, há um mercado que vai além do nicho.

“Há os que vão à academia e precisam de proteína para o pré ou o pós-treino e existem aqueles que querem um lanche saudável à tarde, com proteína e baixo carboidrato”, disse o executivo.

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O NotShake, lançado em julho, traz uma fórmula à base de plantas, assim como os demais produtos da empresa, como a NotMayo (a “maionese” que não é feita com ovos).

Weinmann chegou ao comando da NotCo em abril deste ano, com uma experiência de mais de 30 anos na indústria de alimentos e cargos de liderança em empresas como Mondelez, Unilever e Nestlé.

A NotCo, liderada globalmente por Matías Muchnick, um dos cofundadores da startup chilena, atingiu em 2021 o status de unicórnio, ou seja, uma avaliação igual ou superior a US$ 1 bilhão.

Segundo Weinmann, a nova bebida da NotCo busca não apenas competir com as tradicionais bebidas proteicas à base de leite mas apresentar diferenciais.

“Nós conseguimos entregar um produto com a mesma quantidade de proteína dos líderes da categoria, mas com baixíssimo carboidrato, o que atende quem busca uma dieta equilibrada”, disse.

Weinmann disse acreditar que a tendência é que mais consumidores busquem opções saudáveis e sustentáveis e apontou que “a NotCo quer atender a essa demanda”.

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O executivo reconheceu que há desafios a serem enfrentados, especialmente no que diz respeito à logística de distribuição no Brasil.

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“A cadeia de distribuição no Brasil é cara e ineficiente, especialmente para produtos refrigerados, o que dificulta a expansão de nossa presença fora do estado de São Paulo”, disse.

Diante desse desafio, ele disse que as vendas online têm sido um ponto de equilíbrio, pois permite que os produtos da NotCo cheguem a consumidores em todo o país. A empresa não abre números.

Além disso, há questões relacionadas ao custo dos produtos plant-based em comparação com os concorrentes à base de leite.

“Nossas bebidas, por exemplo, custam cerca de R$ 16 por litro, enquanto o leite tradicional varia entre R$ 8 e R$ 9. Isso acontece porque o leite animal tem isenção de impostos, enquanto pagamos 35% em tributos. Estamos tentando trabalhar nisso para tornar nossos produtos mais acessíveis”, afirmou Weinmann.

IA para o desenvolvimento

A criação de todos os produtos da NotCo passa por uma ferramenta proprietária de Inteligência Artificial (IA) chamada Giuseppe.

“O Giuseppe é capaz de combinar ingredientes de origem vegetal para criar produtos que têm a mesma estrutura molecular de alimentos à base de animais, como o leite. Com isso, conseguimos desenvolver rapidamente produtos que entregam sabor, consistência e valor nutricional”, disse Weinmann.

“Consideramos que o Giuseppe é a nossa grande vantagem competitiva. Enquanto as empresas tradicionais levam em geral de 18 a 24 meses para desenvolver e lançar um novo produto, nós conseguimos fazer isso em questão de semanas.”

O Giuseppe é uma plataforma composta por quatro módulos principais, cada um com uma função específica no processo de criação de novos produtos, explicou o executivo.

O primeiro passo, chamado de Biagio, é uma interface de interação direta entre os chefs da NotCo e a IA, que permite a experimentação inicial de ingredientes e combinações.

“Nosso chef aqui no Brasil, por exemplo, interage com o Giuseppe para criar combinações moleculares que imitam a estrutura de produtos de origem animal, mas usando ingredientes à base de plantas”, explicou.

Após a fase inicial, o produto segue para o módulo Discovery, que possui um banco de dados com mais de 3.000 ingredientes cientificamente catalogados. A IA faz a ponte entre a criação artesanal e a viabilidade industrial, ajustando a formulação para que o produto possa ganhar escala, além de fornecer uma estimativa de custos e possíveis fornecedores.

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No terceiro módulo, chamado Flavor, o Giuseppe ajusta os aspectos sensoriais do produto, como sabor, cor e textura.

“A IA nos permite garantir que a estrutura molecular dos nossos produtos seja a mais próxima possível do alimento original. Isso nos dá uma taxa de sucesso de 80% na criação de novos alimentos, o que é um ganho imenso”, afirmou Weinmann.

Por fim, o módulo Síntese analisa todas as formulações criadas e refina as opções até que a IA sugira as melhores soluções para o produto final.

“Com isso, conseguimos chegar rapidamente às formulações finais, todas com alta probabilidade de sucesso, o que facilita muito o trabalho dos nossos engenheiros de alimentos”, disse.

Além de otimizar a produção, o Giuseppe também contribui para os objetivos de sustentabilidade da NotCo, pois ajuda a substituir ingredientes que são prejudiciais ao meio ambiente ou à saúde humana por alternativas mais saudáveis e menos impactantes.

“Por exemplo, podemos usar Giuseppe para desenvolver alternativas ao cacau, cuja produção atual é altamente concentrada e enfrenta crises de fornecimento e questões ambientais. Criar cacau à base de plantas poderia descentralizar essa cadeia e mitigar os problemas geopolíticos e ambientais que cercam a cultura”, afirmou o CEO.

“Nosso compromisso é criar produtos que sejam não só gostosos mas também sustentáveis. A inteligência artificial nos permite fazer isso com precisão e de maneira escalável”, disse Weinmann.

À medida que a NotCo continua a crescer, a IA continuará desempenhando um papel central. “Estamos apenas começando a explorar todo o potencial dessa tecnologia, e o futuro do desenvolvimento alimentar será cada vez mais moldado pela inteligência artificial”, afirmou.

Vertical B2B da Notco

A NotCo também expandiu sua atuação no mercado com um braço de negócios B2B para ajudar marcas de consumo a criarem alimentos mais saudáveis e sustentáveis por meio do uso de IA.

Um dos casos revelados pela companhia é uma parceria com a Kraft Heinz nos Estados Unidos. A gigante do setor alimentício se uniu à NotCo para desenvolver versões plant-based de alguns de seus produtos mais vendidos, como o mac’n cheese e as salsichas.

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“Eles nos procuraram porque tinham uma questão que seus engenheiros de alimentos não conseguiam resolver: como reduzir o teor de sal e açúcar sem perder o sabor. O Giuseppe conseguiu soluções em questão de semanas”, disse o CEO.

Essa parceria resultou no lançamento de produtos sob o selo “Kraft Heinz by NotCo”, uma combinação das marcas que une a expertise da Kraft Heinz com a tecnologia da NotCo.

“Nós conseguimos pegar SKUs [produtos] que vendem mais de US$ 1 bilhão ao ano e transformar suas fórmulas em opções plant-based, mantendo o sabor e a qualidade, mas com uma pegada mais saudável”, afirmou Weinmann.

Segundo ele, a NotCo também está em negociações com outras grandes marcas do setor de alimentos e bebidas, mas, por questões contratuais, ainda não pode revelar os nomes de todos os parceiros.

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Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.