Braskem mira transição energética e prevê 25% de produção ‘verde’ até 2030

Petroquímica, alvo de disputa pelo seu controle, amplia capacidade de produção do ‘eteno verde’ em 30% em Triunfo (RS) e estuda investimentos similares nos EUA e na Tailândia

Planta industrial do chamado 'eteno verde' da Braskem em Triunfo, no Rio Grande do Sul: demanda crescente do mercado
24 de Julho, 2023 | 04:45 AM

Bloomberg Línea — Em momento em que é alvo de disputa pelo seu controle e de transição energética para insumos menos poluentes, a Braskem (BRKM5) se prepara para aumentar a oferta dos chamados produtos circulares, cujas matérias-primas são de origem renovável ou reciclada. A petroquímica acaba de concluir um aumento de 30% da capacidade de sua planta de biopolímeros em Triunfo, no Rio Grande do Sul. E os planos são ambiciosos para ampliar essa representatividade.

“As principais avenidas de crescimento que identificamos advêm de biopolímeros e reciclagem. Quase 25% do nosso portfólio até 2030 virá de materiais circulares”, afirmou o vice-presidente de Olefinas e Poliolefinas da Braskem para Europa e Ásia, Walmir Soller, em entrevista à Bloomberg Línea.

A expansão da capacidade de produção do chamado eteno “verde” – à base de etanol de cana-de-açúcar – demandou um investimento de US$ 87 milhões. A partir do eteno, a petroquímica produz o polietileno, usado em uma vasta gama de aplicações como embalagens, utilidades domésticas e brinquedos, entre outros.

Segundo analistas, a capacidade de produção de insumos “verdes” é um dos fatores que ajudam a explicar o interesse de players do mercado pelo controle da Braskem, atualmente em andamento (veja mais abaixo).

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A planta de Triunfo foi idealizada em meados de 2007 e entrou em operação em 2010, depois da crise do subprime nos Estados Unidos. O executivo disse que, à época, a capacidade inicial de 200 mil toneladas não foi totalmente demandada.

“A agenda de sustentabilidade pós-quebra do Lehman Brothers enfrentou dificuldades, mas com o tempo foi retomada. Ganhamos gradualmente os mercados internacionais e hoje estamos em todos os continentes. Exportamos para mais de 30 países”, disse o executivo.

Atualmente, a planta gaúcha opera com capacidade de 260 mil toneladas. A meta da companhia é atingir capacidade total de produção de um milhão de toneladas de biopolímeros até 2030. Para tanto, o plano inclui eventuais novas plantas industriais fora do Brasil.

A petroquímica assinou um memorando de entendimento para construir uma unidade produtiva na Tailândia com capacidade de 200 mil toneladas de biopolímeros. “A aprovação do investimento deve ocorrer no próximo ano. Queremos crescer de maneira inteligente, com posicionamento geográfico e minimizando o capital utilizado”, disse Soller.

O grupo estuda ainda uma planta de produção de polipropileno de origem biológica nos Estados Unidos, mais voltada para os setores automotivo e de utilidades domésticas.

“Além do projeto da Tailândia, estamos avaliando um investimento nos Estados Unidos. Quando olhamos adiante, vamos crescer com a família de polímeros tradicional, na qual a nossa condição competitiva é clara, com reciclados e biopolímeros”, explicou o executivo.

Capacidade esgotada e demanda crescente

Soller evitou fazer comparações entre os biopolímeros e as resinas produzidas à base de combustíveis fósseis. “Os produtos têm o mesmo desempenho e não demandam da cadeia novos investimentos em equipamentos para sua utilização. No entanto, o cliente que compra biopolímeros não quer o fóssil, ele quer uma pegada de carbono mais baixa”, afirmou.

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Walmir Soller, vice-presidente de Olefinas e Poliolefinas da Braskem para Europa e Ásia

A Braskem desenvolveu a marca registrada I’m green, que pode ser usada nas embalagens de clientes que consomem o produto feito à base de etanol de cana-de-açúcar.

“Tivemos um crescimento de demanda importante e esgotamos a capacidade da planta [de Triunfo]. Por essa razão há dois anos tomamos a decisão de expandir”, disse o executivo.

Em um mercado global que busca alternativas mais sustentáveis, o plástico se tornou um dos vilões do meio ambiente. Soller afirmou que, embora o mundo enfrente uma crise econômica, o cenário é diferente daquele de 2010. Em sua visão, a agenda de mudanças climáticas veio para ficar.

“A Europa lidera esse movimento, mas os Estados Unidos e países da Ásia também firmaram o compromisso de buscar alternativas mais sustentáveis. A precificação da linha de biopolímeros remunera o nosso investimento. Temos uma equação que permite à Braskem continuar a investir nesse negócio.”

Os bioplásticos emergem como uma alternativa aos polímeros tradicionais, em meio ao crescente movimento de descarbonização no mundo. Em um segmento de gigantes como a alemã Basf e a americana Arkema, estima-se que o mercado global de bioplásticos e biopolímeros alcance US$ 17,1 bilhões até 2025, segundo a consultoria Global Industry Analysts.

A Europa deve representar o maior mercado regional de bioplásticos e biopolímeros, com participação estimada de 35,2% do total global. No entanto espera-se que a China tenha o crescimento mais rápido no período, destacou a consultoria.

Disputa pelo controle e indenização

Os investimentos na produção sustentável acontecem em paralelo com a disputa pelo seu controle, no processo de venda da fatia da Novonor (ex-Odebrecht), e a discussão de indenização em Alagoas.

No primeiro caso, há três propostas na mesa: uma da americana Apollo Global Managemen com a Abu Dhabi National Oil (Adnoc), com oferta conjunta de R$ 37,5 bilhões em maio para adquirir todas as ações da empresa; em junho, a Unipar Carbocloro propôs a compra de uma participação de 34,4% da Novonor, que manteria uma fatia minoritária, por R$ 10 bilhões; neste mês, a J&F Investimentos, holding da bilionária família Batista, se propôs a pagar também R$ 10 bilhões por participação da Braskem.

No segundo caso, a Braskem informou ao mercado na última sexta (21) ter celebrado um acordo com o município de Maceió, em Alagoas, para pagamento de R$ 1,7 bilhão referente ao afundamento do solo em parte da cidade em decorrência de projetos da companhia. Cerca de R$ 700 milhões desse montante já tinham sido provisionados em exercícios anteriores, segundo a empresa.

Em 2018, um abalo sísmico decorrente da atividade de extração de sal-gema pela companhia na capital alagoana causou rachaduras e afundamento de solo em cinco bairros. Mais de 55 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.

Em relatório do Citi, os analistas Gabriel Barra, Andrés Cardona, Joaquim Alves Atie afirmaram que a celebração do acordo “é mais um passo relevante para a resolução do incidente”. No entanto, eles apontaram que a empresa ainda possui discussões pendentes “que não estão totalmente provisionadas”, como, por exemplo, com o Estado de Alagoas (aproximadamente R$ 1,1 bilhão).

Em junho, a equipe de research do banco de investimento rebaixou os papéis da Braskem para “neutro/alto risco”, de “compra/alto risco” anteriormente, mesmo vendo uma melhora no spread petroquímico neste ano, com recuperação prevista nos próximos dois anos.

“Os spreads ainda estão sob pressão e os resultados para 2023 e 2024 não suportam uma vantagem adicional para a tese de investimento neste momento”, disseram os analistas do Citi.

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Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.