Bloomberg — O mundo caminha para uma era de preços de energia mais baixos, à medida que a mudança para o uso da eletricidade deixa para trás excedentes de petróleo e gás, previu a Agência Internacional de Energia (AIE).
A demanda global por todos os combustíveis fósseis deixará de crescer nesta década, enquanto os suprimentos de petróleo e GNL (Gás Natural Liquefeito) deverão aumentar, segundo a previsão da AIE em seu relatório anual de longo prazo divulgado nesta quarta-feira (16).
Enquanto isso, um aumento contínuo no consumo de eletricidade liderado pela China está a caminho de se acelerar, disse a agência.
“O mundo está pronto para entrar em um novo contexto de mercado de energia na segunda metade desta década porque os equilíbrios subjacentes do mercado de petróleo e gás estão diminuindo”, disse o diretor executivo da AIE, Fatih Birol, em uma entrevista.
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"Se não houver grandes conflitos geopolíticos, entraremos em um período em que os preços sofrerão pressões significativas de queda."
Isso marcaria um ponto de inflexão em relação aos primeiros anos da década, quando o aumento dos custos de energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 alimentou uma onda brutal de inflação.
Os preços já mostraram alguns sinais de arrefecimento em diferentes mercados e globalmente, com os futuros do petróleo bruto em queda de 20% em relação às cotações máximas deste ano, para menos de US$ 75 o barril, apesar do conflito crescente que envolve Israel no Oriente Médio.
O uso de eletricidade cresceu duas vezes mais rápido do que a demanda total de energia na última década e, impulsionado pela China, aumentará seis vezes mais rápido nos próximos dez anos, de acordo com a agência.
Os veículos elétricos serão responsáveis por 50% das vendas de carros novos em todo o mundo até 2030, em comparação com os atuais 20%, segundo a previsão, que coloca, portanto, a desaceleração atual da demanda como um recuo momentâneo de mercado.
"Na história da energia, testemunhamos a Era do Carvão e a Era do Petróleo - e agora estamos entrando rapidamente na Era da Eletricidade", disse Birol.
A agência reiterou sua avaliação de que a demanda por petróleo e gás atingirá um platô nesta década, ainda que o fornecimento de petróleo está em alta em meio à nova produção de Estados Unidos, Brasil, Canadá e Guiana e haja uma “onda” iminente de projetos de gás natural liquefeito.
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Um “enorme acréscimo” de cerca de 270 bilhões de metros cúbicos de nova capacidade de GNL está programado para entrar no mercado até 2030, de acordo com o relatório.
Algumas tecnologias de energia limpa, como a energia solar fotovoltaica, também terão um excedente, como já acontece em alguns países - é o que tem sido visto na China e em partes da Europa, como a Espanha, que chegou a registrar preços negativos do ponto de vista de mercado.
"O cenário está pronto para um mercado de compradores", disse Birol.
Os preços do petróleo podem continuar a ser negociados entre US$ 75 e US$ 80 o barril, mas somente se a Opep e seus aliados restringirem ainda mais a produção, de acordo com o relatório.
Liderada pela Arábia Saudita, a Opep+ já mantém uma capacidade de reserva recorde de cerca de 6 milhões de barris por dia após uma série de cortes na produção, um nível que a AIE espera que chegue a 8 milhões de barris até 2030.
“O aumento da mobilidade elétrica, liderado pela China, tem prejudicado os produtores de petróleo”, disse.
Outros players no setor de energia, no entanto, não estão tão convencidos de que os combustíveis fósseis vão enfrentar um ocaso tão iminente.
Grandes empresas de petróleo
Algumas das principais empresas petrolíferas do mundo se voltaram aos seus negócios tradicionais depois de uma breve orientação para as energias renováveis, com a britânica BP, que, na semana passada, supostamente descartou as metas de redução da produção de petróleo e gás até 2030.
O Goldman Sachs prevê que a demanda por petróleo continuará a aumentar até 2034.
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E, embora as projeções da AIE para a demanda moderada de petróleo neste ano pareçam cada vez mais justificadas, algumas de suas previsões passadas erraram o alvo, como a expectativa de uma crise de fornecimento há uma década, ou as previsões de que a produção russa cairia após a invasão da Ucrânia.
Com mais da metade da eletricidade mundial a ser gerada a partir de fontes de baixa emissão até 2030, existe um progresso no sentido de limitar o avanço da mudança climática. As emissões globais de dióxido de carbono estão “prestes a atingir seu pico iminente”, de acordo com a agência.
No entanto o mundo ainda não está no caminho certo para cumprir as metas ambientais internacionais, advertiu a agência. Até o final do século, as temperaturas deverão aumentar 2,4 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, em vez do limite de 1,5 grau previsto pelo Acordo de Paris de 2015.
As temperaturas bateram recordes neste ano, que foi marcado por condições climáticas extremas, desde uma onda de calor mortal na Índia até inundações devastadoras na África e na Europa, além de incêndios florestais na Grécia e na Floresta Amazônica do Brasil.
"Os custos da inação climática, enquanto isso, aumentam a cada dia, à medida que as emissões se acumulam na atmosfera e o clima extremo impõe seu próprio preço imprevisível", alertou.
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