Recuperação do bitcoin reacende o interesse em criptomoedas no setor financeiro

Apesar das quebras e escândalos envolvendo empresas do segmento nos últimos anos, setor voltou a atrair negócios de M&A, venture capital e IPOs

Bitcoin
Por Olga Kharif
08 de Junho, 2024 | 01:17 PM

Bloomberg — A recuperação do bitcoin, que está perto de uma cotação recorde, tem despertado o ânimo de investidores - não apenas no mercado de criptomoedas em si, mas no mundo financeiro em geral, que havia deixado de lado o setor de ativos digitais no ano passado.

A mudança de atitude tem relação com a melhora das perspectivas para os negócios no setor. Isso se reflete na compra da bolsa de criptomoedas Bitstamp pela Robinhood Markets na quinta-feira (6), no ressurgimento dos investimentos de venture capital na área e na volta das ofertas públicas iniciais (IPOs) de empresas ligadas ao setor, que, segundo analista, pode chegar a uma quantidade recorde.

No próprio mercado de criptomoedas, houve um retorno de fenômenos vistos em outros períodos de alta no passado: as celebridades estão mais uma vez promovendo as criptomoedas e milhares de novos tokens estão sendo criados por dia. Cerca de 330.000 moedas estrearam no ecossistema Ethereum somente em abril e maio, de acordo com o rastreador de dados de criptomoedas Dune.

Leia também: BlackRock ultrapassa Grayscale com maior ETF de bitcoin do mundo

PUBLICIDADE

Em conjunto, isso demonstra que não há nada como o aumento dos preços para fazer com que os investidores se esqueçam da sangria financeira do passado - incluindo as falências da bolsa de criptomoedas FTX e do credor Celsius - em um mercado que é mais famoso por seus escândalos e ciclos de expansão e queda.

"Os investidores geralmente têm memória curta", disse Campbell Harvey, professor de finanças da Duke University. "Quando o sentimento do mercado está elevado, eles dão mais importância às boas notícias e tendem a minimizar as más notícias que podem ter acontecido no passado."

O bitcoin subiu esta semana, ficando perto de alcançar o recorde histórico de US$ 73.798 atingido em meados de março, em meio ao aumento da demanda por fundos negociados em bolsa (ETFs), que receberam a aprovação nos EUA neste ano.

Embora a moeda digital já tenha subido quase 70% este ano, os ganhos são tímidos em comparação com os retornos de memecoins extremamente especulativas, como Dogwifhat e Bonk.

A alta deste ano foi acelerada quando a Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) aprovou ETFs que investem diretamente em bitcoin em janeiro. Em seguida, em maio, a agência deu um passo em direção à aprovação de ETFs de ether à vista. Especialistas do setor veem uma crescente pressão política para legitimar as criptomoedas e criar novas leis que facilitariam a operação de empresas de ativos digitais.

Os ETFs de bitcoin dos EUA atraíram fluxos sem precedentes até quinta-feira. As subscrições líquidas para o grupo de quase uma dúzia de produtos ficaram em US$ 15,6 bilhões, levando o total de ativos para US$ 62,3 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Grandes empresas financeiras estão aprofundando sua atuação no setor de criptomoedas. No início desta semana, a Mastercard voltou a permitir que os usuários da maior bolsa de criptomoedas do mundo, a Binance, fizessem compras em sua rede.

PUBLICIDADE

A Binance fez um acordo com o Departamento de Justiça sobre lavagem de dinheiro e outras violações no ano passado, e ainda está lutando contra as acusações da SEC.

“Nos últimos meses, analisamos os controles e processos aprimorados que a Binance colocou em prática”, disse um porta-voz da Mastercard em um comunicado. “É com base nesses esforços que decidimos permitir compras relacionadas à Binance em nossa rede. Esse status depende de revisões contínuas.”

As fusões e aquisições no setor de criptoativos também estão esquentando. Nesta semana, a mineradora de bitcoin Core Scientific rejeitou uma oferta de aquisição não solicitada de US$ 1 bilhão da startup de inteligência artificial CoreWeave, poucos dias depois de anunciar uma parceria. Na quinta-feira, a Robinhood disse que adquirirá a Bitstamp por US$ 200 milhões para expandir seus negócios de cripto na Europa.

“Uma estrutura regulatória dos EUA cria um ambiente de velocidade de inovação que acelera a tomada de decisões de compra e impulsiona um ambiente robusto de fusões e aquisições”, disse Elliot Chun, sócio da consultoria de M&A Architect Partners, em uma nota recente.

Os fundos de criptoativos estão florescendo. Mais fundos desse tipo foram lançados no primeiro trimestre do que em qualquer outro momento desde o segundo trimestre de 2021, de acordo com a Crypto Fund Research.

As conversas sobre novos IPOs de cripto estão ressurgindo. A Kraken diz que está em negociações para uma rodada de financiamento pré-IPO, enquanto busca um IPO já em 2025, informou a Bloomberg na quinta-feira. Se os preços das criptomoedas continuarem subindo, nos próximos 18 meses poderá ocorrer a maior onda de IPOs relacionados a cripto já registrada, de acordo com a Renaissance Capital.

“Acho que se essas empresas puderem apontar um crescimento explosivo da receita ou ganhos sólidos, isso despertará o interesse dos investidores”, disse Matthew Kennedy, pesquisador sênior de mercado da Renaissance. “Suspeito que os dados financeiros estejam lá e que os investidores sabem que é um negócio cíclico, muitas empresas são assim.”

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Opções de ether indicam recorde do preço do ativo após aprovação de ETFs nos EUA