Bloomberg — Cerca de 86% dos operadores de criptomoedas que assumiram posições em uma memecoin endossada pelo presidente argentino Javier Milei na sexta-feira (14) acabaram perdendo dinheiro, de acordo com a empresa de pesquisa Nansen.
As perdas no token chamado Libra totalizaram um valor estimado de US$ 251 milhões, enquanto uma minoria dos traders que lucraram ganhou um total de US$ 180 milhões, disse a empresa em um relatório que disseca os vencedores e perdedores da memecoin no centro do maior escândalo que o presidente libertário enfrentou desde que assumiu o cargo há mais de um ano.
“Vemos evidências muito tangíveis que mostram um grupo de ‘insiders’ lucrando unilateralmente”, escreveu Nicolai Sondergaard, da Nansen, no relatório que analisou mais de 15.000 carteiras de criptomoedas que tiveram ganhos ou perdas de mais de US$ 1.000.
O episódio também gerou preocupação com as perspectivas do blockchain Solana, a rede subjacente que hospeda o token Libra e dezenas de milhares de outras memecoins. O token homônimo de Solana despencou cerca de 20% desde a noite de sexta-feira até suas mínimas na terça-feira. O valor total dos tokens bloqueados no blockchain, uma métrica importante de interesse em projetos hospedados pela rede, caiu de US$ 12,1 bilhões para US$ 8,29 bilhões, escreveu Nansen, citando dados da DefiLllama, “com investidores provavelmente especulando sobre a futura emissão e negociação de memecoins”.
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O escândalo começou na noite de sexta-feira, quando Milei direcionou seguidores a um site que pretendia arrecadar dinheiro para pequenas empresas na Argentina usando o token de criptografia.
Os chamados “snipers”, ou bots de negociação que tentam antecipar ganhos em novas criptomoedas quentes, começaram a negociar quando o post inicial de Milei despertou interesse no mercado, de acordo com Nansen.
No entanto, os ganhos - que elevaram o valor de mercado do token para cerca de US$ 4,5 bilhões - foram fugazes.
Hayden Davis, diretor executivo da Kelsier Ventures, que ajudou a lançar a moeda, posteriormente descartou a Libra como sendo apenas uma memecoin “em total contraste com seu enquadramento inicial como uma ferramenta para a economia argentina”, escreveu o pesquisador da Nansen.
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E à medida que se espalhava na Argentina a preocupação de que a conta de mídia social do presidente tivesse sido hackeada ou que ele próprio tivesse sido vítima de golpistas de criptomoedas, Milei excluiu sua postagem original no X cerca de cinco horas depois de publicá-la. Ele escreveu que “não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de tomar conhecimento, decidi não continuar a divulgá-lo”.
No entanto, quando Milei excluiu sua publicação original sobre o X, o token já havia despencado 80% em relação ao seu pico, de acordo com Nansen.
“O que começou com um endosso presidencial e uma avaliação de US$ 4,5 bilhões rapidamente se desfez à medida que os ‘insiders’ obtinham lucros, o varejo se queimava e os principais apoiadores se distanciavam”, escreveram os pesquisadores da Nansen. “Os dados da Onchain deixam claro que um punhado de carteiras saiu com milhões, enquanto a maioria dos comerciantes ficou com grandes perdas.”
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