Bloomberg — O homem mais rico das criptomoedas, Changpeng Zhao, estava de bom humor ao discursar para uma plateia lotada no Ritz-Carlton em Kuala Lumpur, apenas sete meses após cumprir pena em uma prisão na Califórnia.
“Quantos são os reguladores ou os que têm experiência em regulamentação aqui? OK, não são muitos. Portanto, estamos seguros”, disse o ex-CEO da Binance Holdings na reunião de terça-feira à noite, encantando o público.
A sua fortuna está estimada em US$ 31,7 bilhões, segundo o Bloomberg Billionaires Index. No fim de 2024, superava os US$ 50 bilhões.
A realidade, porém, é que o homem conhecido nos círculos de criptografia como CZ está cada vez mais focado em aconselhar funcionários do governo sobre a melhor forma de regulamentar os ativos digitais.
Ele foi nomeado consultor do Paquistão e do Quirguistão nas últimas semanas. Ele se reuniu com o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, na terça-feira para discutir o potencial do país como um hub de criptoativos.
Tudo isso é uma grande reviravolta para um homem que se declarou culpado em 2023 por falhas no combate à lavagem de dinheiro que, segundo autoridades dos Estados Unidos, deram a grupos criminosos e organizações designadas como terroristas acesso à Binance.
Leia também: Bitcoin é o novo ouro? Criptomoeda se descola de ações tech e sobe 20% em duas semanas
A presença de Zhao no Ritz-Carlton deu uma ideia do tipo de conselho que ele vem oferecendo: “Eu sempre incentivo o governo a adotar uma abordagem mais flexível”, disse ele.
Ao apresentar seu plano para policiar o setor, o bilionário chamou a atenção especialmente para os governos favoráveis às criptomoedas no Oriente Médio.
Ele disse que incentiva a criação de novas agências reguladoras dedicadas a ativos digitais, como a Autoridade Reguladora de Ativos Virtuais de Dubai.
Essa agência concedeu à Binance uma licença completa em 2024, depois que Zhao abriu mão do controle de voto na entidade local do grupo de câmbio.
Em Dubai, ele levou “literalmente 24 horas” para obter um golden visa, acrescentou Zhao. Ele destacou o banco central do Bahrein como outro órgão regulador com “visão de futuro”.
A Binance também buscou investimentos no Oriente Médio: a MGX de Abu Dhabi adquiriu uma participação minoritária na Binance por US$ 2 bilhões em março.
Zhao, que concordou em pagar uma multa de US$ 50 milhões e renunciou ao cargo de CEO da Binance após sua confissão de culpa em novembro de 2023, vem simultaneamente fazendo incursões nos EUA, onde o governo do presidente Donald Trump é decididamente pró-criptoativos.
Representantes da família de Trump conversaram sobre a aquisição de uma participação financeira no braço americano da Binance, de acordo com uma reportagem do Wall Street Journal, que também disse que Zhao tem pressionado o governo Trump a conceder-lhe um perdão.
Um porta-voz de Zhao negou que tenha havido qualquer discussão com a família Trump sobre a aquisição de uma participação na Binance.
Em Kuala Lumpur, na terça-feira, Zhao disse que a transição nos EUA de reprimir a indústria de ativos digitais sob o comando do ex-presidente Joe Biden para abraçá-la sob Trump, por sua vez, desencadeou uma “mudança de 180 graus” na mentalidade dos reguladores em todo o mundo.
“Com os EUA sendo tão pró-cripto agora, todos os outros governos precisam ser um pouco mais competitivos para reter talentos, atrair fundos e investimentos”, disse ele. “Portanto, eu incentivo a maioria dos governos a serem um pouco mais progressistas do que os EUA.”
Binance na Malásia
Binance tem um passado complicado na Malásia. Em julho de 2021, a Securities Commission Malaysia repreendeu a empresa e o então CEO Zhao por operar ilegalmente a bolsa de ativos digitais no país.
A Binance adquiriu uma participação minoritária na exchange malaia MX Global - que sediou o evento de terça-feira com Zhao - no ano seguinte.
Anwar agora quer reformular o setor financeiro da Malásia, adotando blockchain e criptomoedas.
O país “deve se afastar de modelos de negócios desatualizados e do sistema financeiro antiquado”, disse ele após se reunir com Zhao e autoridades de Abu Dhabi em janeiro.
O primeiro-ministro da Malásia se manifestou mais uma vez em uma postagem na terça-feira no X, dizendo que acolheu a discussão contínua com as agências, incluindo o regulador de valores mobiliários, o Bank Negara Malaysia e o Ministério do Digital, para “explorar maneiras de facilitar e promover a inovação responsável”.
Foco no futuro
Após ser libertado da custódia dos EUA, Zhao prometeu em um post no X focar em investimentos que priorizem o “impacto” em relação aos retornos.
Ele também disse que um novo empreendimento chamado Giggle Academy, uma plataforma de educação on-line sem fins lucrativos, seria uma grande parte de sua vida.
A Binance Labs, que já foi o braço de risco da exchange, foi reorganizada em janeiro em uma entidade chamada YZi Labs, que gerenciaria o patrimônio de Zhao e do cofundador da Binance, Yi He.
No evento de terça-feira, Zhao disse que a plataforma Giggle poderia ajudar crianças em mercados emergentes - inclusive na África - a conseguir empregos a partir dos 14 anos de idade. Questionado no palco se isso poderia ser visto como promoção do trabalho infantil, ele respondeu de outra forma.
“Tenho que ter cuidado com isso. Não queremos violar nenhuma lei sobre idade de trabalho”, disse ele. A Giggle não oferece um mercado de trabalho na plataforma atualmente, mas planeja fazê-lo no futuro, acrescentou.
“Também estamos dispostos a trabalhar com os ministérios do trabalho para revisar ou pelo menos explorar qual é a idade certa para as crianças trabalharem. Portanto, acho que você ajudará muitas famílias quando as crianças puderem fazer trabalhos simples desde cedo.”
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Trump já chamou bitcoin de fraude. Hoje sua família tem ganho de US$ 1 bi em cripto
©2025 Bloomberg L.P.
