Selic a dois dígitos acabará sendo norma, e não exceção, diz economista do Citi

Leonardo Porto, do Citi, Cassiana Fernandez, do J.P. Morgan, e David Beker, do BofA, discutiram as perspectivas fiscais e monetárias do país para 2025 em painel no Bloomberg Línea Summit

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Bloomberg Línea — Fatores como o aquecimento do mercado de trabalho, o aumento dos salários e o cenário externo, além do risco fiscal, devem manter a política monetária mais restritiva até, pelo menos, o segundo semestre do próximo ano.

Essa foi uma das visões consensuais de economistas que lideram a cobertura para o Brasil em bancos de Wall Street em painel sobre as perspectivas para a economia do país em 2025 no Bloomberg Línea Summit, realizado nesta segunda-feira (7) em São Paulo.

Para Leonardo Porto, economista-chefe do Citi (C) para o Brasil, os juros não devem recuar para o patamar abaixo de 10% ao ano novamente tão cedo.

“A Selic de dois dígitos vai ser muito mais norma do que exceção. E a explicação disso é que no Brasil só foi possível colocá-la a um dígito [em situações como] depois da recessão de 2008. O risco fiscal hoje é muito mais alto do que era na época”, disse ele.

Para Cassiana Fernandez, Head de Pesquisa Econômica para a América Latina do J.P. Morgan (JPM), e David Beker, head de economia do Bank of America (BAC) no Brasil, o cenário de taxa Selic na casa de um dígito é factível apenas no médio prazo, a partir do segundo semestre de 2025.

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“A taxa de juros deve atingir o pico de 12% [ao ano] no início de 2025, mas deve ser reduzida no segundo semestre do ano. E podemos voltar para os juros de um dígito”, afirmou Beker.

Fernandez, por sua vez, disse que um nível mais baixo do juro pode ser atingido caso o risco fiscal seja reduzido. “Não vejo a impossibilidade de chegarmos a uma taxa de juros perto de 8,5%”, disse.

Para o fim de 2025, os economistas dos três bancos presentes no debate disseram prever uma Selic por volta de 10% ao ano - menor que o patamar projetado de 11,75% ao fim de 2024 pelo consenso de mercado, segundo o boletim Focus, do Banco Central.

“A primeira coisa é entender que o Banco Central, felizmente, está entregando aquilo que faz parte do mandato dele. A inflação roda acima da meta por fatores domésticos e externos. Portanto, esse ciclo de alta da taxa de juros deve continuar, e isso é resultado da importância dada pelo BC para colocar a economia no ritmo de crescimento mais condizente com a oferta”, disse Porto.

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Segundo ele, o cenário do Citi hoje é de 11,50% ao ano ao fim do ciclo de aumento de juros. “Mas o risco é que a alta seja muito maior que isso, e nossa estimativa está sendo constantemente revisada”, afirmou.

Fernandez disse avaliar que a escassez de chuvas também deve afetar as próximas decisões do BC. “Apesar das nossas contas externas fortes, houve um movimento significativo de apreciação do câmbio, o que nos deixa mais preocupados com a inflação de bens, especialmente agora, para o fim do ano.”

“A seca no país já começa a afetar os preços de energia e alimentação, com o IGP [Índice Geral de Preços] mais alto em uma economia aquecida, com o mercado de trabalho apertado e as expectativas de inflação desancoradas. O BC precisa ser, no mínimo, cauteloso”, disse a economista do J.P. Morgan.

Fernandez também mencionou os recentes estímulos da China como um fator de atenção sobre os preços. Na visão dela, se antes a desaceleração da economia chinesa ajudou a manter os preços de commodities controlados, o risco agora é que os estímulos voltem a pressionar os custos.

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