Resultados das eleições americanas ampliam pressão sobre o Brasil, diz Mansueto

Economista-chefe do BTG Pactual afirmou à Bloomberg Línea em evento que promessas de Trump elevam as incertezas até que se saiba o que era retórica de campanha e o que vai ser de fato adotado

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Bloomberg Línea — A eleição do republicano Donald Trump como próximo presidente dos Estados Unidos, com uma vitória mais ampla do que apontavam as pesquisas, “assusta o mercado financeiro” em um primeiro momento até que as medidas sejam de fato concretizadas. Essa é a análise de Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, em declarações à Bloomberg Línea em evento nesta manhã de quarta-feira (6) em São Paulo.

Além da eleição por ampla maioria, Trump e o seu partido devem sair vitoriosos e com maioria nas duas casas legislativas: o controle do Senado já foi assegurado, e o da Câmara dos Deputados está encaminhado para essa direção, embora ainda haja uma possibilidade menor de reversão.

“O governo Trump, no controle da Câmara dos Deputados [ainda a ser confirmado] e do Senado, assusta o mercado financeiro porque, se colocarmos ao pé da letra, ele prometeu aumento de tarifas para importações do México, aumento de tarifas para a importação da China, aumento de tarifas, eventualmente, para importações da Europa. Isso é um cenário mais inflacionário”, afirmou Mansueto.

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Na lista de medidas prometidas de Trump constam ainda a deportação de 3 milhões de imigrantes sem documentos e a redução de impostos corporativos e de aumentos dos gastos públicos, medidas também com elevado potencial inflacionário.

“Os Estados Unidos são diferentes do resto do mundo. Inflação maior nos Estados Unidos significa juros maiores no país, o que impacta a moeda de todos os países emergentes, inclusive o Brasil”, disse o economista, que foi secretário do Tesouro.

No mercado brasileiro, o dólar abriu em alta de 1,34%, cotado a R$ 5,82. No início da tarde, havia devolvido esse ganho.

De acordo com Mansueto, passadas as eleições, o mercado vai começar a procurar entender o que era retórica de campanha e o que, de fato, será implementado pelo novo mandatário a partir de janeiro de 2025, em retorno à Casa Branca depois de quatro anos.

“Teremos que esperar para ver exatamente quais são as políticas concretas dessa eleição do presidente Trump e do Partido Republicano”, disse.

O economista deu as declarações nesta manhã em evento organizado pela empresa de tecnologia de pagamentos Adyen, em São Paulo.

Pressão para o governo brasileiro

O novo quadro nos Estados Unidos deve colocar ainda mais pressão sobre o governo brasileiro, prestes a anunciar novas medidas de contenção de gastos para reduzir o impacto fiscal nas contas do país. No mercado, as projeções são as de que o governo deveria anunciar valores em torno de R$ 50 bilhões.

“O que podemos fazer aqui no Brasil é mostrar essas medidas de controle de gastos para melhorar o cenário local. Isso poderia reduzir muito esse impacto de incerteza que nós teremos agora e por um tempo com a eleição americana”, afirmou.

Segundo o ex-secretário do Tesouro, mais importante do que a economia projetada com o anúncio será a mensagem de compromisso com o novo arcabouço fiscal, criado pelo próprio governo Lula e sancionado no ano passado.

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“Se o mercado enxerga uma mudança estrutural no risco do crescimento da despesa obrigatória, fica mais fácil para todo mundo fazer uma projeção e chegar à conclusão de que o governo vai respeitar o arcabouço fiscal”, disse Mansueto à Bloomberg Línea.

No cenário de incertezas crescentes, o país convive com uma perspectiva de alta de juros, em um momento em que economias desenvolvidas e emergentes reduzem as taxas.

Segundo o mais recente relatório Focus, economistas de mercado projetam que a Selic deve sair dos atuais 10,75% ao ano e encerrar 2024 a 11,75%. A curva de juros futuros está acima de 13% ao ano.

Para Mansueto, o anúncio de medidas para a revisão de gastos, acompanhado da diminuição de “ruídos” no governo, tem o potencial de mudar o quadro de confiança no país, em um momento em que a economia deve crescer acima dos 3% e o país registra um dos menores índices de desemprego, com 6,8%.

“Nós podemos mudar para um quadro em que a expectativa de inflação possa cair e que criar um ambiente para que o Banco Central, a partir do terceiro trimestre do próximo ano, comece a cortar a taxa de juros”, disse Mansueto.

Nesse cenário hipotético, haveria a perspectiva de retomada mais acentuada do crescimento no segundo semestre do ano que vem e a transição para 2026 com os juros a caminho do patamar de um dígito e com a recuperação do investimento”, afirmou.

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