Receita temporária adia discussão de meta zero, diz Ana Paula Vescovi, do Santander

Em entrevista à Bloomberg News, economista-chefe do banco espanhol no país diz que governo ganhou tempo para tentar aprovar medidas no Congresso para restaurar parte das receitas

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil
Por Barbara Nascimento
21 de Fevereiro, 2024 | 01:44 PM

Bloomberg — As receitas temporárias previstas para o primeiro trimestre devem adiar o inevitável movimento em direção a uma meta fiscal mais frouxa para o segundo trimestre do ano, de acordo com a economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, em entrevista à Bloomberg News.

O governo prometeu zerar o déficit neste ano.

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Ainda que a mudança seja inevitável - o banco espera um déficit fiscal de 0,8% do PIB em 2024 -, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ganhou alguns meses para introduzir a discussão e tentar aprovar medidas econômicas no Congresso para restaurar parte da receita pública.

Vescovi afirmou que, nos primeiros meses do ano, os recursos vindos do pagamento do Imposto de Renda sobre fundos fechados — que entrou em vigor recentemente e teve a primeira de quatro parcelas paga em dezembro — e “algum efeito” na atividade fruto do pagamento de precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais) no início do ano devem impulsionar as receitas.

Isso deverá aliviar a pressão sobre as contas públicas e empurrar a alteração da meta para o segundo trimestre, quando serão discutidos os parâmetros do próximo Orçamento federal.

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“A pressão deverá ser um pouco mais acentuada entre abril e maio”, segundo Vescovi, que foi secretária do Tesouro e secretária-Executiva do Ministério da Fazenda entre 2016 e 2018.

Avanço da arrecadação

O Santander prevê que a arrecadação de impostos tenha um crescimento real de 7% em janeiro, já descontada a inflação, o que deve permitir um superávit fiscal de R$ 70 bilhões no primeiro mês do ano.

Embora a questão deva continuar “presente e importante”, Vescovi explicou que a percepção dos investidores sobre o assunto deve variar de acordo com o sentimento global. “Diminuindo os riscos, aumenta a complacência.”

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Ela acrescentou que o corte dos juros no Brasil e entre as economias desenvolvidas deve superar “eventos de volatilidade como as eleições nos EUA”.

Selic mais baixa

O Santander revisou para baixo sua previsão para a Selic no início do mês, de 9,5% para 8,5% este ano, com base em um cenário melhor para a inflação. A taxa terminal deve chegar a 7,5% em 2025.

Vescovi disse acreditar que a inflação entrará em trajetória mais benigna à medida que o PIB desacelera - com uma desaceleração atrasada do mercado de trabalho – e com trajetória positiva do câmbio. “Isso nos leva a um espaço maior de atuação da política monetária”, disse.

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