Bloomberg — As pesquisas de opinião que mostraram a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para os níveis mais baixos em suas gestões complicam os esforços do Banco Central para domar a inflação persistente.
A desaprovação do líder de esquerda ultrapassa 60% em alguns dos maiores estados do país, incluindo São Paulo e Minas Gerais, de acordo com uma pesquisa da Quaest divulgada nesta quarta-feira (26).
E, pela primeira vez, a desaprovação superou a aprovação nos principais estados do Nordeste, que historicamente têm sido o bastião do Partido dos Trabalhadores (PT), incluindo Bahia e Pernambuco, onde Lula nasceu.
Com os sinais de alerta, Lula tem exigido que sua equipe econômica apresente medidas para aumentar sua popularidade, que foi fortemente atingida por um recente aumento nos preços dos alimentos.
No entanto ele tem insistido na mesma receita de seus mandatos anteriores, que corre o risco de exacerbar o próprio problema da inflação que ele precisa corrigir.
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Até o momento, Lula anunciou doações em dinheiro para estudantes recém-formados, uma expansão na oferta de medicamentos gratuitos por meio do programa de farmácia popular e regras flexíveis que darão a mais trabalhadores o direito de fazer saques antecipados do FGTS. Somente esses saques poderiam injetar R$ 12 bilhões na economia.
Lula continua pressionando por mais ações, levando os investidores a acreditar que o Banco Central liderado por Gabriel Galípolo não terá outra opção a não ser continuar aumentando as taxas de juros ou, pelo menos, adiar os cortes.
O BC já elevou os custos dos empréstimos para 13,25% ao ano em fevereiro e prometeu um terceiro aumento consecutivo de um ponto percentual no próximo mês.
O que diz a Bloomberg Economics:
“O presidente Lula não tem muitas opções para impulsionar o crescimento - e a popularidade - sem colidir com seu compromisso com a estabilidade fiscal e de preços. A melhor opção parece ser reforçar o compromisso fiscal e não interferir no trabalho do Banco Central. Isso permitiria que o real se valorizasse, o que ajudaria a mitigar a inflação dos alimentos e abriria espaço para cortes nas taxas de juros, mesmo que não em 2025. O grande risco é tentar repetir velhas fórmulas que falharam no passado, com a expectativa de resultados diferentes.”
Adriana Dupita, economista do Brasil e da Argentina
As taxas de juros futuros do Brasil subiram em todos os níveis nesta quarta-feira. O contrato com vencimento em janeiro de 2026 subiu 13 pontos-base nas negociações da tarde em São Paulo.
O real chegou a cair 0,9% antes de reduzir as perdas, continuando a ter um dos piores desempenhos nos mercados emergentes.
O mercado de ações também refletiu a especulação sobre as tão esperadas mudanças no gabinete de Lula, que começaram com a substituição de sua ministra da Saúde na terça-feira (25).
O chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse na quarta-feira (26) que Lula está comprometido com a responsabilidade fiscal, um dia depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente havia lhe dado a missão de equilibrar as contas públicas do Brasil.
"O governo não adotará nenhuma medida excepcional para impulsionar e reaquecer o crescimento econômico este ano", disse Costa em um evento do BTG Pactual em São Paulo. "A economia vai crescer por causa do que já está sendo feito."
Desaceleração ‘aceitável’
Depois de expandir 3,5% em 2024, o crescimento econômico deve desacelerar para 2,3% este ano, de acordo com estimativas oficiais.
Lula já está descontente com esse desempenho e poderia pressionar por medidas de estímulo ainda mais agressivas se as previsões de crescimento caírem abaixo de 2%, de acordo com pessoas familiarizadas com o pensamento do presidente ouvidas pela Bloomberg News.
Embora os membros da equipe econômica tenham alertado o presidente de que os brasileiros veem a inflação como um problema maior do que a atividade econômica, não está claro se ele seguirá o conselho, disse uma das pessoas. Todos eles pediram anonimato para discutir o pensamento de Lula.
A pesquisa da Quaest mostra que os brasileiros percebem uma deterioração na situação econômica do país, principalmente devido ao aumento dos preços dos alimentos.
-- Com a colaboração de Raphael Almeida dos Santos e Giovanna Bellotti Azevedo.
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