Prejuízos com enchentes no Rio Grande do Sul afetam do campo ao setor financeiro

Estimativas começam ser realizadas, como a da Enki Research, que projetou impacto de R$ 12,7 bi, segundo a Bloomberg News; indústria e setor elétrico são também afetados

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Por Barbara Nascimento
08 de Maio, 2024 | 07:21 PM

Bloomberg — As enchentes e as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos dias devem trazer um impacto econômico da ordem de R$ 12,7 bilhões somente ao estado, além de afetar produtores agrícolas, bancos e seguradoras de todo o país.

O impacto foi calculado pelo Enki Research com base em um modelo de pesquisa e dados de satélite. Com a vazão do Guaíba quatro a cinco vezes acima da média e mais chuvas previstas para a próxima semana, o cenário ainda pode piorar.

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O Rio Grande do Sul foi atingido por dez dias de fortes chuvas que deixaram cidades inteiras submersas e fecharam o principal aeroporto do estado, o Salgado Filho, em Porto Alegre.

Mais de 400 cidades foram afetadas e mais de 67.000 pessoas estão em abrigos. O governo contabiliza 128 mortes e 131 pessoas desaparecidas até uma atualização na tarde desta quarta-feira (8).

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“Isso representa danos físicos às infraestruturas e à agricultura, juntamente com perdas de receitas empresariais não recuperadas no prazo de seis meses”, disse Chuck Watson, da Enki. “A expectativa é a de mais chuva na próxima semana, então, infelizmente, provavelmente a situação vai piorar”, disse.

Os primeiros efeitos já foram observados no setor agrícola, e o preço da soja subiu em meio a temores de “redução na colheita e piora na qualidade”, segundo relatório da XP.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na terça-feira (7) que o país pode ter que importar arroz e feijão — o estado responde por cerca de 60% da produção de arroz.

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A indústria de carne também pode ser impactada, já que o estado é responsável por cerca de 17% da produção suína do país e 13% da avicultura, disse a corretora.

A ação da empresa de serviços e insumos agrícolas 3Tentos (TTEN3) caiu mais de 5% nesta semana devido às preocupações com o impacto das enchentes em suas operações.

A produtora de arroz Camil (CAML3) perdeu 2%, com a XP estimando que cerca de 15% das lavouras do sul do estado ainda precisam ser colhidas. As ações se recuperaram na quarta, depois que a empresa afirmou que conseguiu manter estável o seu fornecimento de arroz e feijão, apesar dos desafios logísticos.

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Já a BRF (BRFS3) suspendeu as atividades em algumas de suas unidades na região e analistas estimam que entre 10% e 15% de sua capacidade total possa ser impactada, embora preços mais altos possam minimizar o impacto. Os papéis avançaram hoje 11,17%, depois que a empresa divulgou os resultados do primeiro trimestre.

Bancos e indústria

Com as perdas em grande escala esperadas no agronegócio, que responde por um quarto do PIB brasileiro, os bancos provavelmente terão que renegociar dívidas do setor, estendendo o prazo e oferecendo taxas de juros mais baixas, disseram analistas do Bank of America em um relatório.

A maior preocupação é o Banrisul, o banco estadual do Rio Grande do Sul, que tem 85% de seus empréstimos vinculados ao sul do Brasil, disse o BofA.

As ações do Banrisul caíram cerca de 8,3% nesta semana, desempenho inferior ao de um índice de bancos brasileiros.

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Em comunicado na terça, o banco disse que estava totalmente operacional e tentava apoiar os clientes da melhor maneira possível. As chuvas não tiveram impacto material nas propriedades do banco, afirmou, acrescentando que ainda não foi possível estimar o impacto do evento climático nos seus negócios.

O BofA também citou o ABC Brasil e a XP, com cerca de 20% das carteiras de crédito expostas à região, seguidos pelo Banco do Brasil, com 18%, e Nubank e Bradesco, com 15% cada.

As enchentes também forçaram paralisações em manufatura. A Gerdau interrompeu as operações em duas unidades que representam cerca de 5% da capacidade siderúrgica total da empresa e cerca de 10% da capacidade brasileira, enquanto a General Motors suspendeu a fabricação de automóveis em sua fábrica no estado, em Gravataí, até sexta-feira (10), prorrogando um desligamento programado.

O setor elétrico é mais um que deve ter perdas. A Eletrobras (ELET3, ELET6) teve uma usina fechada devido a enchentes e a CPFL Energia deverá sofrer impactos em seus segmentos de transmissão e geração. Uma barragem de uma de suas hidrelétricas foi danificada, e instalações, inundadas. A XP estimou que ficar cinco dias sem fornecer energia para os 250.000 clientes da empresa custaria R$ 15 milhões em receita.

As empresas ainda avaliam os impactos.

Procurada, a Gerdau (GGBR4) informou que as operações seguem paralisadas até que as atividades possam ser retomadas com segurança. A Camil informou que, apesar das limitações logísticas, mantêm o abastecimento de arroz e feijão no varejo do estado e das demais regiões do país.

A 3Tentos disse que suas duas fábricas funcionam normalmente, assim como suas lojas.

Bradesco, BRF, ABC Brasil e Banco do Brasil (BBAS3) não comentaram — os dois últimos devido ao período de silêncio antes da divulgação de resultados. Bradesco e BRF também não comentaram. Eletrobras, CPFL e Nubank (NU) não responderam a pedidos de comentário feitos pela Bloomberg News.

Embora tenha havido algum alívio com as chuvas, “os impactos para as pessoas e na economia são bastante significativos”, resumiu a XP.

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