Polícia Federal indicia Bolsonaro em investigação sobre tentativa de golpe

Ex-presidente é acusado de ter participado de movimento para impedir a posse de Lula e de ter conhecimento sobre plano para tentar matar o então presidente eleito

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Bloomberg — A Polícia Federal indiciou 37 pessoas após investigar uma suposta tentativa de golpe, de acordo com um comunicado oficial nesta tarde de quinta-feira (21). O ex-presidente Jair Bolsonaro está entre os incluídos na recomendação de acusações, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto que falou com a Bloomberg News.

As autoridades investigam o papel que o ex-líder pode ter desempenhado na tentativa de insurreição que ocorreu em 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram prédios do governo na capital do país.

Os tumultos foram um aparente esforço para reverter a derrota de Bolsonaro diante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de outubro de 2022.

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As autoridades federais também determinaram que Bolsonaro tinha pleno conhecimento de um plano para assassinar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes após a eleição, segundo noticiaram a CNN Brasil e outros veículos locais na quinta-feira, citando fontes não identificadas.

Um porta-voz de Bolsonaro não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Bloomberg News. O ex-presidente já havia negado qualquer irregularidade relacionada aos tumultos.

Questões legais de Bolsonaro

O indiciamento marca o primeiro movimento oficial de autoridades para vincular Bolsonaro diretamente às tentativas de impedir que Lula assumisse o poder após a eleição de 2022, e aprofundará os problemas legais enfrentados pelo ex-presidente de direita.

O assunto agora será encaminhado à Procuradoria Geral da República para decidir se apresentará acusações, solicitará informações adicionais ou encerrará o caso.

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A Polícia Federal já havia recomendado acusações contra Bolsonaro em outro caso envolvendo a suposta venda ilegal de presentes recebidos dos governos da Arábia Saudita e do Bahrein. Também foram recomendadas acusações contra ele em um inquérito sobre falsificação de registros de vacinação.

O ex-presidente também negou ter cometido irregularidades nesses casos.

O Procurador-Geral Paulo Gonet pretende unir as três recomendações em uma única denúncia, de acordo com outra pessoa familiarizada. Ao combinar as três investigações, a denúncia seria mais forte, disse a pessoa. Não há prazo para que a denúncia seja apresentada.

No ano passado, uma comissão parlamentar acusou Bolsonaro de ser o “autor” da tentativa de 8 de janeiro de 2023 de anular a vitória de Lula - e informou que sua investigação havia descoberto que membros do alto escalão de seu governo e oficiais militares de alto escalão haviam contribuído para os ataques.

Em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu Bolsonaro de pleitear ou ocupar cargos públicos até 2030 devido à divulgação de alegações falsas sobre o sistema de votação do Brasil durante a eleição. Bolsonaro negou ter cometido irregularidades também nesse caso.

Plano contra Lula

A Polícia Federal prendeu cinco pessoas na terça-feira (19), principalmente militares, por supostamente planejarem matar Lula, Alckmin e Moraes em 2022, após a vitória eleitoral do líder de esquerda.

Os suspeitos pretendiam impedir a posse de Lula e monitoraram os movimentos de seus alvos, considerando métodos como veneno, produtos químicos e explosivos para realizar os assassinatos.

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Os conspiradores começaram a rastrear seus alvos após uma reunião na casa do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, que foi companheiro de chapa de Bolsonaro naquele ano, segundo a polícia.

As autoridades brasileiras também continuam investigando as explosões que ocorreram do lado de fora do Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada. Um homem morreu depois de tentar entrar no prédio do tribunal com explosivos amarrados ao corpo, de acordo com investigações preliminares.

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