Para Barclays, corte maior da Selic custou credibilidade ao Banco Central

Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do banco britânico, disse à Bloomberg News que ritmo moderado seria mais alinhado à linguagem do Copom

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Bloomberg — A escolha pelo corte de 0,50 ponto percentual da taxa Selic trouxe “certo custo” de credibilidade ao Banco Central, já que não teria sido coerente com a comunicação anterior de parcimônia da autoridade monetária, defende Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.

Para ele, um início do ciclo de flexibilização com ritmo moderado seria mais alinhado à linguagem empregada pelo Copom e permitiria um declínio das expectativas de inflação.

“A política monetária envolve um tradeoff das escolhas: a que prevaleceu foi a do 0,50 pp, mas isso vem a um certo custo da parte de credibilidade que pode estender o prazo para a convergência das expectativas em direção à meta”, afirmou em entrevista à Bloomberg News.

As expectativas para 2025 e 2026 apuradas pela Focus permanecem estáveis em 3,5% desde antes da última reunião do Copom, há cinco e oito semanas, respectivamente. O BC enxerga a inflação de volta à meta já em 2025, com projeção de 3%, de acordo com a ata da reunião passada.

Além disso, os votos a favor da redução de 0,25 ponto percentual, que saíram derrotados na decisão, vieram de diretores que “tradicionalmente refletem as áreas mais técnicas do BC, aquelas cujo trabalho de fato inclui a responsabilidade por se olhar as dinâmicas de inflação”, afirmou Secemski.

“Não é só porque aquela comunicação vista em junho, da parcimônia, foi invalidada, mas é pelo próprio fato de que prevaleceu uma preferência que não foi compartilhada pelas áreas mais técnicas”, disse Secemski.

O BC cortou a Selic para 13,25% na reunião do início de agosto, enquanto a maioria dos economistas esperava uma queda menor, de 0,25pp, para 13,50%. Já a precificação da curva de juros mostrava apostas divididas no mercado.

O placar foi apertado, de 5 votos a 4 — além dos dois novos diretores indicadores pelo governo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, também votou pela queda maior.

O Copom sinalizou que manterá o ritmo nas próximas reuniões. O Barclays projeta um corte de 0,50 pp em setembro e avalia que os dados não caminham na direção de dose maior.

Fiscal

Recentemente, os investidores passaram a mostrar preocupação com o cumprimento da meta do governo de zerar o déficit fiscal no próximo ano, em razão da necessidade de elevar as receitas. Para Secemski, seria pior para a credibilidade do arcabouço fiscal se a meta for revisada.

Caso fique aparente que o governo não vai conseguir entregar, “é melhor perder a meta e deixar os gatilhos dispararem”, afirma.

Nas contas do Barclays, num cenário de ausência de novas medidas de arrecadação, o déficit será de 1,1% para 2024. Nesse caso, seriam necessários cerca de R$ 120 bilhões para zerar o déficit.

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