Bloomberg — O Brasil entrou em erupção de alegria na noite de domingo (2) quando o filme Ainda Estou Aqui se tornou o primeiro vencedor do Oscar na história do país - em meio às celebrações do Carnaval, nada menos que isso.
Mas o triunfo do filme que detalha a luta de uma mulher contra a ditadura brasileira após o desaparecimento de seu marido na década de 1970 também atingiu um ponto sensível na nação de mais de 210 milhões de habitantes.
Ainda Estou Aqui, estreou no Brasil em meio a uma investigação legal em andamento sobre o papel do ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa de insurreição de 8 de janeiro de 2023, realizada por seus apoiadores contra Luiz Inácio Lula da Silva, que havia vencido a eleição por pouco.
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O filme, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é baseado em um livro de memórias de 2015 de Marcelo Rubens Paiva, filho dos personagens do filme. Era provável que o filme dividisse as opiniões no Brasil, onde os esforços para reconhecer plenamente o golpe de 1964, que estabeleceu um regime militar, têm se mostrado controversos há décadas.
Lula, cujo Partido dos Trabalhadores, de esquerda, tem suas origens no ativismo contra a ditadura, comemorou a vitória nas redes sociais, dizendo-se orgulhoso dos artistas e da democracia do país. Outros legisladores, figuras políticas e celebridades rapidamente se juntaram a ele.
Bolsonaro, por outro lado, rejeitou em uma entrevista em janeiro com a Bloomberg News, dizendo que ele “nem sequer iria perder meu tempo” assistindo a um filme que só contava “um lado” da história.
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Seus partidários também lançaram um boicote não oficial aos cinemas, enquanto Marcelo Rubens Paiva foi atingido por uma mochila e teve uma lata de cerveja atirada contra ele durante um bloco de carnaval em São Paulo, de acordo com reportagens de jornais locais.
Ao longo de sua carreira, Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que chegou à Presidência em 2018, celebrou o regime militar que governou o Brasil até 1985, deixando de lado os desaparecimentos, assassinatos e abusos de direitos humanos cometidos pelo regime. Durante essa eleição, alguns de seus apoiadores mais radicais pediram abertamente o retorno do regime militar.
Em fevereiro, pouco mais de um mês depois de a atriz Fernanda Torres ter ganhado o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, o procurador-geral da República apresentou acusações contra Bolsonaro e oficiais militares que serviram em seu governo por supostamente planejarem um golpe após sua derrota.
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Ainda Estou Aqui tornou-se o quinto filme de maior bilheteria da história do Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional do Cinema. O filme também foi um fenômeno de crítica e público, recebendo ótimas avaliações no Brasil e no exterior.
O raro sucesso de um filme brasileiro no cenário mundial transformou-o até mesmo em um dos principais temas das maiores celebrações de Carnaval do planeta. Até domingo, apenas uma outra brasileira havia sido indicada ao Oscar de Melhor Atriz - a mãe de Torres, Fernanda Montenegro, por sua atuação em 1999.
No Rio de Janeiro, onde se passa o filme, grupos de foliões - muitos com máscaras de Torres e fantasias inspiradas no filme - interromperam a festa brevemente para ver o filme fazer o que nenhum outro filme brasileiro havia feito antes.
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